domingo, julho 02, 2006

_.|||||||||| parte 2

É certo: falei de tartarugas bípedes pedófilas que exortavam pessoas a deixarem tudo para trás e a seguirem-nas, criei textos só falando da obliquidade da luz numa tarde límpida sobre o tampo de uma mesa, encetei um diálogo entre duas pessoas que andava à volta de um insípido livro que não especifiquei, falei de ervas, pórticos, estradas que se percorriam como um rio e ventos num mundo deserto num post há uns meses atrás; e do ritual de uma mulher cortar o clitóris no seu quarto vá-se lá saber por que razão, e o depois desse mesmo ritual. E, com demasiados floreamentos, é certo, acabei por contar uma história acerca de uma tipa esquizofrénica que quando se passava ia para o meio de uma lixeira seguida pelo seu namorado que, penso agora talvez num impulso fetichista, a fotografava sem cessar. Mais ainda, meus senhores: cheguei a admitir que existiria um novo sentimento nunca ainda antes denominado (apesar de já provavelmente sentido por outras pessoas) ao qual não consegui ainda dar-lhe nome, chamando-lhe muito interessantemente Depois do Riso - parti-o em várias partes com histórias semi-verídicas exemplificativas e fiquei tão baralhado quanto antes. Opinei enquanto Encalhado (agora já nem tanto), falei em sonhos como paisagens líquidas e miúdos que comiam alcatrão enquanto tangos agressivos e homicidas soavam ao longe. E admiti apaixonar-me por uma esfarrapada e de pele muito morena por estar suja exactamente no meio de um campo de despejos de resíduos de uma vidreira (obviamente, estamos aqui a pensar na zona da marinha grande). E dei a um fio de baba de uma trissémica o nome de Matias. Tudo bem, tudo bem: escrevi sobre isso tudo, e sobre a minha contraparte demoníaca com um sorriso mais sedutor mas mais cheio de caninos e mais silencioso que me ficava a ver vestir todas as manhãs empoleirado na janela do meu quarto, para (suspeito) seu pessoal prazer. E ainda consegui falar sobre a feitura do pão; bem como iniciar um ensaio sobre a Palidez. É certo, é certo tudo isso. Mas eu não escrevo SÓ coisas estranhas. E, sobretudo, a forma como é dito isso parece implicar que tudo o que é estranho é mau; no entanto, não ficaram pelo menos, mesmo não gostando do que se leu, com imagens interessantes e novas que nunca passou pela existência de algumas pessoas? Não é bom saber que olhamos para a escrita não como uma forma insípida de contar uma história um passar uma mensagem mas como veículo de expressão artística?






J.

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