sexta-feira, março 02, 2007

!..

Estou deprimido.
Não, estou angustiado.
Digamos, entre o deprimido e o angustiado.
Foda-se, é uma coisa estranha. A depressão empurra-nos para dentro; a angústia, por seu lado, empurra-nos para fora.
Delírios de adolescente, talvez. Sim, acredito que sim – talvez, apenas talvez. Deixa-me reformular: estou deprimido e angustiado. Deprimido pelas coisas que já fui e ainda continuo a ser: angustiado, pelas coisas que quero ser e em breve não serei.
Chego á conclusão que me lamento. – portanto. Há o desejo desesperado de fugir – a angústia – não, mas a sério, fugir, largar tudo, o fugir mesmo, no meio da rua, de nada – de mim mesmo, talvez, e só parar quando a boca me souber a sangue. Quando me tiver esquecido de tudo aquilo que me angustia – quando o cansaço for maior que a angústia. Ou seja – correr durante horas
Horas
Horas.
Parar junto ao mar.
Olhar o mar, mãos nos joelhos, a respiração ofegante (meu deus, como eu desejo a respiração ofegante), angustiar-me mais. Mais.
Sentir que… como explicar.
Sentir que se gritasse o meu nome ao vento nada se ouviria.
- O vento
Só me devolveria o próprio vento.
Para dentro: a depressão. O casulo, a posição fetal. A inércia, ao contrário da acção desesperada, pela própria angústia. Maldição, o próprio desprezo pela piedade de mim mesmo em relação a mim, portanto. Um segredo que existe somente pela vergonha, mas vergonha dessa própria vergonha, e desse próprio segredo. Por fim, o
desistir.
: a depressão.
Deprimido e angustiado – o sentimento desesperado – verdadeiramente, acredita, verdadeiramente – de deitar a mochila e o casaco para o chão e fugir, mas a depressão a aumentar com a própria fuga. A desistência total de encetar, sequer, a própria fuga.
O desistir antes da fuga, a angústia somente. O aumento da depressão pela frustração, mais uma vez, do que fui e sou, daquilo que queria fazer – fugir, partir, formar uma banda, ou desaparecer e ir para um deserto qualquer, esquecer-me da própria língua.
Renegar-me, portanto. Sentir o vento salgado do mar, a respiração ofegante, o cansaço de já me ter esquecido da própria angústia, e ela regressar quando gritasse o meu nome ao vento, e o vento só me devolvesse o vento –
Tudo, tudo negado; o fim antes do começo. Para dentro. Para fora. A implosão da mente, o desistir de sequer tentar perceber o porquê. O porquê da depressão, o porquê da angústia, para dentro, para fora, foge. Não. Liberta-te, larga tudo, Não.
Delírios de um adolescente que já devia ter partido – sim, talvez, admito que talvez. Admito que a angústia e a depressão geram raiva, quando combinadas. E raiva da própria angústia, raiva da própria depressão, que alimenta mais a raiva, que alimenta mais a depressão e a angústia, que alimenta ainda mais a raiva, que alimenta
O grito ao vento.
Que aumenta;
Que aumentam
Com o próprio silêncio –

Acho que – se o fizesse, claro. Estou a escrever

Do vento
A devolver o meu silêncio.




J.

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