Um texto possível de José Saramago
O indivíduo senta-se, procura confortar-se pois está de facto o nosso mundo cheio de homens desconfortados, enfim uns mais que outros, se por outros entendermos que o seu desconforto é tão real como aqueles confortados naturalmente, mas dos segundos falávamos, e se este é um nosso segundo homem por pertencer à categoria já referida dos desconfortados, então que tente ele confortar-se como fez no início desta nossa humilde narrativa, reconfortando-se, portanto, quando se senta na cadeira desconfortável, pois como ela, desconfortável, existem muitas tantas outras, desconfortáveis, às cadeiras, é claro, me refiro, primeiras ou segundas neste caso ela não o é, apenas e somente cadeira, primeira ou segunda anula-se na sua própria condição de cadeira cadeira sendo de facto. Pois o homem senta-se e à sua frente está um indivíduo normal, postura firme e fina, será este homem também naturalmente confortado ou desconfortado, ou seja, naturalmente primeiro ou naturalmente segundo, se de facto o desconforto puder ser assim aplicado, transgredido na sua própria definição de não ser, confortado por estar confortado ou confortado no seu desconforto? A verdade é que este homem, primeiro ou segundo, confortado pois já desde si à algum tempo sentado, ou desconfortado ainda assim, que se há-de fazer é a vida, corresponde pelo nome de Anacleto Silva Máximo Barbosa e Anacleto Silva Máximo Barbosa prepara-se para falar com o homem à sua frente, este será somente chamado de José, o narrador não se lembrou de mais nenhum nome exótico para de facto a esta personagem, também primeira ou segunda, talvez quem sabe mais segunda por se ter confortado tão rapidamente no início desta nossa história, mas enfim será José somente, pois José já lhe bastará para ser de facto uma personagem, enfim de novo, comemos bebemos dormimos e fornicamos e em nenhuma altura dessa nossa existência nos perguntam o nome. Anacleto Silva Máximo Barbosa prepara-se então para falar, e o que ele diz é
(continua)
J.
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