sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Depois do Riso

- Que aconteceu…?

- Uma esperança contida; desfiz-me em ópio. (acende um cigarro lentamente). Não te sei bem dizer a miragem que vi, como era, mas o seu nome

(“foi lá que te vi”, entre o interlúdio de som e silêncio, enquanto tudo corria mal e os tempos do Sol e Noite se misturavam com outros pedaços de mim, arrancados, enquanto me via no meu próprio olhar reflectido no teu)

- Tens de descansar, tudo o que se passa é uma curva de incerteza, enquanto lhe agarras a mão, murmuras outro nome, te desfazes no suor de uma imagem, de um sonho, porque

- Peregrinar era algo distante?

- Isso mesmo, porque peregrinar era algo distante, estava reservado a outros momentos em que, um dia, serás mais que eu, e tu, e nós mesmos.

- Disse-lhe, Deixa-me segurar-te nos meus braços enquanto a tempestade de som não passa e assim cegarmos ante toda esta paisagem de carros e pessoas e prédios e céus desconhecidos à nossa própria eternidade

- Mas não te ouviste.

- Mas ela não me ouviu.

- Que te aconteceu contigo, não perguntes, não me respondas aquilo que não queres tu próprio saber, inconstante,

- Mas peregrinar era algo distante

- Daqui a um ano vais-te lembrar de como te voltaste a sentir, único, como se todos os dias que se seguissem fossem apenas feitos para ti como um corte apenas um pouco menos plausível, t

- Mas diz-me, porque é que eu não sinto o mesmo, porque é que me sinto divido entre aquilo que não era e aquilo que sou agora, se vi o mundo a cair lá fora e não ousei esperar pelo amanhecer (encosta-se a um pilar e olha diagonalmente para o chão), como posso pedir para me lembrar para sempre?

- N:
Não, tudo aquilo que não era acontece, desfaz-se, torna-se mais real que tu se imaginares que nunca se passou contigo, não, não podes negar o sonho mesmo que o confundas…

- Comigo mesmo?

Súbito, Sol passa por entre um prédio, cega ambos os amigos, é com olhos fechados que ouve o último concelho

- Quão perto estás? Quão longe? Quão perdidos estamos todos nós?

- Eu sei essa resposta, eu sei que ainda sei essa resposta

- Quanto?

- Perder-te não é um problema. Problema é não saberes, depois, encontrares-te.

Deixa-o. Por uns momentos, pensa ficar encostado ao pilar da cidade para sempre, mas depois, enquanto se afasta, segue-o.
O entardecer, como sempre, dita o mote destes finais.












Longe ouve um riso parecido com seu
;
É tempo, sua mescla infinita.














J.

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