Young Bride Magazine
Ela lê revistas de noivas no comboio; em hora de ponta, caem-lhe os óculos pela face. E Ela quer sonhar, como se o mundo não existisse mais à sua volta, com o homem dos seus sonhos. Não sabe quem é, não sabe quando virá, mas já planeou o casamento. Até a aliança, faz-me graça, pensar nisso – viu-a, na vitrina de uma loja na rua do Ouro – mas ele terá dinheiro para a comprar, porque ele será perfeito; ele será perfeito para Ela, porque ela imagina-o desde que se conhece, alto, bonito, como se não envelhecesse nunca; os vestidos, entre as velhas e os miúdos e as pessoas cansadas e os bebés que choram e todas as horas de ponta que percorre todos os dias, sempre sentada (tem essa sorte!), Ela sonha com ele, Ela, de cabelo apanhado, roupa casual, sabendo que, um dia, terá sorte. Que ele virá, no meio da rua, e perceberá que a quer para a toda a vida, mesmo que ainda não saiba o seu nome – mas ela rápido, rápido, o dirá. Puxando os óculos para cima, sorrindo, tentando não mostrar o aparelho, e dirá, Olá, algo assim, sinceramente, já percebeu que, nesse caso, não importa o quanto imagine – não sairá nada, porque Ela se conhece. Mas será dele. Porque é assim que imaginou a sua vida, e é assim que ela se passará. Ela será feliz para sempre.
Lendo, em hora de ponta, revistas de noivas no comboio.
Arcade Fire, rebellion (lies)
J.
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