terça-feira, junho 14, 2005

Placebo

Este post pretende inaugurar uns posts quaisquer que eu sei lá. Este não é um bom começo; mas eu queria falar de placebo, a minha banda em tempos preferida – e que raios, ainda gosto muito dela, ainda gosto, é verdade. E assim, depois de um exame de três horas, vinha eu cansado para casa porque tudo o restou ou está em aulas, ou estuda para outros exames, para escrever sobre placebo; enfim, dava-me a pica,era um post que queria escrever. É mais fácil escrever sobre placebo do que sobre radiohead, e apesar de ser menos emocionante do que escrever sobre outras bandas, não deixa de ser justamente a banda que conheço melhor – é a única banda da qual faço questão de ter todos os cds autênticos, há algo nela que ficou sempre irremediavelmente preso ao nono ano. Placebo, então.
Não é uma banda genial, não é uma banda fantástica. Placebo são aquele glam que dizem não ter e têm; não é por acaso que participaram no velvet goldmine, ninguém é assim tão inocente. Eu conheci placebo ainda não sabia sequer o que era música decente – e placebo, se não é música genial, é ao menos música decente.
No nono ano não havia ainda quase net, e eu era bastante acéfalo, era mais difícil procurar, encontrar coisas, havia bem menos dinheiro, that’s for sure. E se falo como um cota, não é por acaso, em cinco anos as coisas simplesmente mudaram bastante, eu sinto isso. Conheci placebo encostado a um dos bancos de pedra do campo do meu carinhosamente odiado antigo colégio; nessa altura eu não era minimamente nada do que sou agora, nem um pouco. Se tivesse toda a teoria, todo o pensamento de saber o que queria ser, sentia que o meu colégio me prendia, não me deixava evoluir como ser humano. Foi aliás o que me fez sair de lá, mas de volta a placebo. Digo que não era uma pessoa interessante porque me comparava com as pessoas que achava que o seriam; musicalmente falando, cinefilamente, etc. para mim, essas pessoas era o bernardo e a mariana, pessoas que eu de facto achava muito interessantes, mas estranhamente nunca me quis aproximar deles. Digo, estranhamente – é o que muitas vezes pessoas fazem, à força. Não, nisso sempre tive alguma dignidade. Lia bastante, mas música não ouvia nenhuma. Ouvia bastante (vergonha, era miúdo) silence four, e tinha descoberto linkin park, quando ninguém ainda o ouvia – o cd tinha acabado de sair, e eu, como não conhecia mais nada, achava aquilo simplesmente a melhor coisa do mundo, o rock mais a abrir que conhecia. Um ano depois, a medo, voltei a pôr o cd a ver se ainda gostava do que lá estava e até me ri por achar cada música vazia, nojenta, de riffs simples. E se eu ouvia linkin park foi na altura que ninguém ouvia, e que passado uns anos começaram a ouvir, porque aqui em Portugal a panca por essa banda horrível é também tão forte. Mas eu não considerava linkin park edge, outstream (nem sabia o que isso queria dizer) ou o que quer que seja.
Por acaso outstream… fui eu que inventei essa palavra… nunca a ouvi em nenhum lado. Sei lá, é mais fácil do que dizer emo, ou indie, ou alternativo – é outstream, o oposto de mainstream.
Não considerava outstream porque simplesmente o bernardo e a mariana não o ouviam – quando andava nos maristas, admito, as minhas referências eram aqueles dois, no nono ano andavam completamente pancados por korn, e eu simplesmente não sabia o que era. O Gonçalo também os ouvia bastante. Eu não fazia a mínima ideia o que era korn, fui ouvindo umas coisas – simplesmente não dava para sacar nada de lugar nenhum, ou se comprava o cd, ou se viam todos os programas de música, ou nada feito. Eu conhecia muito pouco de tudo, para dizer a verdade, mal conhecia nirvana, é verdade – conhecia a lenda, conhecia algumas músicas, nada mais. Desconhecia eu que, lá fora, miúdos como eu mas em escolas oficiais já os conheciam desde os 12, 13 anos.
E de volta ao banco de pedra nos campos secundários, sei que era num intervalo de almoço, sentei-me ao lado da mariana que ouvia o que quer que fosse; eu não o sabia. Perguntei-lhe o que é que ela estava a ouvir, era placebo. A minha primeira reacção foi dizer que aquilo era uma mulher com voz estranha a cantar. Não sei muito bem explicar o que se passou, não fiquei agarrado. Mas esse foi o meu primeiro contacto com placebo, e o albúm era o black market music, álbum que agora ouço – queria ouvir o without you I’m Nothing, mas esse e o primeiro estão emprestados ao Coisão (piscadela de olho para a Ynês). Pensei que placebo devia ser uma banda obscura qualquer que ninguém devia ouvir. Mas eu gostei muito, a mariana deve ter curtido que alguém gostasse da sua música (umas semanas atrás dizia-me, quando lhe perguntava o que estava a ouvir, Goldfrapp, Mas tu não conheces goldfrapp?? Como é que é possível? E de facto nunca tinha ouvido falar de uma das minhas bandas de hoje preferidas de electro. Um gajo muda, evolui, cresce, quer-se mais. Eu cresci muito para a música.) a música dá muito a uma pessoa, ponto final. E penso que me emprestou o álbum – emprestou-me o without you I’m nothing, quando comprei depois o black market music.
Eu ouvi o black market music (quando não tinha muito dinheiro nem tinha net, nem tinha conhecimento musical para comprar mais nada) durante umas férias inteiras de verão , e antes disso, até ao final do ano, até ao ponto do enjoo total. Depois pu-lo de lado dois anos até voltar conseguir a pegar nele, mas ainda hoje é raro ouvi-lo – quando ouvimos muito um álbum, tudo o que ouvimos dele, ele já nos deu, de cor. Safam-se poucas, pouquíssimas, bandas geniais – penso nuns the doors para mim, nuns beatles para um bando de cotas que eu nunca percebi porquê gostarem de uma banda que parou no tempo – a música dos beatles se fosse feita hoje ninguém a ouviria, mas the doors por exemplo continua intemporal. Mas adiante.
Comprei não só no mesmo dia com um cheque disco da Valentim de carvalho placebo, como também o parachutes dos coldplay. Não me senti importante, mas sabia que estava a caminhar noutras direcções. Mas não foi placebo que mudou a minha vida musicalmente, foi um chato colega que eu tinha no décimo ano que estava sempre a dizer, Tens de ouvir radiohead, ok computer, é genial. E tudo o que eu conhecia deles era os singles, e não me pareciam geniais. Esse álbum mudou a minha vida e ainda hoje o considero um dos melhores álbuns da minha colecção, ouvi-o também muito, muito, até demais. Pensava que nunca me iria fartar de algo tão genial mas a verdade é que me fartei. Fartei e muito. E até hoje, criou-se um dilema em mim. Quando compro um álbum que acabo por adorar, ouço-o o menos possível. Pretendo “gastá-lo” o menos possível. É assim. É um dilema criado pelo músico, pelo que procura, sempre mais afinal. Mas e se falássemos de novo de placebo? Agora toca a spyte & malice. Já não ouvia este álbum há tanto tempo…
O melhor álbum dos placebo é o segundo, acabou. Eu talvez que tenha começado placebo da forma mais desordenada possível, comprei o terceiro, o segundo, o primeiro, e agora estamos no quarto. E, de todos, o without you I’m nothing continua a ser o melhor, e parece-me que eles nunca mais farão nada melhor que isso – o sleeping with ghosts e o best of, the singles, que comprei, parecem confirmar o meu receio, estão-se a virar muito para o disco e para o electro. E, se eu gosto de mudanças nas bandas, não as quero nos placebo. Eu quero placebo que são placebo, eu não quero que eles mudem! Eu quero que eles me continuem a proporcionar viagens como a de without you I’m nothing, black market music, e placebo, embora seja um disco mais de canções do que unitário. Eu quero isso, quero aquela música a abrir tão deles, e quero as baladas gays do brian molko. Quero cantar my sweet prince sem me importar da letra, quero vibrar com evil dildo e cantar por Lisboa com o P. a you don’t care about us, depois de uma trip descomunal de altos berros de break shithouse. Placebo é isso, placebo é a fúria crua e bela de lady of the flowers e Bionic. Placebo é, num rasgo silencioso de regresso ao passado, mas com a filosofia do presente, special needs. É passive agressive, e ask or answers, e acima de tudo, é Every you, Every Me. É música da boa, mas é mais que isso. Não é genial, não é menos, nem mais, é algo sentido. É a negação dos insultos proferidos ao dizerem que é uma banda sem profundidade, por alguns. Placebo é a voz do Brian, e são viagens. E têm músicas para tudo, todos os momentos da vida – mais perfeitamente, ou menos. Mas eles estão lá todos.
Deus, é black eyed.
Placebo é essencialmente o segundo álbum. Ponto final. Tendo, e querendo, hierarquizar os álbuns, without you I’m nothing é o rei absoluto, nunca destronado. É o álbum preferido de todos os verdadeiros fãs, é a obra – prima. Depois, para mim, vem o primeiro, homónimo, Placebo. Se é o mais cru não deixa de ser belo, se ainda é rudimentar não deixa de ser placebo. E há, aí sim, o glam no seu expoente máximo, tanto nas letras, quanto nos riffs, quase até na própria estrutura imperfeita das canções. E as pérolas são muitas.
Óbvio, depois vem o black market music. É talvez o mais desconexo… para mim é-me muito difícil ver, perceber isso, porque foi o primeiro álbum deles que comprei. Mas é. Não é um passo em frente, nem um passo atrás, foi um passo ao lado. Foi o tentar repetir de uma fórmula que só deu resultado em parte, e é um disco que tenta ser o segundo, mas a banda cresceu, a banda quis mais, mas penso que também quis ser placebo. O que está aqui, então, no black market music são ainda das melhores músicas da banda, parte dos clássicos, mas a coesão perdeu-se. É um disco de canções coladas, nada mais.
E o que eu menos gosto, sleeping with ghosts. Surpreendidos? Eu não, é claro. Eu nunca gostei do sleeping. Lembro-me de ter pensado mal o comprei, dois dias depois de ter saído, “vai ser fácil gostar deste disco”. E, se o que eu disse era verdade, foi também em parte uma pequena maldição. Sleeping é bom, não digo o contrário. Mas é completamente vazio. A electrónica, ainda que pouca, estraga as canções a esgalhar e tira a beleza inerente às baladas, às músicas calmas, às músicas lindas e belas que eles faziam. A voz do brian também está mais grave. Mas talvez seja verdadeiramente o piano, tão forte no álbum, com um som tão demarcado, que estraga quase tudo. Adoro o piano na maior parte das bandas, e não costumo ser crítico numa banda ao ponto de criticar os instrumentos que eles usam, do género, há aqui devia ser mais trompete que saxofone, ou, Um xilofone aqui ficava mesmo catita, hã? Nada dessas merdas, mas no caso dos placebo é diferente, e ao ouvir a slave to the wage, é notório, mas de caras, que placebo nunca precisou de um piano demarcado – o seu som devia estar menos sublimado, pois placebo sempre foram uma banda de guitarras, quer queiramos quer não o Steve Hewitt não é um baterista genial. Cumpre, mais nada. Placebo é guitarras assim como para mim radiohead é muito bateria – não é só bateria, nem é o instrumento principal, mas ninguém quase repara nela e devia, pois a música de radiohead é um todo (ando a falar sempre das mesmas bandas, até parece que não ouço mais nada…), é um portento; mas o baterista é genial – e quase ninguém se apercebe disso.
O piano em sleeping estraga tudo bem como a voz mais arrapazada do molko. Se ele antes mandava aqueles agudos atrofiados que eu gostava tanto, agora está com uma voz muito mais masculina – no primeiro álbum era totalmente andrógina, ponto. A voz dele vai ficando, não mais grave, mas mais grossa, de álbum para álbum. Tem umas músicas boas, como a bulletproof cupid, a this Picture, plasticine e special need, bem como a second sight, mas é só. O resto do álbum sabe a muito pouco (até estas sabem a muito pouco), as músicas são mais curtas, e está ali um bichinho que mói mas ninguém sabe de onde ele vem – fizeram um bom álbum ,mas está tudo errado, parece que foi uma sorte o álbum não ter sido um fracasso total. O leigo gostou, o fã não. Porque o fã percebeu que aquilo não era placebo. Era placebo degenerado, com eletrónica lá no meio. E assim, o primeiro concerto que fui a eles, soube a pouco, apesar de bom, e sempre me arrependerei de nunca ter ido a um concerto deles antes, antes do sleeping, em que cantavam mais músicas de todos os álbuns, e talvez só o dvd que tenho deles, ao vivo, safe alguma coisa. Mas este álbum perdeu-se muito, na comundade. Não se nota brilhantismo. Nota-se trabalho, nota-se tentiva de fazer algo diferente, e por isso melhor.
Mas falharam.
Mas eu continuarei a amá-los.







J.




P.S. recebi há coisa de uma semana um mail do site placebo world. Os placebo entraram agora em estúdio para fazerem o novo álbum, que deve sair lá para Março do próximo ano. Esperemos que seja um regresso às origens, mas não me parece. Das duas uma, ou temos uma continuidade da eletrónica, ou passaremos para a disco, como o disco bónus de remisturas apresenta, no seu best of. Mas eles não descansarão em paz, pois para mim, placebo estarão sempre vivos. Sem eles, não somos nada. E sem esse álbum, eles também pouco ou nada são.

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