terça-feira, setembro 27, 2005

A Feitura do Pão.

Pode-se fazer pão de muitas maneiras diferentes. Eu como pão de aço, e fico inebriado com o cheiro do pão eléctrico. Fermenta-se a massa do pão de dinamite com os rastilhos de canela, colhida no dia anterior, e todo o processo, então, parece ter o mesmo tamanhão das proporções
Da própria infinitude. Duas partes de gelo, três partes de camélias – levamos à boca o pão quente de algodão. Os fornos provam, primeiro, o amargo do pão de cânhamo, e só depois nos dão, cozidos, as farpas de madeira do miolo ocre. Do pão faz-se o pão, que será a massa basilar da nossa vida. então amassamos o crude com doçura, provamos com as unhas a consistência da água do mar, e juntamos tudo ao papel empapado em farinha de coco, e óleo de motor. Tudo para que o produto final apresente a mesma substância e consubstância que morrem nos peixes à frente dos nossos olhos, cozinhados. Para que a côdea possa ficar uma armadura de espinhas estaladiças. E assim partimos cada pedaço e o oferecemos, barrado com manteiga de abóbora, ou doce de leucócitos. E quando, enfim, provamos o nosso pão de cabelos, sabemos que tudo começou na farinha de calcário triturado, por pianos clamando por inocência criativa. No processo ininteligível e sagrado da criação. Nenhum grão de fumo pode ficar, sem ser misturado em licor, para formar a já conhecida massa de raízes. E tudo acaba no forno em forma de altar, e então sai, na sua fúria quieta e quente, o nosso pão de conchas – que começou, a pensar nisto, como grãos de vidro, colhidos à noite, reduzidos a pó. Então, finalmente, engolimos o nosso pão de ferrugem, como o seu conhecido travo ácido. E abençoamos, num gesto apenas puramente físico, as nossas mãos podres, que criaram tal alimento.
Tão transmutador.

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