domingo, abril 16, 2006

067

Deixou-se cair sobre o peito, era uma tão extraordinária máquina. Viveu a viagem de acordo com a euforia dos homens vivos.
Era –
assim, nociva a sua existência provocatória, perante os homens de manto branco, que povoavam os habitáculos do obscurantismo. Esperem só até que volte pois, assim, falava pela força da linguagem. E não seria prisioneiro.
Ao empacotar os livros escritos em copta pelos seus antepassados adoradores de felinos, optou por coçar o queixo (a barba a crescer), antes de finalizar com um último nó, na última caixa, catalogando-a como Frágil.
Impressionante toa aquela adivinhação.
Lá fora fechavam-se as portas do desespero. Concretizava-se a morte da noite e, das cinzas nocturnas da sua solidão, redescobriu – encontrara-se – a sua face de infância, inviolada, não mais para se prostrar.
Quem, entre todos os oradores retóricos que sentenciavam o fim de mais uma era, lhe poderia dizer, Não! Cessa de profetizar.
E Ele concordou. Ele, que já se sentia imenso, era um valor em si próprio, lei absoluta. Navegador sereno nas revoltas ondas mentais que perpetuariam a sua entrega, o último sacrifício, o final.
Deu um passo. Deu outro. e outro e outro já sem se aperceber da velocidade a que corria
Desta vez não serei capturado
Desta vez não me perderei
Não mais morrerei em vão
E acordou.
Não – nunca isso
– de um sonho, mas sim da ilusão que lhe roubara as forças: Vencerei, vencedor que sou.
E a multidão que habitava em suas veias começou a pulsar com ferocidade. Ergueu-se, ela, apaixonada, faminta por heroísmos bacocos, e, de pé, prestou-lhe homenagem.

Num grito mudo, Ele percebeu em tom de pergunta tudo aquilo que se aproximava –

Quem agora me poderá diminuir?





P.

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