sexta-feira, julho 22, 2005

contos do oculto, parte I

Ele há um tipo sinistro num café onde costumo ir com a minha namorada. Praticamente sempre que lá entrámos o tipo estava lá, a beber cerveja, a fumar que nem um cão. Só faz pequenas pausas para pedir a chave da casa-de-banho para ir verter líquidos. De vez em quando muda de lugar, de manhã, de tarde, tantas vezes o vi. It’s creepy. O tipo tem sempre a barba por fazer, nunca o vi com companhia. Já nem sinto pena dele, apenas me assusta. Usa sempre o mesmo casaco azul, tipo fato. Nunca o ouvi falar, embora presume que o faça. É óbvio que está desempregado e nem sei ao certo se tem culpa disso. Deve ter medo do suicídio óbvio, portanto mata-se lentamente. Compra um pacote com uma porrada de maços SG Ventil e fuma insistentemente. Ele anseia por desaparecer, mas está lá sempre. Está quando entramos. Saímos e ele lá continua sabe-se lá durante quanto tempo. Não o compreendo. Mas é simples. Sinto-me estúpido. Mas ele existe. E subsiste.

E eu ainda não sei o que ele lá está a fazer.

Pouco importa: vou continuar a ir lá, com a mesma subtil certeza de que o vou encontrar. Apenas para me assustar um pouco.

E assusta.



P.

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