quinta-feira, maio 12, 2005

Pedro Lomba.

Falar de Pedro Lomba é arriscar o mistério. Falar do meu professor assistente de direito constitucional é admiti-lo lenda. Há aqui um conflito de interesses. Pedro Lomba fascina-me, mas falar dele implica admitir o fascínio que tenho pelo gajo; por outro lado, o que me custa a admitir não é o fascínio pelo homem, é o fascínio pelo homem que sinto pelas razões erradas. Mas, comecemos pelo princípio? Navalharemos conjuntamente Pedro Lomba. Quem é ele, afinal? Porque raio lhe dedico um post?
Comecemos pelo princípio, como já referi. Há uns tempos atrás (meses, depois do natal mas julgo que antes da Páscoa...) andava eu a visitar blogs; coisa normal. Paro num blog que costumo visitar quase todos os dias, A Grande Abóbora (quando souber fazer hiperligações, links e cenas que tais eu ponho nos links, eu juro que ponho nos links...) um blog brasileiro mantido por um senhor com gosto musical bastante apurado, e bastante indie, Marcus. O Marcus tem o tipo de blog que eu gostava de ter mas que a preguiça e a falta de jeito não me permite ter, e quando puser links aqui, ajudado decerto pelo M., A Grande Abóbora vai ser um deles. Bem, o Marcus basicamente dizia algo assim, Descobri um blog interessante, português ainda por cima.

E eu naquela, bem vamos lá ver o blog interessante português que existe e não é meu. Bem o blog era interessante, e é porque ainda existe, chama-se Fora do Mundo. Vi uns textos, adicionei como favorite, e preparava-me para o abandonar quando vejo o nome dos autores. Quem posta lá mais é um Pedro Mexia (já conto essa história também), como também um... Pedro Lomba.
Devo admitir que fiquei banzado. Seria que o meu professor assistente Pedro Lomba escrevia ali, naquele blog? Era uma coincidência demasiado grande, e irónico eu só ter descoberto por um blog brasileiro (oh the shame, oh the shame). Mas talvez seja necessário falar-vos do Pedro Lomba, como o homem é; enfim, o gajo é, não diria um cromo mas fascina-me numa indiferença porreira, porque é simplesmente o que parece ser um gajo porreiro; mas, é claro, tal associação a essa sua pessoa está vedada aos alunos caloiros da faculdade de direito – incluindo eu.
O Lomba é um gajo que anda sempre com um livro na mão, porque supostamente lê muito. E quando digo um livro, minto em parte; ele traz sempre um livro diferente, o que me faz pensar que, ou ele lê bastante, ou apenas tem o mesmo hábito corno que eu tenho que é ler vários livros ao mesmo tempo (ok ok, a faculdade reduziu-me esse hábito à força, mas ainda consigo quatro livros em simultâneo). O Lomba tem mais de trinta anos, mas cara de puto; ou de puter (só quem é barra a inglês percebeu o que disse agora); aparenta ter uns vinte e cinco, não mais; o cabelo que usa é um misto de não penteado com uma insipidez incrível, e gosta de, de vez em quando, dar um ar de sua graça e não levar gravata para o trabalho, nesta instituição que preza tanto a merda do trato social que é a faculdade de direito de Lisboa (metam as maiúsculas por mim, sff.); ninguém faz, aliás, uma oral sem ir de fato e gravata, mas as meninas podem ir de vestido e mini-saia se o regente da cadeira for um dos cotas que por lá andam. Quanto ao lomba, ele traja de azul, para transmitir uma tranquilidade de espírito que só aparentemente tem. Ou talvez só porque goste.
Dá para perceber que é daqueles gajos que está sempre com uma piada na ponta de língua sobre tudo (puxando aqui a brasa à minha sardinha, como eu), mas ao mesmo tempo tem um medo brutal de as dizer aos alunos; um misto qualquer de Oh Meu Deus será que estou a entrosar-me demasiado com eles quando o que se pretende é uma relação professoral e não familiar com estes alunos, e também uma pitada de Não, não posso dizer isto porque TALVEZ seja abusivo demais. Não parece que o seja, pelo menos para mim, a causticidade que corre nas veias dos irremediavelmente irónicos impedir-me-ia de pensar que o gajo estaria a dizer algo ofensivo, impróprio da sua opinião como professor. No entanto, o meu professor, que só parece ter vinte e cinco anos e, portanto, transmite a ilusão que é mais “cá dos nossos” arrisca, por vezes! E o gajo tem piada, claro que sim, o sentido do homem é porreiro, mas lá está, tem medo; e então, quando a turma se ri, ele fica bastante contente e parece que se ri mais para si mesmo do que da sua própria piada, como se pensasse algo subconscientemente do genro “eh pah, esta até foi boa, consegui, eles não a acharam porca. Eu nestas coisas até tenho piada!”. E tens, Lomba, se me permites tratar-te por tu; e tens.
Outro dos tiques porreiros do Lomba é quase uma imperceptível gaguez que só os meus melhores amigos (principalmente a Renata, uma freak disfarçada de gótica) naquela faculdade me vêm imitar; juram eles, com uma perfeição extrema. O gajo manda alguns perdigotos de vez em quando, mas é óbvio que eu isso já não faço. Não é bem um carburador a começar a trabalhar, é mais… bem, é como se pega um barco, puxando o fio, aquilo é só um esticão mas vai lá. É uma hesitação na primeira palavra que ele conseguiu disfarçar quase na perfeição, usando uma técnica que é a de, basicamente, dizer a primeira palavra, gaguejar um pouco, e depois dizer outra com mais ímpeto como se se tivesse lembrado de repente de dizer outra coisa, que acaba por ser, apenas e só, uma maneira diferente de começar o seu discurso já previamente pensado na cabeça. Esse pormenor fascina-me, devo admitir. Acho que o Lomba está-se uma bocado a cagar para os alunos, não no sentido de nos querer ver todos pelas costas, mas no sentido de apenas nos ver como alunos, não curtir de paternalismos imbecis, não tentar aproximar-se da malta jovem, em suma. O que ele gosta mesmo, vê-se, é de dar aulas, e preparar bem os seus alunos; depois cada um vai à sua vidinha, ao fim e ao cabo. O que é porreiro. In a way, isso é como todo o professor devia aspirar a ser, um mestre, no verdadeiro sentido da palavra, um mestre sempre pronto a ensinar mais ainda (vê-se que o gajo adora o que ensina, direito constitucional) aos seus alunos quando tal lhe é solicitado, mas que não faz disso a sua vida; ele ensina, ponto, e não tenta ser mais que um bom professor. Isso só pdoe ser digno de louvor, mas era fixe que me desse umas notas mais fixes [suspeito uma bruta nega a caminho neste meu último teste, mas sinceramente, constitucional é uma autêntica trampa, não por causa do Lombra, mas porque, se eu já não gosto de Direito, gosto ainda menos de política, e direito constitucional, mais precisamente, Ciência Política e Direito Constitucional, é isso mesmo, a (in)feliz junção de dois tópicos que nunca curti.]
Bem, o Lomba é assim. Eu li alguns posts dele (no fora do mundo, lamentavelmente, posta muito pouco, não faço eu a mínima ideia porquê), e no dia a seguir tratei de partilhar isso com o pessoal. Nessa altura ainda não fazia eu ideia do monstro enorme que o Lomba era (qual povo com tentáculos), portanto tudo o que eu pretendia era saber se o gajo era mesmo o Pedro Lomba do blog. O estratagema que desenvolvi para o saber tem tanto de genial quanto de estúpido, e eu teria decerto coisas melhores em que pensar, mas era só o raio de uma teima que eu queria tirar. De modos a que, no final de uma aula extra de constitucional, já as pessoas abandonavam o anfiteatro, pensei, é agora ou nunca, e disse ao meu colega, o Vash, para vir comigo para presenciar o que eu presenciava, para ao menos não ser, talvez, vítima de uma alucinação e depois toda a gente acreditar em algo falso que eu dissera sobre o Lomba. A minha ideia era perguntar-lhe algo sobre o presidente francês, e usar a expressão “fora do mundo” NALGUMA frase minha, mas como o fazer, não sabia bem. Bem, ele ajudou-me nisso. Mal lhe vim perguntar o que se passava, ele usou da cortesia clássica e mandou um formalmente desinteressado brilhante “então as férias, foram boas?”
Com o meu cérebro a trabalhar freneticamente, pensei “é agora! É agora pah!”
E repliquei, com a minha tentativa de cara mais séria, um…
- Oh sim, foram boas. Um pouco fora do Mundo, mas sim, foram boas.
Ao meu lado podia sentir, quase fisicamente, a vontade do Vash se desatar a rir.
O Lomba olhou-me de forma estranha e com um sorriso meio porreiro. E disse, a entender que estava um pouco dessorientado, algo como “mas…fora do mundo? Mas…porque é que disse isso?”
Era aquilo! Era aquela prova de que precisava; e, no meu ímpeto, decidi puxar a corda um pouco mais, e arriscar.
- Há… não sei, é só uma expressão. Mas porquê?
Sorriu para si mesmo de novo e balbuciou um “nada, nada…curioso. Mas Bom, o que me queria perguntar?”
Bem, isto pode não parecer lá muito emocionante; eu admito que sim. E a história devia acabar por aqui, mas obviamente, não acaba.
Há uns dias, estava a ler o histórico do gato fedorento, e como uma maldição, vejo o nome Pedro Lomba num post do Ricardo Araújo Pereira (!). fiquei estupidificado. Carreguei no link, e apareceu-me, simplesmente, um dos posts mais famosos de Portugal inteiro, mas que eu nunca tinha ido ver, porque já extinto: O Infame. O Infame! O Lomba era um dos Infames! O Lomba foi gozado por um dos gatos fedorentos! … O homem está em todo o lado, aquele gajo com cara de miúdo de 25 anos! Quem o leva a sério com aquela cara de chaval? Depois, veio tudo abaixo: o homem escreve no DN! O homem esteve no Prós e Contras a não defender o 25 de Abril! (pelo menos, foi o que me contaram), e sabe-se em lá mais quê; o amigo dele, Pedro Mexia, é poeta; dos maus, graças a Deus. Descobri também, por acaso, quando remexia a secção de poesia na fnac do chiado. É, aliás, bem provável que já me tenha cruzado com ele.
…em suma, este é o Pedro Lomba, o Homem, a Lenda, o Mito; o Quase Gago. Um professor de quem eu gosto. E eu até vou ser, um dia, prémio nobel da literatura (é só, é claaaaaro, uma questão de tempo); mas, digam o que disserem, ele será sempre mais famoso do que eu; só por ter sido insultado pelo gato mais famoso de todos. Quanto a mim, eu só serei um dos maiores escritores que já pisou esta terra. Mas ele será sempre o Pedro Lomba.








J.
peço desculpa por ter ficado um pouco grande.

|