terça-feira, abril 25, 2006

Discurso para ser dado no primeiro dia de ensaios se eu algum dia tiver uma banda.

Gostava de vos falar acerca do que quero que esta banda seja – este específico projecto. Mas antes de tudo gostava de vos agradecer por terem tornado um sonho meu realidade – já o terei dito a todos vocês, mas mais uma vez, oficialmente, digo-o: obrigado. Por me possibilitarem realizar algo que eu sempre quis ter na minha vida, passível de ser agarrado, com as duas mãos, e todo o meu coração, a minha sensibilidade, e a minha paixão por este tipo de arte.
E é justamente o que eu quero que esta banda seja. O que eu quero para esta banda? Simples.
Eu quero que esta banda extravase os limites do ouvinte. Muito simplesmente, quero que o deixe com vontade de chorar, de raiva e de alegria por estar a ouvir algo tão bom, tão sublime – e isso é possível, pois eu já o senti, e sei que vocês já todos o sentiram: uma vontade enorme de rir seguida de um impulso quase insuportável para pegar num instrumento e começar a distribuir SOM. Sónico, perfeito, que fale directamente ao coração, sendo ao mesmo tempo tremendamente inteligente.
Isto é o que eu quero para a nossa banda, para este nosso primeiro projecto. E sei que o conseguiremos, porque estou simplesmente rodeado pelos melhores músicos que poderia pedir para criarem, comigo, algo de verdadeiramente único e belo. Todos vocês têm a mesma sede, o mesmo desejo de fazerem algo diferente, direi épico, e sei-o, porque enquanto meus amigos, temos conversado sobre isso durante anos, desde que nos conhecemos. Quero fazer rock, sim, mas não um rock simples, parte introdutória, refrão, algo entre o outro refrão, refrão e fim. Não quero apenas os três minutos e meio ou os quase cinco minutos esticados – quero-os, se para tal for necessário, mas não quero ficar preso a nenhuma barreira. Quero que todos os dias cheguemos ao estúdio, e no fim do dia saiamos de lá, todos, maravilhados com o que acabámos de criar. Quero solos impossíveis. Quero baterias que mudem a sua cadência mais de cinco, sete vezes durante a música inteira, se for preciso. Quero um piano discreto mas omnipresente que, aqui e ali, consiga dar, só ele, o toque essencial para a absoluta e definitiva catarse – e com isso, sei que posso contar contigo. Quero fazer um álbum que não seja um álbum, mas uma viagem : simultaneamente negro sem ser depressivo, forte sem deixar de ser tremendamente melódico, uma esperança para os dias que virão mas servindo também como instrumento: nostálgico, para podermos olhar para trás nas nossas vidas, e pensarmos “quem me dera ter tido este álbum, antes, nos meus dias”. E um em que o silêncio seja também um instrumento. Quero que, quem nos ouça, tenha a sensação que fizemos este álbum para salvar as nossas vidas, com toda a fúria possível para apagar mundos, mas não quero entrar no punk ou no hardcore. Quero poder ter um interlúdio, se for preciso, de vários minutos numa música com apenas piano e coros, para depois, mais uma vez, deitarmos a casa abaixo com a nossa força. E quero que a voz – a minha – seja, aqui, apenas mais um instrumento.
Quero, no fim de tudo – não fazer apenas um álbum: quero fazer uma peça de arte, mas emotivo o suficiente para deixar os ouvintes no silêncio da sua incredulidade.
Quero o possível. Sei que o poderemos fazer. Sei que não será difícil. Porque a paixão corre-nos pelas veias. Porque sei que não sairemos do estúdio ate termos produzido um dos álbuns mais filha da putamente incríveis da história do rock.
Porque queremos. Porque podemos.
Então…vamos ao trabalho.



















J.
clair de line

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