quarta-feira, janeiro 24, 2007

O Homem que se Masturbava a ver Passar Eléctricos

Teria alguma coisa a dizer sobre os eléctricos, mas prefiro guardá-las para mim. Porque eu gosto de eléctricos, isso não é uma tara. Eu amo eléctricos. Gostava de saber, de poder ao menos, explicar porquê. Talvez seja do cheiro a néon, e das fagulhas a crepitarem entre o arco e os fios condutores de electricidade que ouço e cheiro sempre que passam por mim, ou
Passa um eléctrico e é como se eu acreditasse que a minha vida pode ser mais, ou menos especial, apenas porque me excito quando eles passam por mim num roteiro infinito pela cidade; talvez tivesse sido isso que me excitou primeiro, a viagem, o passar e regressar sempre, todos os dias… então um dia quando o elevador da glória passava por mim, a meio do caminho (já era um hábito ficar à espera de vê-lo passar), enfiei a mão dentro das calças. Penso que foi aí que tudo ficou claro, quando senti, pela primeira vez, uma explosão indescritível de prazer ao vê-lo passar, cheio de pessoas que me olhavam com terror, pena ou divertimento, o sol, banhado e reflectido em laivos de encadeamentos nas suas cores claras de amarelo e branco e nas suas armações de metal negro sexys e bem oleadas. Desde então, tenho sido feliz por breves momentos, muitas vezes. Eu amo eléctricos. Gosto de dizê-lo. Sabe bem dizê-lo, neste mundo louco que me rodeia, nas minhas calças que cheiram insuportavelmente a sémen, o meu amiguinho lá me baixo compreende o que se passa. Como se ter esta certeza me impedisse de perder o rumo à vida, de enlouquecer; talvez. Sabe bem senti-lo quando venho de Alcântara e me passeei, à noite, onde eles dormem, sem vida mas ainda tão belos, numa orgia só minha de sensações e beleza.
Não existe beleza nenhuma na incerteza. A minha certeza salva-me a vida, quando no rossio vêm aqueles eléctricos novos cheios de publicidade eu ainda sorrio também: meto a mão dentro das minhas calças, agarro-me com a outra a um poste, e penso que sei, por breves momentos, no meio de toda aquela gente que passa e me olha com estranheza, que sou completamente feliz.


Trabalho realizado para a fanzine Fantástico Michael



J.

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