domingo, dezembro 18, 2005

prendas; luzes; crianças.

Sete foram as vezes em que te vi sorrir. Dizias tu que eu estava errado, que não era bem assim, que não daria certo ou faria sequer sentido, mas naquela tarde, naquele fim de Dezembro em que as crianças, famintas de curiosidade, já tremiam de tanta curiosidade, preparadas para abrir as suas prendas, eu pensei, E se não voltasses? – não resisti à pergunta, julgava eu poder impressionar-te com alguns truques de fogo ou apenas alguma simpatia. Uma lembrança de mim, pediste-me. Sob as luzes baças daquele Natal que não era para mim, tirei do bolso o isqueiro negro que comprara, por simbolismo, no dia em que desistira de fumar. Abri-te a mão levemente, apenas para a poder fechar já com o objecto negro nela encerrado. Usa-o bem, disse descontraidamente. E sorriste. E foi a última em vez em que te vi sorrir. Bem, tentei vir do fundo do espírito para dizer qualquer coisa de interessante, mas… foi assim, afastaste-te com esse teu passo quase elegante e eu, ali, fiquei ao frio, esperando. Escureceu mais cedo, lembro-me de ter pensado, tinhas tu virado a esquina. Se foram dias inteiros que se seguiram, não sei ao certo. Quis ficar. Assim fiquei. Sob as luzes baças de um tempo que não era o meu.



P.

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