Fuga-cidade
A cidade encontra-se persistente agora que diz; diz ela assim: tenho outra história para contar. Eu sou a única que te atropela com tripas e recuos vagarosos. Como se assume. Trinca os beijos descansados – está agora mais perto, mal ela se aguenta em pé. Como ela pode completar-se. Assume-se velhinha. Venderá seu corpo ou o que o diabo escolher, lá dizia o outro, cantando. Ela não pode (como poderia?) fugir ao tédio. Tédio laico. Agora que é dia apetece-lhe andar às voltas por aí, declamar libertinagens e mordomias afins, certezas bem compostas pertencentes aos espertos dos dias sentidos entre uma garrafa de gin, um pacote de marlboro, e três ou quatro estalidos para chamar o garçon. Rapaz, meu pobre fugaz, grita para dentro do copo um outro rio de esquecimento. E se pertence ao mesmo céu deste anjo depenado e mal vestido trata-o agora por tu e pergunta-lhe que estrada o trouxe até aqui. No tempo em que o tempo demorava algum a passar, algo destas folhas outonais desprovidas de simpatia gelava como se quisessem bater palmas ao ritmo da sua própria queda livre, agora já quase suave. Foi assim. Contou ela, ao sentar-se no plano do inexistente. Comovia-se por tudo e por nada, era esse o seu lema de como subsistir sem queixume.
Era essa a sua fuga e abraçou-se a si própria, cidade estendida de formas em chama.
A sua fugacidade – por tudo e por nada.
P.
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