quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Nota

Return Of The Vein

Continuo a ser perseguido por imagens. Não visões: imagens. Imagens que irrompem de músicas como se fossem corpos a tentar romper membranas, de filmes que não as possuem, de frases que, de algum modo, reverberam e mostram-me outras coisas que elas não são. Continuo a ser perseguido por imagens. A música Dyna Sark Arches, sem qualquer letra – uma velha a coser mantas numa casa poeirenta no México, miúdos que comem alcatrão de olhos vermelhos, e ladrões silenciosos como ninjas que são também observadores e conhecem todos os segredos desse mundo contido nessa imagem. É só um exemplo. A rua á minha frente é um ruído – um som, uma mescla difusa de sensações e as pessoas vultos – por vezes é como me sinto de verdade, não há nenhum medo nem nenhuma ideia romântica por detrás dessas veias. Babel, apenas isto: o ângulo perto do chão e um homem encostado ao vão de uma porta aberta, luz a provir de fora, o seu corpo é uma mancha negra – esta imagem não aparece nunca no filme. Continuo a imaginar-me a cuspir sangue, num beco, num prazer quase indecente, agarrado ao estômago. Continuo a ver-me de cócoras num muro a falar com um sem abrigo cujo nome conhecerei. As minhas dores de cabeça são amarelas, o meu deslizar, violeta: é assim que penso, acho que sou cromático. As memórias, bastante azuis. Se forem de dia, com demasiada luz que elas não tinham inicialmente, e se for de noite, demasiada escuridão, como se uma câmara filmasse sem qualquer tipo de luz.
E ando a estranhar bastante: a vida está a correr-me bem. Por vezes pergunto-me qual será a cor dessa mesma ideia.



J.

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