quarta-feira, setembro 14, 2005

Retrato.

Ouve: que os reflexos te sejam lentos
Ao passarem pela tua cara – eu não me importo. Que os reflexos das estrelas caiam como cobre das catedrais de uma cidade, perdida, abandonada, parada
No tempo imemorial dos corvos. Uma homenagem a ti, que não caia daí. Que te sejas simples, sê sempre simples. Ou… quem sabe, que te importem como um corte, que sofras uma espécie de sangue, mais leve. Que te envolvas nos dedos queimados, quartos incendiados por um amor culpado
Fugaz como uma cobra; fugaz como esta explicação da cobra que rasteja agora
Venenosa, eu não a sinto. Eu rastejo… e estou cheio de terra brilhante. Minerais como-os pelos poros da minha pele; e acordam-me. Como é viver, como? Como é estar vivo, se nos tornam inacabados…demasiado depressa. Como diamantes em bruto, belos mas assustadores, como o pêlo eriçado de um gato negro perante a beleza fria e repentina
De um qualquer medo, mais súbito.



Assim. Que caiam os reflexos pela tua cara em cobre, assim. Com essa leveza toda, com a suavidade de um sopro antes da vela da paixão ser apagada. Lembra-te de te teres esquecido desse ritual, dessa prece – ouve-me, se um dia quiseres de novo decifrar quem fomos. Ou quem tentámos ser, em paisagens de veludo, negras e rosas, como uma cereja. Uma angústia, um sugar silencioso de todo este sonho –


Que os reflexos cor de cobre caiam pela tua cara, assim.
Imagina-te ao eu escrever o teu retrato.






















J.
escrito de rajada.

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