Boxer
"Foi há um milhão de anos."
Os livros amontoam-se um bocado caoticamente pela mesa redonda da sala dos meus pais. E... a tua mente corre como um profissional, como se fosse há um milhão de anos. Como? Sinto a boca tão seca. Mata-me a sede em silêncio como se a matasses há anos. Vamos fingir, indulge me nesse aspecto, antes que volte a cismar no que não tenho; e me vire, no sofá, e tu e eu voltamos a estar longe como se estivéssemos separados por anos.
Na verdade, estamos só separados por personalidades.
Não é tão estranho? Eu dei tudo de mim para compreender tudo, tu deste tudo de ti para sentires tudo sem o compreenderes.
Mulheres.
Deus, as mulheres são tão estranhas e fascinam-me tanto. Não compreendo quem gosta de mulheres pelos sentimentos maternais que despertam. O quê? Não. Estamos separados pelas nossas personalidades, e, quanto a mim, só sinto um ardor na garganta e a vista enevoada quando te vejo ao longe.
Mulheres.
Imagino isto: a falta posível de diálogo com a minha outra parte. A possibilidade, ainda que muito ténue, de nos fartarmos da pessoa que amamos simplesmente porque amámos tudo o que havia para amar. E agora? Será que é possível?
Os artigos sucedem-se na espiral confusa como me alas a tua língua, através das tuas insinuções e das uas expressões faciais e corporais. Hum... Há muito que dormi para esses aspecto. Saltei de telhado em telhado, foi só isso. A dançares pela casa, pela minha casa (agora estamos no futuo) mas que eu não te conhecesse. Era eu um pintor, eras tu...sei lá, estás com um vestido floral de cores mortiças, rasgado. Foi, parece que foi, e foi mesmo, há um milhão de anos. Os teus gritos no sexo são tudo o que eu quero ouvir. O silêncio faz o resto.
Os livros acumulam-se com os exames.
As mulheres meteram-me a vida a método B.
J.
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