sábado, janeiro 14, 2006

Sentido.

Um dedo indicador estica-se lentamente, concretizando a função que lhe dá nome, para Este, Sueste, Este, tremendo. Se é essa a sua maneira de ser, deve ser confessada. Estende-se um corpo, prostrado, na continuação do primeiro protagonista. Ouçam-no, se ele falar, pois ele fala. É um projecto que se quer.
Os monstros de hélio soerguem-se.
Vermelho, azul, vermelho, azul; preto. Cinco figuras – pertenças não apocalípticas de uma inexistência reinventada Compostos os intervenientes, podemos agora passar à narrativa amarga que os originou:

Génesis 1: quebra entre 26 e 27. Bastardo impróprio, também Adão de seu nome, ponderou salvar a humanidade, apenas a sua, da perdição – no tempo em que o sexo ainda não o era. Profético. Vendo-se sozinho, condição imposta a todos quanto são criados longe da realidade vigente, Adão não era ainda homem, não era ainda ser, quando tossiu pela primeira vez. Fê-lo cinco vezes, cuspindo sangue roxo, criando assim, na divindade que não possuía, os cinco filhos monstruosos que viriam a ocupar o seu lugar. Levaram-no assim – bestas disformes – , amarrado, para o alto de um grande monte e lá fizeram dele anjo negro, que assim desceu do céu, como se de uma nuvem se tratasse; habitava um arco-íris nas suas costas, e o seu rosto era um sol, uma estrela infinita, e os seus pés eram como colunas ardentes – preparadas para esmagar, vergar, todo um tempo que já o era, mas que não era devido. Fez-se o anjo negro, de asas decepadas, e do anjo negro se fez eremita. O irmão perdido tornou-se O vazio e de fontes altas veio a ordem:

Vaguearás.







P.

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