terça-feira, outubro 25, 2005

Autorelocator.

ele
Chama: alguém, alguém. A sua voz está desfocada pelo vento ensurdecedor. A única coisa que sente, e que sabe que é real, é o chão de terra cinzenta, estranhamente cinzenta, com pedras pequenas por toda a volta, onde se encontra, derrotado; em desespero. De quatro, de tanto gritar, e as lágrimas de terror escorrem-lhe pelo rosto e pela barba. Não vê absolutamente nada. Nada. Está com as mãos e os joelhos no chão, e olha para a escuridão total à sua frente, à volta de si, chorando de olhos arregalados, e a boca tão aberta. Só sabe que está no exterior, no meio de uma imensidão de nada, porque o vento o fustiga, da esquerda para a direita, tão forte - e tão; incrivelmente forte. e a escuridão, total, e a única fonte de luz é um brilho forte, amarelo, que o ilumina numa esfera à sua volta, como se ele fosse a única fonte de luz em todo o plano de existência onde se encontra. Por cima de si, em frente, atrás de si, de lado - Nada, o absolutamente nada; a escuridão, Total e Absoluta. E o seu terror puro, de não saber como ou porque está ali, num momento impossível. E ouve, ao longe, parece-lhe, guinchos. Guinchos metálicos de animais, guinchos estridentes metálicos abafados pelo som do vento, ao longe, horríveis. Guinchos predatórios. há algo lá fora, na escuridão; e ela rodeia-o, está em toda a parte, e não há nada. Não há absolutamente nada excepto aquela pequena parte de terra seca onde se encontra, fitando a escuridão com a mesma expressão imóvel; pó e pedras, e o vento ensurdecedor. Guinchos, ao longe. De quatro, a cabeça esticada para a frente, olhos arregalados, a boca aberta num grito mudo.
Fitando a escuridão.
Esperando que o devorem.










03/05/03/04/10/05








J.

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