sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Oslo 1

Apanho o avião para Oslo com duas gramas de coca nas cuecas e um cartão inteiro de ácidos entre a camisa e a t-shirt, pouco suspeito, às oito e meia da manhã ainda os raios de sol não cegam por trás dos vidros cobertos de metal do aeroporto de Lisboa, enfio-me no avião e sento-me ao lado de uma loira de quarenta anos que vai em negócios para a Noruega e diz-me que faz isto quase todas as semanas, casada, dois filhos, um cão chamado Ruca, a aliança comprova-o, as mamas ainda estão firmes e sorri-me muito com os dentes brancos, aterro em Oslo e está um frio do caralho, antes de sair do aeroporto mando o meu primeiro ácido volto-me brinco um bocado com os trolleys sigo imediatamente para o hotel faço o check-in já imerso na viagem brinco com o funcionário a falar-lhe em inglês aportuguesado a vista da janela é porreira encontro duas miúdas na rua a quem proponho fazermos um menáge mas elas recusam de modos a que deambulo pelas ruas roubo uns cigarros de uma banca e meto-me à aventura pelas ruas de Oslo até encontrar um centro comercial, os centros comerciais em Oslo


Olhos escurecidos
Pela repentina ausência de
Inspiração
Num canto, preso com alfinetes
Uma sombra avinagrada de esperança
Em
1989.

E danças como se
Como se
Eu quisesse um pouco mais de
azul,
Ou


Há texturas, e sombras, dos mais variados tons, das mais variadas cores ou emoções.
Gosto especialmente de certos ventos. O meu preferido é o vento que acontece no fim das tardes de Verão; não sei se conhecem. Morno, leva com ele e bate-nos na cara folhas e pétalas secas, e pólenes mortos, ou enche-nos de sal quando vimos da praia, cansados, os cabelos espessos, as caras a arder


E tu
Eu? Eu o quê?
Olha para aqui. Olha para este espelho.
Estou a ver.
Que idade tens?
Espera…física ou mental?
Sentimental.
Sentimental…é difícil. Posso dizer um nome?
Podes dizer uma memória.
Certo. Como é que te chamas?



Fecho a porta e a luz que imaginei cega-me. Volto a olhar e só tenho de novo a cidade a olhar para mim.
O crescente da lua no céu do dia cega-me a inteligência de olhar em volta.
À procura, sabem, de um ponto, de um sinal cardeal.
Uma estrela polar; metaforicamente, talvez.




J.

|