quinta-feira, abril 07, 2005

cidade adolescente

Lembro-me de que certa vez um de nós decidiu começar a falar sobre as pequenas coisas que inocentemente alteram o rumo de tudo. Lembro-me de que ao fundo se podia ouvir uma música, talvez a mais bonita que alguma vez tenha ouvido. Era mais um fim de tarde cinzento na cidade que tão bem desconhecemos e acredita que por momentos pensei que era ali, precisamente entre nós, que as grandes ironias da vida se haviam decidido juntar e dizer, Estamos aqui para vosso deleite pessoal.
Com algum despudor decidi perguntar o porquê. Como resposta levei um soco no estômago. Não fazia sentido – é esse o papel que o absurdo não se inibe em representar. Compreendi que tinha de aceitar a minha humanidade por aquilo que ela é. Foi, sem dúvida alguma, um dia estupidamente concreto. Durante horas a fio falámos do nada numa adolescente tentativa de racionalizar aquilo que era devastadoramente maior do que nós alguma vez poderíamos ser. Tenho a certeza de que é nessas alturas que se morre sempre um pouco mais. Mas não desisti. O desafio consistia em tentar o impossível. E tentámos, como em tantas outras vezes o havíamos feito apenas para chegarmos à mesma conclusão de sempre:






Amanhã tentaremos um pouco mais.





(P.)

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