terça-feira, outubro 11, 2005

dois amigos

falavam:

- Queria contar-te uma cena.
- Então?
- Epah, acabámos. Eu e ela. Quer-se dizer, não foi bem acabar. É assim: ela foi a minha casa, vinha com aquela estúpida camisola verde, tipo tropa, que não suporto. Mal chegou começou logo a disparatar, ah eu amo-te e tal mas t és isto e aquilo e mais não sei o quê. Epah ela não se calava, mas não se calava mesmo. Comecei a olhar à volta e peguei no comando de televisão um bocado naquela e a gaja, vá-se lá saber porquê, desligou-me aquilo mesmo à toa e começou logo a atirar-me à cara que eu nunca a ouvia nem nada, que quando começámos a namorar estava sempre a dar-lhe chocolates e doces e que agora só a chamava de gorda e cenas assim, mas ela não se calava e eu naquela, ok, como é que a vou calar, e ela falava, e eu a comecei a pensar que seria bem fixe ter uma cena qualquer bem pesada para lhe atirar, e a tipa a falar, a falar, a falar, já nem a ouvia, só me doía a cabeça, do estilo, que mal fiz eu para merecer isto?, e epah, um tipo, quando lhe começam a chingar os cornos demasiado, cansa-se; e ela a falar, tipo matraca, bum, bum, bum, aquilo a bater forte na cabeça, parecia uma metralhadora ,e falava e falava, e eu já nem ouvia a tipa, não arranjas melhor do que eu e não sei quantas, que seca de gaja. Levantei-me, ‘tás a ver, aproximei-me dela calmamente, pus-lhe a mão no pescoço, de mansinho, aproximei-me para a beijar, e comecei a apertar-lhe o pescoço, e a apertar, e a apertar mais um pouco, até que passado um bocado ela se calou. Finalmente.
- Vá lá um gajo entender as mulheres.
- Pois, mas essas são as más notícias.
- Então, quais são as boas?
- Bem, acho que me estou a apaixonar de novo.




P.



(estava a ver que não se calava...)

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