quarta-feira, setembro 21, 2005

O Fim da Lenda.

O Tarzan Taborda morreu. Será que ninguém se lembra dele? Eu e o P. lembramo-nos dele. Rápido, rápido, alguém se lembra dele? O Tarzan Taborda era uma lenda, digo-vos. Eu ainda me lembro dele a comentar com o Jorge Perestrelo a Luta Livre, quando tinha praí os meus cinco, seis talvez sete anos. No tempo do estaca, do hulk hogan, do 1,2,3, kid e do outro coiso com saia de escocês. Era desse tempo todo. O Tarzan Taborda era um autêntico expert naquilo - ele comentava com frases do género "ora aí está uma bela dupla patada"; "um bom agarranço de tartaruga com um murro de coelho muito bem efectuado", com a sua voz prolongada no fim. Ele sabia do que falava - o Tarzan Taborda tinha sido campeão do mundo de luta livre. E, depois, foi miseravelmente esquecido.
Por onde andava ele? Ao longo dos anos foi fazendo as suas aparições. Começou a ficar conhecido pela malinha com os documentos todos de recortes de jornais que o noticiavam, sempre que ia àqueles programas meios a gozar com qualquer situação, velho, com uma grande barriga, já completamente desfasado da realidade, no seu mundo - a sua última aparição televisiva foi n'O Perfeito Anormal, com o Nuno Markl e o Fernando Alvim. Aí, o pobre do velho, que ainda mantinha em pé a sua aposta de mais de 30 anos de dar dez mil contos a quem lhe vencesse no braço de ferro, mostrou todos os recortes de jornal em que apareceu, mais uma vez; contou a história em que enfrentou o ninja chinês que fugiu de medo borrando-se todo; que só não pinou com uma bailarina iraquiana porque o Saddam não deixou, num jantar no Iraque feito em sua homenagem com o ditador a servi-lo, quando ainda era o campeão do mundo; e, sobre o único inimigo que nunca tinha conseguido vencer porque tinha muitos, muitos capangas - o Mário Soares. Nos seus últimos dias, tinha uma clínica de massagens, e gabava-se de ter não sei quantos prémios de massagista profissional. Morreu, sem ser noticiado, como um gag, uma piada viva, nunca homenageado devidamente.
Não era fã do Tarzan Taborda nem o admirava particularmente. Ele só fez parte da minha infância, e como personagem característica tinha todos os requisitos. Só me fez pena, naquele programa com o Nuno markl e o Fernando Alvim, o velhote, todo contente, a lembrar-se das suas vitórias e tempos passados, quando ainda era jovem, com um sorriso de criança nos lábios e os olhos a brilharem, empolgado a mostrar recortes de jornais com a sua fala característica. As suas fotos a preto e branco com a sua tanguinha de leopardo. Gabar-se que nunca ninguém o tinha vencido num combate, prova essa era que nunca tinha dado dez mil contos a ninguém. Há dias, partiu esta figura portuguesa, esquecido, caricato - uma memória física, humana.
Não sei que se passa comigo.






J.

|