Presto.
"Os rumores da minha morte foram largamente exagerados" disse um dia um escritor cujo o nome não me recordo - talvez ele visse em forma de mosaicos cheios de cores o que eu agora questiono, questiono sempre - quando voltarei? porque partir deixa-me sempre diferente; não, aliás, chegar, ou o processo entre o partir e o chegar, é isso que me deixa sempre diferente.
acabei agora de ler um artigo do António Ramos Rosa, que escreveu para o Expresso, e começava e terminava duas longas extensas páginas de caracteres com frases brutais, tanto no começo quanto no fim; o que dizia, num fim esmagador para um poeta que já ultrapassa os oitenta anos, era que simplesmente, "a vida não me ensinou nada". Eu não passei revoluções, nem guerras, não tive a morte de uma mulher perto da minha cama nem sequer o mais parecido que seja a um filho. Mas a vida já me ensinou tudo, não discordando no entanto com ele. A vida, por exemplo, ensinou-me a necessidade de aprender. E a necessidade de nos modificarmos e mudarmos para aprender, permanecendo no entanto iguais. E, se eu digo, ou refiro insistentemente que o Verão me muda sempre (o mês de Agosto principalmente), então isso só pode ser verdade, mesmo que seja falso em todos os sentidos. O que interessa é que eu me sentirei diferente por ter mudado, ou justamente diferente por não ter mudado, mas ter crescido por não ter mudado, e como tal, mudado por esse mesmo crescimento - é apenas uma evolução para uma linha oblíqua diferente, talvez.
Itália não mudou nada, essas coisas nunca me impressionam, apesar de ter gostado muito. O que guardei em itália foi o medo de me ter esquecido de escrever, quando chegava ao meu quarto do hotel e me sentia demasiado cansado para cumprir aquilo que já considero ritual, que é escrever pela noite dentro, e medo, um medo palpável, de me ter esquecido de escrever, ou de segredos que vou decifrando. Talvez tenha aprendido a ver o mundo de forma diferente - pois é possível que a vida não me tenha, de facto, ensinado nada até agora, mas tenho decerto aprendido muito com ela.
mais um exemplo: aprendi que quando voltar, por mais diferente, ou não, que esteja, vou ter saudades de Lisboa. Ou melhor, da lembrança que tinha dela. Do blog, dos café s que já conheço, das pessoas diferentes que vejo todos os dias, de mis algumas pessoas em especial. porque me vou embvora hoje de novo. porque cheguei ontem - e nunca passei um agosto em lisboa. E volto daqui a um mês, encerrado numa aldeia no norte que é, para mim, absolutamente mágica.
Eu vi formas neutras de beleza, em itália. Muitas. Mais do que isso, eu lembrei-me de facto do meu silêncio que tenho entre todos os meus risos e os meus sorrisos.
Lembrei-me de deixar de rimar a minha vida com intranquilidade.
inacessibilidade.
Foi por isso que quis à força comprar uma máscara sem rosto em Veneza, para a usar todas as noites, porque estou fascinado por ela. como quando comprei a minha primeira Navalha e fiz de propósito um sorte no dedo para ela passar a ser verdadeiramente minha.
Ao fim e ao cabo, itália tinha mulheres lindas, é preciso que se diga. Bem, bem melhor do que as portuguesas. Também é um paraíso para os gays porque a mesma regra se aplica aos homens - o que equivale a dizer que o P. devia ter ido comigo. Florença e Veneza foram as cidades de que mais gostei - Roma é Roma, claro, mas foram as que me marcaram.
parto hoje, de novo. É sempre um sentimento estranho, quero estar aqui, porque tenho tanto para fazer e viver aqui, mas também quero tanto ir para lá. é uma lose-lose, win-win situation. Complicado, acho eu. Vou deixar de ver amigos e fazer novas cenas para onde quer que vá. Mas vou - que fico qui a fazer? E de qualquer modo não ficaria. Portanto vou, despeço-me, era para ir amanhã mas os meus pais acabaram por decidir ir-se hoje, de tarde, o que só me deixou tempo para escrever aqui, tomar banho, ir arranjr as coisas (música, um ou dois livros, o meu dossier) e mais nada (vestir-me também, claro.)
Volto em Setembro se não morrer até lá, não devo morrer até lá.
J.
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