sexta-feira, junho 03, 2005

My girl

Nunca fui muito dado a grandes sonhos – fazer deles um objectivo crónico que me orienta e, assim, me leva a percorrer os dias a tentar alcançá-los. Isso faz de mim um ser acéfalo, poderão pensar. Mas não. Pelo menos não tanto. Nem sequer me vou dar ao trabalho de reflectir muito sobre isso pois não é disso que venho aqui falar. Confesso -

Tenho um pequeno sonho.

Não sei porquê mas já há algum tempo me ocorreu mas disse-o a poucas pessoas. Não por receio do embaraço, entenda-se. Nada disse. Apenas também nunca fui muito dado a dizer o que penso. Nessas alturas, geralmente escrevo.
A verdade é que imagino a cena como que tirada de um filme que ainda não existe, mas que acredito que terei oportunidade de ver. Nunca fui a Nova Iorque, mas não, também não é desse sonho em particular que falo. Na verdade gostaria de a visitar, como se de uma amiga (essa cidade) se tratasse. É lá que imagino tudo a acontecer, tal qual como imaginei da primeira vez. Passo a explicar: Um dia, numa qualquer noite de verão bem quente, gostaria de me encontrar na companhia de alguém que me desperte o espírito, no topo de um qualquer daqueles arranha-céus que só conheço por imagens. Faria amor ao som de Otis Redding; dançaria noite adentro despreocupado, na certeza de que acabaria com um sorriso nos lábios, abraçado a quem me toca; a música a soar bem alto como se no meio de tantos milhões de pessoas houvesse um pequeno lugar, só nosso, onde nos pudéssemos partilhar em sintonia.



Nunca imaginei como seria a manhã seguinte.

Mas acho que ainda a vou descobrir.







[Pequena nota pessoal: Vim há poucas horas do aeroporto. Fui despedir-me da minha irmã. Ela vai para Moçambique, por cerca de dois meses, para trabalhar numa organização não-governamental italiana que, se tudo correr bem, se está a implementar em Portugal e da qual talvez venham a ouvir falar daqui a uns tempos. O mote é simples: por cerca de 20€ mensais poderão apadrinhar uma criança e, assim, financiar a sua educação. Esse dinheiro servirá para pagar livros, material escolar, aquelas pequenas enormes coisas que permitem a criação de um pouco mais de possibilidades para quem não as tem. Enquanto a criança estudar receberá dinheiro. E ela foi; com a ajuda de outras pessoas percorrerão orfanatos e aldeias um pouco mais longínquas, para encontrar miúdos que possam vir a usufruir do programa. Quem sabe, talvez a minha irmã esteja a dar o seu pequeno contributo, para um futuro Mia Couto. São estas pequenas coisas que me lembram, honestamente, que certos gestos valem mais do que palavras. Obrigado por isso, maninha. Boa sorte.]




P.

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