sábado, fevereiro 25, 2006

A esperada lista: Os melhores álbuns de 2005!

Uma primeira nota: é bastante difícil criar uma lista com os dez melhores álbuns de 2005. Em primeiro lugar, porque comprei, e ouvi, e arranjei umas boas dezenas, fora os que, pelos mesmos processos, obtenho que são de anos diferentes. Ou seja, o que acaba por acontecer é simples: quando decorre o ano presente, estou na maioria das vezes a obter discos do ano imediatamente anterior ( o cd que ouço agora, por exemplo, pela primeira vez na íntegra, é dos vicious five, e, sendo de 2005, só o obtive agora, emprestado pelo P., e já não vai a tempo de ser avaliado para poder ser incluído na lista); ou, mais normal ainda, dos anos anteriores. Portanto, os cds de 2005 que comprei foram, sim, bastantes, mas nada que se compare aos cds dos anos anteriores que obtive.
O problema adensa-se quando, ao tentar separar os cds por datas que me lembro de ter comprado neste ano, ou depois de avaliar a sua data de criação (sendo exemplos injustos o trabalho dos death from above 1979, que saiu em 2004 mas que só foi distribuído em Portugal depois do festival de Paredes de Coura, apenas para citar este pequeno exemplo), reparo que poucos são os cds dos quais realmente gostei. Que quer isto dizer? o óbvio: muitos foram os cds que ouvi no ano passado, mas poucos os que de facto me tocaram. Me disseram alguma coisa, ainda. Eu já ouvi muita música, e quantos mais cds ouço, mais difícil se torna encontrar trabalhos que me deixem completamente e irremediavelmente fascinado como se fosse o primeiro dia que contactei com o Ok computer, dos radiohead (nos iniciáticos dias do meu décimo ano). Raros são os cds que o fazem. Raros são os que me prendem, me fazem acordar literalmente a cantar as suas canções e melodias, e berrá-los durante o banho, falando deles a todos os traseuntes que passam como um filho. São cds que me fazem, sem exagero nenhum, ver a vida de forma diferente - são cds com os quais crio uma empatia. Ou seja, ao passar o olhar por todos os cds que comprei em 2005 vi que, apesar de ter gostado muito de muitos, poucos (raros) foram os que me deixaram completamente de boca aberta, apercebendo-me que a música ainda é um universo infinito e absolutamente fascinante para explorar, e que me fazem (repito) olhar para a vida de forma diferente - sem exageros. Podia criar uma lista artificial de dez cds, mas cinco estariam a mais. Mais de cinco foram os cds que marcaram em 2005 (embora poucos mais), mas apenas cinco, lamentavelmente, os criados no ano passado. Por mais que goste de outros, Pô-los aqui sentir-se-ia quase como uma farsa - porque gostei deles, mas não me tocaram, tão simples quanto isso.
Última nota: de referir que a própria lista é forçada. dos cinco cds que aqui se encontram, apenas três entraram nela sem quaisquer problemas. Os outros dois entram para o que me mostraram e demonstraram para além deles - mas não me deixaram num estado tão singular, e único, que atinjo só quando ouço grandes trabalhos, como os outros três.
Mais ainda : a lista peca por defeito. Este ano de 2005 não cheguei a ouvir grandes cantores e bandas que figuram em quase todas as listas dos media num balanço final, de modo a que é uma lista cujo alcance está limitado apenas ao que ouvi. Não ouvi, por exemplo, o get thee behind me satan, o último trabalho de Sufjan Stevens. Outras ouvi, como Arcade Fire (achei razoáveis) e outras ainda (como o cd do Anthony and the johnsons, I am a bird now) detestei, pura e simplesmente, insurgindo-me contra uma onda de admiração cega que considero inexplicável. Mas lá está: são gostos.

E agora, without further ado, os discos:



1- Frances The Mute, The Mars Volta


Se o Deloused in The Comatorium foi o álbum da desocberta da banda, o Frances The Mute foi o álbum que me estabeleceu como fã incontornável e incondicional. Prog-rock no seu melhor, com toadas de jazz, salsa e funk, solos de guitarra de outro planeta, e uma música absolutamente genial com mais de meia hora, o Frances The Mute fez-me ouvir coisas diferentes, gostar de coisas diferentes, ver a música em si como algo diferente, e pôs-me até a escrever de forma diferente. Alargou os meus horizontes enquanto pessoa, e isso, se não é dizer tudo, é dizer muito.





2- Worlds apart - And You Will Know Us By The Trail Of Dead


com este cd, tive sorte: saiu no início de Fevereiro, mas só o ouvi pela primeira vez a oito dias do final do ano, dia 23. Mesmo à justa! e valeu a pena. Eu não conhecia nada dos Trail of Dead, mas pelas críticas que tinha lido, e simplesmente pelo... sei lá, feeling da banda, sentia que ir-me-iam impressionar de uma maneira muito provavelmente incontornável - e tinha razão. As melodias são luminosas, fortes, e a voz do vocalista, tão diferente e interessante - e o piano, lá no meio, a intercalar entre o forte e o calmo; cai tão bem. Não há, aliás, partes segmentadas em sítios mais fortes ou mais leves - todo o álbum é uma sequência bem estruturada de highs e lows. Após psoterior pesquisa, descobri que os críticos eram unânimes ao o considerarem o pior álbum dos trail of dead - o que me deixou curioso e quase divertido - era impossível, pensava. Então comprei, pensando mesmo assim que me ia arrepnder ao ouvir uma coisa menos boa da mesma banda, diminuindo a minha mística por ela, enquanto o enfiava num saco da fnac, o Source Tags And Codes, considerado a obra prima dos Trail of Dead.
Para meu horror e fascínio, contrariando todas as hipóteses, constatei que o álbum era, de facto, melhor. Não figura nesta lista porque não é de 2005, mas figurará na lista Os álbuns que mudaram a minha vida . Ou seja, um conselho: se quiserem ouvir ou comprar algo de Trail Of Dead, arranjem primeiro o worlds apart, deixem-se fascinar, depois comprem o Madonna (que ainda não ouvi), e o primeiro álbum, de nome homónimo, mas deixem o Source Tags And Codes para o fim. É uma viagem perfeita de Rock e silêncio (sim, neste álbum o silêncio é também um insturmento!), e será o segredo bem guardado, fechando com chave de ouro o percurso pela banda.





Scabdates - The Mars Volta


Perdoem-me o lugar comum; mas a verdade é que, com este álbum ao vivo, os The Mars Volta atingem o ponto máximo (até agora, pelo menos) da loucura desenfreada que é a sua música e os seus espectáculos ao vivo. As músicas que encontramos nos álbuns de originais são apenas miragens - Os The Mars Volta pegam nelas, Mudam-nas, dobram-lhes o tamanho, inventam em rasgos de improviso que ultrapassam a dezena de minutos, e voltam ao início, baralhando e voltando a dar, tornando as explosões de som irrestivíveis e imprevisíveis. As músicas estão cortadas ao meio, portanto saquem ou comprem o álbum inteiro - é praticamente um álbum de originais. As músicas tocadas, em bom rigor, são 3, mas o álbum corre até aos setenta e seis minutos (!) non-stop.





The Woods - Sleater-Kinney.


Grandes sleater-kinney! este trio de gajas tem mais tomates que muitos músicos que andam por aí a brincar às bandas de rock - no seu último disco é tudo mais forte, mais poderoso, e mais alto qe nos outros álbuns anteriores (que só descobri posteriormente). A voz da Carrie também é incrível! límpida nos agudos mais agudos, é sem dúvida outro instrumento e faz toda a diferença. Estas meninas deixaram-me com um bom, grande e sem floreados álbum de rock. Sempre a abrir, abriram o mote para os seus outros trabalhos e bandas semelhantes.




The Ghosts Reveries


A excepção que confirma a regra, Opeth é metal, e foi-me oferecido como prenda de anos atrasada ( Thanks Sara!) há uma semana ou duas. Mas o álbum é de 2005. E também é bom, bom como tudo - porque eu nunca pensava que as bandas de metal pudessem soar assim - num momento com riffs de guitarra fantásticos e uma fúria caracteristicamente metal, e noutro, inexplicavelmente, uma voz melodiosa e um piano calmo, sem medos, que se prolonga por minutos a fio. Para ser perfeito só faltava memso que nas partes mais fortes o vocalista deixasse aquele lugar comum da voz estúpida a imitar satã a arrotar enquanto canta...





Para acabar: Outro álbum, ou álbuns deviam estar aqui: mas o que os representa é um estilo musical. 2005 (o natal de 2005) foi, depois de ver o filme/documentário do Scorcese na tv, o ano da descoberta dos blues. Blues sujos, tocados por pretos sacanas e mulherengos que vendiam a alma ao diabo em encruzilhadas para tocarem melhor guitarra, blues dos anos 40, 50 e 60, lá para os lados do Mississipi, em que os melhores ainda eram só uma guitarra, uma harmónica, e uma voz rouca de aguardente. Muddy waters e John Lee Hooker, por exemplo, são dois artistas que agora venero, mas dos quais não possuo nenhum álbum. Vivam os blues.



Mais uma coisinha: esta lista só tem álbuns rock, fortes, a abrir, com melodias que agarram pela jugular e não pedem por favor. Outro leitor mais inocente poderá pensar que é só rock o que ouço, mas não: bandas e músicas calmas tocam-me tanto quanto a mais forte das músicas, mas nenhum cd calmo me marcou o suficiente para o colocar aqui - o que é uma pena. Longe vão os tempos em que descobria pérolas como Azure Ray, ou Loopless, ou Smoke city, e me deleitava a ouvir beleza verdadeira. 2005 foi um ano rock - e sei que 2006 continuará a ser. Os Mars Volta, desde o fim de 2004, que me despertaram um apetite insaciável por poder, e força, diferentes do rebanho. Os Trail of Dead saciaram-na bastante, sem sombra de dúvida.

















A minha avó é virgem,
J.

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