A Minha Primeira Oral e Uma Breve Reflexão Sobre o Início Das Férias.
E então ontem foi a minha primeira oral do curso de direito. Foi muito interessante tanto quase como foi estúpido. A semana anterior eu andei num nervosismo de asmático, estudando algumas horas seguidas para passar à maldita cadeira em que um dia já tinha sido dos melhores alunos do primeiro ano, tudo por uma vontade de desistir do curso acompanhado por atrofios; sim, é esta a palavra, de toda a espécie. Mas fui fazer a oral, tive 9 no exame e precisava de 11 para dispensar, portanto não me envergonho da minha burrice, aliás orgulho-me um pouco dela; se fosse imediatamente um bom aluno em direito nem sequer me sentiria bem.
But then again, os que passam o primeiro ano com as cadeiras todas feitas são menos de metade. Bem, eu não o sei. Direito está para os leigos como o action man para as meninas; ou melhor diria antes que é como futebol, qualquer um pode jogar poucos conseguem ser mesmo mesmo bons.
As minhas comparações são horríveis.
Bem não importa… tive de ir comprar um fato, tive de ir comprar uns sapatos, tive enfim de comprar uma nova expressão para usar com a minha cara que, se dantes era perfeita para estas ocasiões, agora, com a minha "barba à margem sul", como me disse que era uma leitora deste blog, eu parecia mais "negligé", e isso era mau; as circunstâncias que me fazem tomar este raciocínio é que ele é o próprio raciocínio dos júris. Qualquer um pode ir vestido como quiser para uma oral, mas pode correr o risco de o júri não gostar, de o chumbar imediatamente, de o lixar ou de recusar-se a fazer uma oral, se alguém rapaz não for de fato. Quantos às mulheres, basta uma mini-saia e qualquer coisa assim (sugerem-se bem curtinhas) para surtir o efeito desejado, e mais que desejado. Então tive de basicamente ir comprar o raio do fato.
Bem no dia anterior estava mais nervoso do que para os exames, e no dia a seguir também não estava nada melhor; muito pelo contrário. Todos os meus amigos me deram força e disseram que eu me ia safar na boa pelas minhas capacidades discursivas, mas a verdade é que isso numa oral de direito é apenas um bónus, a verdade é que se alguém não souber bem a matéria (e nunca na verdade ninguém sabe) é maltratado, espezinhado e massacrado. E gozado.
Eu estava com um casaco azul-escuro e umas calças quase pretas, uma camisa rosa muito clara, quase branca (dito parece mais gay ainda do que quando se usa, é engraçado) com uma gravata vermelha com algumas, finas, riscas brancas diagonais. Pronto estava bem foda-se, estava giro e etc. mas olhei-me e pensei, meu deus joão, no que terá que te tornar um dia; fiz mais uma vez a prece que algo acontecesse na minha vida para que esse dia nunca chegue, o dia em que tenha de usar diariamente um fato.
Bem isto já está a ficar grande. Fui logo o primeiro. O júri era o professor pequenino da sub-turma 14 e o meu, o Mestre João Espírito Santo (embora eles tratem-se por doutor mais frequentemente). Fui logo o primeiro, e pensei logo, isto vai dar merda, porque a minha prof de economia disse-nos um dia que ser o primeiro ou o último nunca era nada bom. Mas a minha oral foi a mais surreal de todas. Dizem que na faculdade há alunos que são falados entre os professores pelos corredores, mas eu não acreditava que fosse o meu caso nem sequer logo no primeiro ano; e não deve ser também, mas pelo menos foi estranho. Ele pergunta-me, o doutor Espírito Santo foi tomar um café, quer começar sem ele ou prefere esperar? Eu disse que começávamos logo, porque era ele e não o meu prof que me ia fazer a oral; como tal, seria quase uma mostra de descrédito ao seu trabalho esperar pelo meu professor.
Bem, ele começa por me perguntar se tenho alguma matéria preferencial; eu tinha muitas mas estava tão acagaçado que disse que ele podia começar por onde bem entendesse, eu de momento não estava a ver nenhuma (estúpido, a interpretação, a integração de lacunas jurídicas, o Direito e a Moral…) e ele começou pelo princípio. Respondo bem à diferença entre direito objectivo e subjectivo (é raro eles não fazerem nenhum reparo às respostas) e o homem larga a bomba. E diz-me ele que
Diz-me ele Olhe, João… estou a ver aqui a sua nota, tem 12… é uma nota bastante razoável, e… parece-me de facto ser um aluno bastante inteligente. Se não se importava fazíamos… eu agora queria-lhe aumentar o nível de dificuldade das perguntas, fazer perguntas um pouco mais difíceis. Pode ser, está bem consigo?
E que ia eu responder? Pergunta-me logo uma cena que eu nunca ouvi falar, no início. Disse que "não havia mal nenhum e passámos para a auto-tutela regime fodido, muito mais do que nas orais de anteontem, a que fui assistir. Passa-me para a interpretação ab-rogante, e a partir daí meti o piloto automático e não me lembro de mais nada.
Foi uma oral rápida. Se pensava eu que o meu nervosismo tinha acabado, estava enganado. Porque fui o primeiro estive a manhã inteira à espera da minha nota; da minha, nota. Fui comprar o blitz meti-me a ler o jornal mas nem isso me fazia passar a puta de um nervosismo. E na verdade, era só a minha primeira oral… quando disseram o meu nome e que tinha passado com 11 o meu alívio não foi grande. Apercebi-me da extrema estupidez -
Que foi dar demasiada importância a um processo frívolo e injusto de apuramento de notas, mas também, qual o mais justo é, não é verdade.
Comemorei chegando a casa, despindo o fato, e adormecendo acordando apenas às sete da tarde. Depois fui jantar com os meus pais, e eles fizeram-me sentir mais herói do que eu próprio.
Estou de férias. Há algo de diabólico nisso.
A razão: vou passar a dormir ainda menos.
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