domingo, março 26, 2006

Crítica a O Meu Pai

Um coágulo de sangue começa a formar-se na garganta, impede-o de respirar, mas, de repente, tudo se altera e sai vomitado todo o espírito flagelado, COSPE-O! COSPE-O!

Caros telespectadores, é oficial:

- J. acaba de concretizar o primeiro poema neo-geno-monalítico-moderno-desenfreado. E é, como não poderia deixar de ser, uma concretização hímnica que acordou do mundo dos mortos o fantasma de Hoderlin, que se encontrava ainda fechado nos confins da mais negra torre de marfim. E que poeta! (referindo-me a J.)
Ponto de situação: se estiverem a fazer o pino no preciso momento em que lêem este delicioso O Meu Pai, certamente já terão percebido que, perante vós, está um poema que do ponto de vista pictórico mais parece um autêntico plano dos passos de dança a concretizar durante uma qualquer aula de sapateado para a 3ªidade, na casa de saúde lá do sítio; mais, se o mundo fosse justo, J. teria postado este mesmo poema várias vezes, de facto, sou apologista de que o deveria postar continuamente de tal modo que tome conta d’A Navalha; na verdade, e antes de passar ao poema propriamente dito de uma perspectiva estética, creio que é meu dever dizer que a minha vontade é desistir de escrever neste blog pois após a leitura de tão brutal poema não mais me sentirei digno de partilhar o mesmo espaço bloguístico com o meu caro mestre, J. (só não o farei efectivamente porque as remunerações com pensam e a vida está cara).
E prontes, resta-me dizer que deste poema brotam a rodos dúvidas existenciais. Que Pai será este? O pai de J.? Deus? Ambos? Uma personificação de um anjo mórbido qualquer? A minha gata? Bem, sabemos apenas que é…Pai. E que dizer do amor que vigora em todas as estrofes, numa construção plena de êxtase. De contemplação! A admiração de J. é admirável e isso é algo que admiro.
Como dizia Noam Chomsky, na sua obra A Manipulação dos Media (1991): “Todos eles são mudos”.
É verdade, mas este Pai, pai? Pai. é sublime. Reparem agora no quinto verso quando J. diz, tão simplesmente…”tu”. Seria ridículo pensar que não há um piscar de olho ao esoterismo da maçonaria e suas ramificações na sociedade portuguesa. Não percebem? Recuem então um pouco e leiam a passagem em que J. revela “feliz paizinho”. O meu coração bate mais forte, entorpecido, magoado mas sorridente, ao pensar na imagem mental que isto desperta - a imagem de uma criança esfaimada durante os meados do século XII, durante o cerco de Lisboa pelos mouros, que olha para seu pai, cavaleiro armado choramingando…feliz paizinho. A beleza! Que delicioso, creio que J. terá demorado anos na elaboração de tão famigerada contemplação; resguardou-se, preparou o mundo para a libertação do seu primogénito, e zás, aqui o temos, um grito para a eternidade. E que grito, este. E que grito…
Mas precipitemo-nos para o fim: a sequência final é absolutamente devastadora. Num momento somos dizimados com a questão em tom afirmativo de “pai ou pai”, ficamos atordoados, sem saber o que dizer, quase implorando por um pouco mais; essa satisfação surge, enfim, num gesto de generosa divindade por parte do Poeta (J., se bem se lembram), ficamos num suspiro final a saber devoção total do nosso predilecto autor, “tu sempre!”.
É isso que te concedemos, Ó ronco fulminante, poeta felino, seu astro milenar. A J.
Tu sempre!






P.

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