sábado, abril 09, 2005

onirismo.

E longo quando era menos esperado, eis que nos despertam do nosso já longo sono e nos trazem de volta à realidade. Pois bem. Cá estou eu. E algo vai acontecer em breve. O caminho da harmonia é essencialmente marcado pelas circunstâncias e estas insistem em tiranizar o pensamento. Olha-me nos olhos com atenção, por favor. Consegues ver a alegria no meu rosto? Passei anos a criá-la e ela parece-me agora tão pérfida, tão brutalmente mentirosa. Tens alguma ideia de quanto vale o abraço que antecede o último suspiro? – Talvez seja esse o poder de um adeus. Mas, sabes, todo o tempo que leva a dar vida a uma memória só ganha sentido nesse instante e o meu único deseja era ter a capacidade necessária para o eternizar. Mas não. Percorro dias intermináveis no mesmo constante limbo tentando socorrer-me na força das palavras mas nem mesmo estas terão a tenacidade suficiente para me salvar. Mas deixa as sensações fluírem com a mesma simplicidade que te trouxe até mim.
Para lá dos sentidos há uma outra existência que anseio por conhecer.
Mas ainda não sei o que é a beleza e sinto-me fraco por ter perdido tantas horas a tentar teorizá-la. E se há em mim lucidez suficiente para a poder observar, então quero abdicar dela, neste instante e sem receio, apenas para a poder sentir lentamente. E quero agora curvar-me perante ela – e que parca noção de beleza será esta que me faz acreditar que lhe posso tocar?
Vou fechar os olhos enquanto a dedilho suavemente e, quem sabe inocentemente, esperar pelo momento em que a poderei acolher nos meus lábios e, com um beijo, a eternizar.
E no fim de tudo isto não me restarão palavras. Apenas ternos gestos que serão a única explicação plausível para o que é, tão irremediavelmente, inexplicável. Anda, vem comigo fazer do hoje o mais terno prenúncio para o que se seguirá. Estamos aqui. Somos únicos. E não dar agora o passo em frente será como desistir. Talvez por isso penso agora que, ao contrário do que em tantas outras vezes acreditei ser a verdade, não fui, não sou…talhado para desistir.



Anda, vem ensinar-me o que é a beleza.





(P.)

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