Faz hoje 10 anos que Jeff Bukcley desapareceu no rio, só para encontrarem o seu corpo uns dias depois. Sem lugares comuns, sem dramatismo, sem nada demais. Só um simples obrigado pela música. O resto do post é para recordar.
sou um miúdo simples. É assim que gosto de pensar que sou, que gosto de me ver: um miúdo. Por enquanto, ainda vou tendo esse privilégio...
Não sei quando é que, um dia, vou acordar e olhar-me ao espelho, e ver uma face que não reconheço. um rosto cinzelado, uma cara cinzenta da barba por fazer, e ver um adulto. Não sei se quero envelhecer, ou não: gosto de estar assim, não sei como é estar-se mais velho. Não: sentir-se, mais velho. Sentir-me mais velho. Mais marido, mais pai, mais perto de uma morte anunciada. Não sei como é isso, sentir que dei mais um passo na jornada da minha vida. Pensava que sabia muito, aos dezassete. Mas sempre soube que não sabia nada. Agora tenho vinte anos. Vinte anos e meio, histórias para contar, e outras para tentar esquecer. Que tipo de ser humano sou? Que tipo de ser me tornei, que pessoa me fiz?
Muitas vezes gostava de ser diferente. Melhor, enquanto pessoa. Sei que há coisas que nunca conseguirei mudar. Nunca conseguirei mudar o facto de, por mais que tente ser o mais neutro possível, as pessoas dizerem sempre que não me acharam normal quando me conheceram pela primeira vez. Assusta-me um pouco a impossibilidade de ser banal. Suportável para o resto da sociedade, pelo menos. Mas não sei que diga. Não sei que pense. Não sei se devo gostar ou odiar tal característica. Porque: a vida é tão vasta... tão impossível de definir nos seus certos e nos seus errados, nos seus "talvez". Nas suas incongruências.
Ontem vi um pedaço de luz no passeio, no meio de uma estrela desenhada a pedras pretas. Antes de morrer, pediu-me um pouco de calor, e um pouco de tempo, de presente, para poder continuar a distanciar-se da realidade. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, morreu, enrolada sobre si mesma. Apagando-se. Deixando de se lembrar de ela mesma.
James Hilton, no seu livro Horizonte Perdido, de 1933, imaginou a sua utopia: um paraíso terrestre. Situou num mosteiro tibetano e a este lugar baptizou como Shangri-la. Estamos em 2007, e são agora os Wraygunn a ensinar-nos sobre utopias. Ao 3º álbum, já é repetitivo dizer que são uma certeza no rock português. O caso não é assim tão simples. Na verdade, a poderosa estrutura que compõem os Wraygunn, é responsável por alguns dos maiores exercícios de rockabilly na história da música portuguesa. Depois da surpresa que foi Soul Jam, e mais recentemente Eclesiastes 1.11, que teve enorme sucesso em terras gaulesas, Shangri-la vem tornar explícita a evolução de Paulo Furtado, desde os seus idos tempos como elemento dos Tédio-Boys. Paulo Furtado, que é também o Legendary Tiger-Man, merece, excepcionalmente, um puro lugar comum: nasceu para a música. No entanto, Paulo Furtado já não é o típico front-man. O seu trabalho é imenso, mas já não é a sua voz a mais importante. Raquel Ralha e Selma Uamusse (que entrou para os Wraygunn já com o comboio em andamento) estão presentes em várias músicas, e tomam as rédeas tão bem e por diversas vezes, como na suave Hoola-hoop Woman, ou na deliciosamente cantável Love is my New Drug. A sensualidade e elegância são elementos que crescem assim de importância nas composições dos Wraygunn. Inicialmente, chegou a falar-se na possível participação de Ben Harper. Acabou por não se verificar, mas a nível instrumental, além do português Vidal (Blind Zero), temos Matt Verta-Rey (Speedball; e uma das metades dos Heavy Trash, onde se junta a Jon Spencer) a tocar guitarra em Just a Gambling Man. O funk, o soul, o rock, ainda um pouco de gospel, tudo ajuda ao groove, às batidas, às fortes pancadas que nos dá a música dos Wraygunn. E o exercício não pára, desde o ritmo do novo singles, She’s a go-go Dancer, até ao portento que é Love Letters from a Muthafucka. Shangri-la é um disco já maturado, joga com as suas próprias pausas, os seus momentos, deixa-se balancear entre os ritmos que só dão vontade de bater o pé, e dançar da forma mais excêntrica possível naquele instante, até aos suspiros, à respiração pesada, que traz consigo uma certa carga sexual. São eles: Wraygunn. Cada vez mais fortes. Ou muito me engano ou o melhor disco nacional de 2007 está encontrado, em Shangri-la, este paraíso perdido na Terra.
- Então como é que tu te chamas? - Elisa, e tu? Espero bem que não te chames José ou Marco ou Rafael, porque não suporto esses nomes. - Chamo-me João. A assoalhada a dançar atrás deles; apaixonou-se de imediato. Porém, o primeiro sinal: a sensação da música de fundo a tocar ao contrário,, ou algo a lembrar Jon Zorn, em tons de verde. Acompanhando a sensação de frio no estômago – claro. - Também estás aqui com estes artistas todos de pila grande, ou vieste só aqui trazer a tua irmã e ver se engatas alguém? Mas não tens cara disso… Tens, oh! Pois é,, tens cara de bebé. A desorientação inicial - Não! (Um riso), não… Não tenho uma irmã, estou aqui pelo… - És amigo da Rita? - Sou amigo da Rita, o que Alguém a chamou num grito gargalhado, estendendo a mão virando-se de costas, um breve num tom muito sub-repticiamente implorativo - Espera lá , Off she goes. O Dj está a mudar constantemente como as cores lá fora atrás das janelas abertas, atrás das cortinas púrpuras transparentes, são amigos de amigos de amigos; baixa mas com um sorriso oblíquo, olhos semicerrados como se estivesse ou pedrada, ou com sono; muito dengosa, tom permanentemente quase irónico, não houve tempo para mais mas o cabelo curto e laranja, ficou. Nessa noite: uma exposição conjunta de pinturas retiradas de um projecto post-noise de um conjunto de pintores e músicos daquela zona da cidade, com o epílogo aglutinador de uma dança feita durante horas seguidas, non stop, por uma asiática de vestido negro, arrastando os pés num círculo branco desenhado no chão, em silêncio sempre; sexo no segundo quarto entre uma retratista conhecida que usava peças do lixo para criar caras e dois músicos que tentavam introduzir de novo o kraut-rock ao pé dos armazéns junto ao rio – O seu amigo Rafael bêbado no chão numa zona esquecida do apartamento a segurar afincadamente a mochila preta onde guardava os desenhos que fazia, enquanto uma miúda de brinco no nariz e saia preta de linho lhe falava baixinho, pelo ouvido, ininterruptamente, de cócoras, e ele assentia com a cabeça. Alguém enchera a banheira com gelo para manter frias as cervejas e o vermute, mas dois tipos deviam ter achado que seria interessante enfiarem-se lá dentro numa experiência artística continuada e viva, então a casa de banho estava cheia com Alguém gritou - Alguém viu aquela cabra da Elisa, que lhe quero dar um beijo de boas-vindas? Gajos a aplaudirem e dois enregelados idiotas a darem um discurso dadaísta ininterrupto, gajas a coçarem a coçarem as calças, bêbados a gritarem tons de vivas e um tipo com uma câmara preta grande a filmar tudo. Nas chaise-longes conversava-se e desenhavam-se freneticamente rabiscos para tentar explicar qualquer coisa entre o design e a arquitectura, e alguns de agora disfarce descoberto mundanos comiam-se simplesmente nos puffs e numa marquise preta encostada à parede, roçando com as costas e as unhas um quadro grande pregado quase no tecto. Dentro de dez minutos, a Elisa pegaria nele, dir-lhe-ia ao ouvido coisas incríveis enquanto o puxava para um quarto para tentar perceber nesses pequenos segundos se ele era pintor, músico, escritor, ou ambos ou as três coisas, e, praticamente quase, violá-lo-ia, na mais incrível e explosiva noite de sexo que teve lúcido; amarrado, desamparado e deixado a abandonar, cinco minutos antes da maré encher.
O que me chateia no mês de Maio não são os testes todos que costumo ter. O que me chateia no mês de Maio é não conseguir escrever oir causa desses testes todos.
Vídeo da minha banda preferida, The Mars Volta, a improvisarem uma música do nada ao vivo durante quarenta minutos. Chama-se Abortion, the Other White meat. Que sacana de música! O que me lembra uma coisa:
Ando a revolver-me e revoltar-me com a minha, proto-humanidade; dantes amigos, pausas curtas e amantes embaraçados, mas desembaraçados, seborreia nos cabelos, e murmúrios, e beijos, lutando contra todo o silêncio absoluto do mundo, espelhado na minha cidade fria (Lisboa. É minha, se eu me sentir nela.) E então caímos na tua cama com medo ainda de invocar nomes, e os fantasmas dos nossos parentes a observarem-nos por cima do ombro de quem estaria por fora, e os cursostodos, a desfazerem-se na margem Sul, a unirem-se à língua de terra da 24 de Julho, e o Tejo ainda assim a correrpor cima, ou por baixo, as pessoas nuas a acordarem, regurgitadas pelo ventre da compaixão desconhecida. És um surrealista antes do ensaio desta banda. As alergias desfiguram a tua cara. Compro um jornal num quiosque do Areeiro. Sou um actor engasgado com a dor da infutilidade. E meto-me no carro. Lambo os enjoos do meu sono. As minhas queridas enxaquecas. E, sem pensar muito nisso, preparo-me para me perder outra vez.
Talvez um Ohner. Tem o som mais solitário que conheço, que me lembre ou possa imaginar num instrumento. Cortesia daqueles gajos nos filmes a tocarem aquelas melodias mais lentas e azuis, sozinhos, e ruas fumegantes por onde o protagonista se afasta. Será por isso, por ser um som triste, solitário e bonito que me interesso por ele? Espero bem que não. Também não posso cantar, como eu adoro cantar. Uma forma diferente de silêncio, talvez, já que é impossível fazer valer-me da Palavra. Ou outra marca qualquer, que sei eu. Sei que "o céu não foi feito para os pardais, por mais alto que eles voem". há um ecrã cinemático atrás, por entre cada cena, a desfiar a tapeçaria translúcida do sentido possível que estas suites tenham. É curioso. Talvez só confuso. Mas pelo menos tenho algo para me questionar.
Mas não agora, agora não; agora o oceano Atlântico está longe, a minha gravata tem tantos vincos quanto os nomes das pessoas que me lembro.
Acordei cedo. Dormitei durante uma meia hora a decidir se ia à aula. Análise Económica. Estou no 3º ano, é uma cadeira em atraso do 1º ano. Metade da faculdade está a fazer, a outra metade suspirou alívio... quando a fez. Tenho ido a algumas aulas, mas durante meia hora, meio ensonado, tentei decidir se era desta, se era este semestre que arranjava coragem para fazer a cadeira. Acabei por ir. Chego à porta da sala, 2P1, e encontro um papel na porta a dizer que a prof. hoje não dá aula. Ainda não foi desta.
Ontem eu e o P. fomos fazer um filme para dizer porque é que tínhamos deixado de postar e comprávamos mais uns dias para nos safarmos falta de tempo e do cansaço em geral. Filmagens no caso dele, testes, salvar o mundo e impedir transsexuais de se suicidarem do meu. Brutal mesmo, mano, o Cacém tem segredos que mais ninguém conhece, como por exemplo ser um sítio terrível sem qualquer tipo de segredo. O seu maior espaço verde era o jardim de 10 metros de comprimento na escola onde andávamos (verídico, foi feito um estudo sobre isso). O projecto polis morreu e foi substituído pela falta de esperança de uma cidade que é feita de pessoas que só estão lá porque não podem estar noutro lugar qualquer. Igual a amadora e outras cidades suburbanas, e nesse caso como pode haver salvação possível para uma cidade dessas? É bom ver o Cacém em risco de implodir, vê-lo deformar-se perante os nossos olhos. Já a “minha” cidade não vejo tanto a sua morte anunciada porque estou beeem perto da estação. A chuva oleosa caía, em Massamá existe sempre um calor febril, mesmo durante a noite, como se fosse a zona chique dos subúrbios, muito estranho, mundos à parte e tribos invisíveis, mais não sei. Eram sete, oito longos minutos em que discorríamos sobre a impossibilidade de nada postar, um etc, dois apartes, tudo o resto e chega. Resultado: o sacana do filme ficou grande demais para o you tube. As cansei de ser sexy dizem:
A la la, a la la Gimme 3 wishes I wanna be that dirtyfinger and his sete bitches A la la, a la la Gimme more 2 I wanna be in that crazy band or meuku A la la, a la la Would you be kind Gimme one little more And i'll be superfine A la la, a la la You're so cool Can i be your friend? I'll drive till the end
Cuz you know but you don't wanna Cuz you want but you can't have it Cuz you know but you don't wanna Cuz you want but you can't have it
A la la, a la la I'm so worried I bought that posh clothing But it still looks ugly A la la, a la la Am i stoopid? I'm doing the talking But i don't get nothing A la la, a la la Alguém me avisa Quando é bom parar De fazer a íntima A la la, a la la You're so cool Can i be your friend? I'll drive it till the end
Cuz you know but you don't wanna Cuz you want but you can't have it Cuz you know but you don't wanna Cuz you want but you can't have it