domingo, novembro 27, 2005

Experiências Shamânicas.

- Lembras-te das noites em que dormimos?
- É tudo névoa… os tentáculos do Sonho cativaram-me
- Foram experiências shamânicas…
- Encontraram lugar por todas as paisagens que percorremos, embriagados.
- As estrelas escorriam pelo céu como sangue, uma vez
- E outra, o clarão de luz espelhado nas planícies de cristal era tão grande…
- Repetimos. Os passos e os segredos por desvendar, enquanto esquecia o teu nome e via searas a perder de vista, de metal fluido
- Nos meus olhos por vezes plantavam agulhas na depressão dos ventos…
- Não sei como enterrava o sonho, não sei como me entregava ao silêncio, quando testemunhava todos aqueles assassinatos…
- Das corujas…
- Cascos de navios a insurgirem-se silenciosamente entre as ondas de cascalho deformadoras
- Tudo o que tu viste, era tudo o que eu vi…
- Ainda perguntas… Quantas vezes fugimos de cidades a arder, auto-devorando-se como vírus, os comboios a criarem os seus trilhos com os ossos dos passageiros, por entre o céu em espirais de fósseis de baleias inflamáveis…
- Percorremos as margens do rio de enxofre gasoso, de um lado ao outro
- Abrimos sulcos nas nossas veias e tudo o que escorreu foi…
- Seiva cinzenta…
- Pensamentos impuros de menstruação…
- Esperma da cauda de cometas que vi, da vez em que estávamos presos a um quadro vivo, verde acinzentado e rosa, e éramos árvores…
- Agarro-te; agarro-te agora que não me podes fugir, escapar, porque ainda ouço vozes
- As vozes…
- Cassandra Gemini
- A nossa cama era um destroço à deriva, rasgada pelos sulcos dos bambus afiados que dela irrompiam, cada vez que não existia não mais luz
- Outros negrumes envoltos como líquido nas penumbras dos nossos corpos…
- Não sinto mais o frio das cataratas de azoto líquido na periferia daquela cidade de espigões de cristal
- Perdi-me no Tempo; perdi-me enquanto me nasciam Luzes nas íris, outrora apagadas pela bruxa que te raptou, cravando-te as suas unhas como lanças em planaltos ondulantes e pantanosos, tóxicos
- Neptuna Aries…
- Foge; temos de fugir – rápido, rápido, antes que nos encontrem, temos de nos sentir todos fora daqui e sabermos se ainda somos reais, antes que descubram que os pontos magnéticos que existiam nas nossas mentes são afinal buracos negros, vem, vem por favor comigo, desiste do Sonho, Enterra o Sonho, esquece que um dia te prometeram tudo menos o possível Eles vêm aí, por favor, responde-me, ouve-me, preciso que me digas que existo



















J.
(fim, propositado)

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