olá
Sentindo-me um deus abandono por momentos usando sempre minúsculas
Ou não
Um assomo criativo só por falta de competente incompetência. Se eu quisesse ser algo no mundo inteiro, seria um homem que tivesse todas as doenças do mundo que pudessem de qualquer modo irremediavelmente existir. Sentir a dor por todos os poros do corpo e não sobreviver no estado já terminal em que a morfina que tomasse estivesse embebida na própria saliva cheia de vírus que criava só poderia ser uma incrível benesse – o quadro, cru, na mesma dança já cansativa que é rebolar e cair da cama, deixar pender em gotas o lençol neste calor de verão num eremitismo de boxers do tweety há duas semanas no meu corpo só para dizer que não andava nú. Tive uma ideia brilhante, contemplava o tecto da minha sala e perguntava-me porque é que, não, risco isto, questionava-me porque é que o calor entorpecia as mentes, delirava as velhas e deixava-me perto do iluminismo pessoal. Se tivesse uma faca à mão teria marcado a palma esquerda para não mais me esquecer desse dia mas não era necessário, como toda a gente sabe, eu só me esqueço de nomes, e ainda pior, confundo-os; ou seja, estou-me a cagar para as pessoas e as suas histórias de como quase comiam aquela gaja ou como foi a primeira vez que fizeram sexo foram gamados ou descrevendo todos os melhores locais para se fumar erva, comparando-os melhor ao sítio na rua, instituição superior secular onde quer que me encontrasse com um desconhecido sorridente que já me trate por tu. E a ideia foi apagar o computador que estava em stand by no escritório, não lhe mexia desde o almoço que consistiu num prato misturado de salmão fumado macarrão cozido embrulhado em queijo derretido alho e maionese idas ao forno cinco minutos ao microondas, torra-se um pouco e o que sobrou volta para um dos nossos três estômagos sedentos de nada mais logo à noite cá em casa, nunca mais o ligar, pelo menos por umas semanas, a ideia era tentadora e perguntava-me, o que posso fazer eu, sem irmãos ou pessoas decentes que conheça nestas áreas, fazer numa desertude de casa estes dias enquanto mastigo ordenações visigóticas, polémicas do primeiro código civil de Seabra, predominância nos tribunais eclesiásticos do direito canónico à opinião de Bártolo, predominante figura da escoa dos comentadores e o maior jurista de sempre, caricaturado no traço futurista e irreverente de Almada negreiros à porta da minha faculdade pela qual eu nunca passo. Ver o sol lá fora e pensar nos dias de praia que terei quando acabar os exames, noites sem dormir porque a noite, pode ser tão bem fornicada e poemas e pensamentos e músicas aproveitadas de maneiras diferentes sejam o resultado de sexo com a noite sem pudor, filhos do esperma cultural, escrever um livro nas horas mortas que fale de uma miúda trissémica, só, nada mais, o seu dia a dia, trissémica, fio de baba a ameaçar sair a todo o momento, seria o seu melhor amigo e teria honras de personagem secundária, Matias,
Olá. Eu sou o Matias e sou o fio de baba pendente da boca da minha melhor amiga mongolóide. Ser tão bem escrito que seja um best seller que provoque nojo e admiração, fale do infalável e voilá, temos um génio só porque teve tomates de fazer algo estúpido através da já referida arte, prometo que neste post não a referirei mais.
Praia. À tarde.
Mas não tenho saudades desses tempos que vêm daqui a umas semanas nem anseio pelos tempos que já foram em que os objectivos de vida de um mais eu virgem prendiam-se com o dinheiro ou com uma boca feminina e uma vagina nesse mesmo corpo da boca que me fizesse sentir amado. O meu computador vai ser encerrado pelas semanas em que eu jurarei, sim, que não enlouquecerei, não pretendo fazer nenhuma viagem nem quero pontos finais excessivos. E todos os dias a mesma paisagem pelas janelas dos dois quartos, cozinha, duas salas e escritório, que eu observarei porque neste fim de semana prolongado sairei pontualmente em coisas já combinadas, deveres formais profissionais e sociais, parecer-me-à diferente porque é preciso imaginar outra realidade para mim. Nas noites em que a televisão esteja presa na telenovela o meu escape seria aqui, depois de algum tempo no quarto, não é triste haver rotina nas nossas próprias horas de liberdade, é apenas uma revolta visceral contra o nosso próprio corpo. Algum sofrimento. Quero sofrimento. Quero uma luta física, e perder. Se pensei que esta era uma epifania que começava justamente por desligar o meu computador
Nas noites de verão o crepúsculo pode ser do tamanho da nossa fantasia. Mas eu vou desligar o meu computador por umas semanas, e era só isto que poderia fazer, cumprir a promessa ao P. de mais um post hoje.
A auto-biografia é uma mentira completa, e quem acredita nela então vive a mentira em si mesmo/a
J.
<< Home