quarta-feira, maio 03, 2006

Depois do Riso, Penúltima parte.

- Já sei: vamos rebolar pela estrada abaixo!

Era um dia de Verão, eu ria-me sem parar, e tu, entre a olhares para mim enquanto sorrias abertamente e o Tejo, ias virando a cabeça, com o cabelo a ondular.

- Isso é completamente de doidos. Espera!

Desse dia, lembro-me que me pegaste na mão, e, no meio do miradouro de santa Catarina, rebolámos enquanto lançávamos gargalhadas, e só parámos quando bati num carro estacionado, a minha camisa uma nódoa, levantaste-te, trôpega, como se o riso te fizesse tonta, e deste-me um beijo. Três horas antes estava eu, à entrada da estação de metro, a ver turistas algo idiotas a tirarem fotos com um Fernando Pessoa de Cobre. Esperava-te, ri-me, e tocava, ao longe, um fado. Mas não era em tons de fado o que passámos nesse dia, como se tudo o que passámos fosse Depois do Riso, até nos esquecermos porque é que gostávamos tanto um do outro. Não, julgo que não. Nesse dia, nessa altura, eu ainda era jovem – terrivelmente jovem. E tu sabia-lo. Sabias que eu tinha a eternidade toda para te poder amar, ou perder, e que tinha, como tu, aquela necessidade, quase selvagem, de devorar o Sol, os dias, a juventude que queria ainda ter.
Fomos almoçar entre piadas e histórias, a uma esplanada no jardim. E eu lembro-me de te ter dito

- Não te sentes abençoada?

- Eu?

- Eu sinto-me!

Porque eu sentia-me. Não sei explicar bem o porquê: mas sabia que era por tua causa, contigo, talvez o próprio futuro que desejava.
Por volta das cinco da tarde, cansada de te rires, adormeceste no meu colo. Olhei em volta. Lisboa, claro, estendia-se a toda a volta, indiferente a nós, como um palco para o nosso dia perfeito, impassível, fazendo o que sabia melhor (se bem que, explicá-lo, seja tão quase tão belo como impossível). O nosso pouso foi um banco, de jardim, dos arqueados, quando o Sol já deixava de queimar, de bater com tanta força. Vi o céu em tons de azul e amarelo, e senti na face aquela luz mágica. Depois olhei para tua – e ela também estava cheia dessa mesma luz. Sorrias, de vez em quando bocejavas, e aninhavas-te de novo no meu colo.
O futuro estava for daquele jardim, o passado parecera existir apenas para aquele momento.
Então, fechei os olhos, e adormeci também.




















Crowning of a heart









J.

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