quarta-feira, março 28, 2007

Dia Mundial do Teatro

Cheguei atrasado à faculdade e decidi entrar pelas traseiras, já que a sala ficava mais perto. Na rampa de terra batida depois do parque de estacionamento, ao pé da porta, um sofá, velho de encosto alto, de cabedal castanho. Lembrei-me imediatamente da marquesa de médico que o meu amigo Rudy tinha encontrado no meio da rua e levado para casa para fazer um fantástico assento improvisado, e pensei Se tivesse uma cave ou um quarto maior, eras já meu. Saio da aula de fiscal quarenta minutos depois para ir ao bar tomar um café, e deparo-me com o mesmo sofá, bem no meio do espaço, atrás de uma porta transparente de madeira. Os tertulianos estão outra vez a fazer das suas, pensei, mas já nada me surpreende desde os carris em direcção a uma sanita bem no meio do átrio principal, com cartazes a dizer O CAMINHO PARA BOLONHA. Fumo o meu primeiro cigarro desde a segunda feira da semana passada, e abalo para comunitário receber a minha negativa estúpida, um nove tirado por uma unha negra, já que yours truly estava, nesse dia, digamos que não nas melhores alturas para fazer um teste. O bar, de novo, para tomar um café. Alguém quer ir ao bar? está lá um sofá. Lá estás tu com as tuas ideias malucas e o teu corpo e sorrisos tão perfeitamente esculpidos, disseram-me os indigentes. Ai não acreditam? Desta vez não estava só um sofá. Um matulão de um metro e noventa gritava frases trabalhadas a martelo com uma miúda vestida à yuppie dos anos oitenta com ketchup no lábio. O horror - era uma peça de teatro, e a porra do sofá nem sequer estava a ser usado. Isto se é arte contemporânea daqui a nada eles vão inventar uma desculpa para meter mamas ao barulho, disse eu. Depois de terem visto o sofá, decerto - acreditavam em tudo. O final veio estranho, enquant acendia o segundo cigarro e sorria á Íris, que me fez entender que aquilo era uma peça de teatro organizada pelo cénico de direito; o que fez com que nesse momeno tivesse suspirado de alívio ao nunca ter de facto para lá entrado, apesar de muita vez ter pensado nisso. Os aplausos foram frouxos, não percebi como acabou, fui para o meu primeiro café desde segunda feira da semana passada - de novo, a interrupção destes rituais teve sentido. O resto do meu dia foi relativamente banal - não fui à prática de obrigações, adormeci na cama dos meus pais a meio da primeira parte do jogo portugal - sérvia, e comi espetadas para o jantar - coisa incomum. Mas o melhor momento do meu dia? Ter visto a Íris, vestida de sopeira-dona-de-casa, com o cabelo meio seboso e um fantástico par de seios metidos dentro de uma bata que só a minha avó, de tão roxa, tão cinzenta e tão velha, usaria.


J.

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