quinta-feira, abril 14, 2005

Doves, Black And White Town

Há várias maneiras de tornar a tristeza bela; a frustração e uma juventude perdida com vários anos de revolta por trás dela – e o arrepio permanente, juro, que ainda agora me percorre a espinha quando penso nisso. Um delas seria a escrever, outra, quem sabe talvez; um dom possível falando e fazendo-nos chorar ante uma coisa tão incrível, pessoalmente nunca vi nenhuma pintura, encontro filmes verdadeiros, mas talvez apenas as músicas, porque só fornecem as pitas necessárias, nos provocam essas anamneses que julgávamos, até então, nunca sequer ter ouvido falar delas.
Refiro-me a uma música dos doves, black and white town, a mesma que usei enquanto vibrava, com os meus amigos a verem-me numa tarde de sol, com a cabeça para cima e para baixo martelando num teclado como um piano (e, que felicidade percebera que então era músico, e senti-me tão de repente cheio de tudo o que queria fazer na vida) , para escrever o meu primeiro post, aqui, na Navalha, em orgasmos constantes de felicidade, euforia, e compreensão de tudo o que me era, tendo como imagens mentais não só eu mesmo mas como também esse videoclip, tão sublime.
Penso que um dia tentei explicar a uma amiga minha de Coimbra o que eu sentia ao ouvir esta música, ainda para mais por escrito
E nestes momentos juro que só me apetece chorar a tanta beleza que acredito que ninguém sinta como eu
Mas não consegui, como queria; a música black and white town, dos the doves, em conjunto com o seu clip, é um portento; parece que foi esquecida do trainspotting como a talvez a perfeita música para um final, para um início, ou para a banda sonora das nossas vidas, a música que colocamos nos phones quando saímos de casa e começamos a correr pelo absolutamente maravilhoso porque sim. Quero absolutamente um dia voltar a fazer esses assomos de euforia, gritar em comboios ou rir-me durante incontáveis minutos em inúmeros cafés enquanto sim, talvez, esta música passe e eu, enfim, me sinta abençoado
Uma juventude perdida que é a minha
Sentir desfilar as imagens do clip que povoam a minha mente e dar-lhes as cores do vermelho, amarelo e azul de Lisboa na minha realidade
, tudo se nos aflora
e as respostas, e os assomos de escrita, e de vida e de
Sim
Realidade
Irrompem das nossas mãos, das nossas línguas, dos nossos pincéis ou canetas, das nossas câmaras e dos nossos beijos, dos nossos sexos enquanto, Eu
Passando a mão pela cabeça acariciando-me, com força
Sim, com
Muita força
Suspiro e sorrio calmamente…
Por saber que programei a música
Em repeat.







J.







Sintam a curiosidade e experimentem: doves, black and white town…com videoclip.
E depois venham-me dizer o que acharam.

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