quinta-feira, maio 19, 2005

fragmento(s) - apontamento.

Ora bem.


Com as mãos nos bolsos começou a chorar
ela não sabia mentir
deu um pequeno pulo até junto da janela
trepou
sentou-se no parapeito a balançar as pernas
ela
estava prestes a cair
mas só queria ir passear.

Era uma vez
não assim há tanto tempo
e havia alguma boa disposição no ar
conheci-a
estava ela com um vestido azul
partilhámos uma garrafa de vinho tinto
sabíamos bem
que não tínhamos horas suficientes nos nossos dias.

Assobiara-me ao ouvido muito suavemente
pouco depois
ouvi um estalido de pastilha elástica
procurava algo
apenas um pouco mais sincero
alguma música ligeira e nenhum ruído
não havia ali crueldade palpável
era isto o que a satisfazia.

Não fizemos barulho
ao dançar como fazem as fadas
ela estava bem
e tinha andado por aqui
disse-lhe sem malícia
estás a perder o teu tempo
disse-me apenas
existe aqui uma certa beleza.


Pois bem.


Vamos lá testar os nossos limites
a ver se conseguimos trazer aqui a polícia
pode ser que nos prendam
por crimes de simplicidade
estávamos descalços
a brincar com o irrequietismo dos dedos dos pés
já falta muito pouco tempo
afinal de contas toda a gente precisa de companhia.




P.

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