sábado, maio 28, 2005

algumas redefinições

Hoje dei comigo a pensar naqueles momentos cuja existência não determinamos, mas que, ao acontecerem, nos determinam e nos definem enquanto pessoas. Sei lá que diga, por vezes canso-me de tentar reflectir sobre a minha própria estabilidade emocional. Tento responder a perguntas sem resposta e faço-o em dias que não têm utilidade ou significado especial. Penso demasiado, acho que é um pouco isso - o meu companheiro de blog foi apenas uma das pessoas que realçou esse facto. Mas sim, deve ser verdade e seria paradoxal aperceber-me disso e decidir, no instante seguinte, alongar-me em raciocínios dispersos. Não sei bem. Acho que nem sempre dou o devido valor às coisas que de verdade me importam. Nunca cheguei a agradecer ao meu pai o facto de nunca ter entrado no meu quarto, feito louco, de cinto em punho, para arrancar do meu corpo, à chicotada, o homem que eu deveria ser. Mas não, não será hoje que o vou fazer. Também nunca agradeci às figuras estranhas que cruzam o mesmo espaço urbano que eu por me terem dado tanto sobre que escrever. Muito mais do que nós próprios, são as circunstâncias que, efectivamente, nos criam.
A algumas pessoas da minha vida creio que nunca poderei dizer o quanto as admiro e respeito. Em absoluto, é-me impossível teorizar quanto vale um abraço, um leve beijo nos lábios, alguma paciência e pouco mais. Sei o que tudo isso significa para mim. Mais do que isso, sinto-me bem por não o poder explicar; há coisas que nos ultrapassam e, só por isso, as aprecio devidamente. É com muita estima pelo que fazemos que eu e o j. dedicamos algum do nosso tempo a est’A Navalha (bem sei que ele tem tido menos oportunidade para o fazer ultimamente). Mas pronto, tenho muitos agradecimentos em atraso, mas há um que queria deixar completo desde já: obrigado, a todos vós, leves hedonistas dos cortes literários que aqui abandonamos ao mundo, por terem a delicadeza de prestar um pouco da vossa atenção e esta página, que mais se assemelha a um livro.
Hoje dei comigo a sentir aqueles momentos cuja existência não determinamos, mas que, ao acontecerem, nos determinam e nos definem enquanto pessoas. Fi-lo na companhia de uma pessoa. A ela dedico cada suspiro. A ela me dedico.



[redefinindo-me]



P.

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quarta-feira, maio 25, 2005

domingo, linha de sintra.

Aqui há uns dias ia no comboio a caminho de um abraço e escolhi um lugar junto à janela, como tantas vezes o faço. À minha frente estava sentado um gordo, de meia-idade, algo barbudo, pele branca (quase pálida), de casaco castanho um pouco manchado pelos dias e porventura por uma substância alimentar qualquer; tinha também uma camisola vermelha, sem inscrições visíveis. O tipo tinha na mão um livro que parecia ser mais velho do que eu, quem sabe, talvez mesmo mais velho do que ele; olhei para as mãos papudas que o seguravam e pensei no quanto adoro livros já vividos, ligeiramente marcados pelo peso dos anos, que, acima de tudo, desconheço. Se bem me lembro “a lenda e a história” era o seu titulo, não tenho a certeza, provavelmente até nem era mas agora também não é isso que importa. Achei curioso encontrar naquele comboio, no meio de uma tarde de domingo, alguém com e explícitos e de certo modo eruditos interesses culturais. Estava a ser mais uma viagem banal quando de repente, percorridos apenas uns dois ou três minutos do percurso, o individuo, este homem de quem vos falo, levanta um pouco a mão esquerda, coloca o dedo mindinho (é, no mínimo, irónico utilizar diminutivos com um tipo assim) em posição e…leva-o por três vezes, consistentemente, ao interior da narina como se a quisesse vasculhar; de seguida coloca-o na boca e de um laivo chupa-o fazendo um som absolutamente desagradável, uma onomatopeia parecida com um schulrp, uma porra assim. Fiquei estarrecido. Possivelmente boquiaberto. Pensei que o horror tivesse acabado ali quando ele decidiu tomar a escabrosa decisão de repetir o acto, ainda com maior vigor, e se deixou ficar, lendo, como se nada fosse. Sacana do gordo, pensei. Levantei-me e dirigi-me para a porta; mais valia percorrer o resto da viagem em pé, de costas voltadas. Antes de chegar ao meu destino cuidadosamente planeado, tive oportunidade de ver um puto, negrito, por sinal, que dava gargalhadas deliciosas, delirando com as fotos que o seu pai - presumo eu – lhe tirava de telemóvel em punho. Havia pouca gente naquela carruagem, mas fiquei contente por saber que ainda havia ali alguém com uma inteligência sincera.
Deixei-me ir.
Só espero não voltar a ver aquela figura tão cedo. E ainda não me esqueci da sua cara.

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terça-feira, maio 24, 2005

Tejo, Lisboa - Segunda Versão.

exacto, pessoal, o post atrás foi escrito para a menina canadiana que deixa comments queridos aqui, e que eu e o P. tanto curtimos de ler. Aproveitamos e deixamos a imagem a todos os visitantes deste blog (acho que já chegámos aos 3!), porque o Tejo é lindo, e Lisboa também É linda. E uma coisa complementa a outra, afinal.



e descobri mais um sitío mágico, enquanto percorria as ruas do cais do sodré, esperando para a minha turma chegar para o jantar de fim de ano lectivo. é um banco de 20 metros, de pedra, inclinado, que o rio banh. ... tenho de voltar lá, para a próxima vez, com qualquer pessoa de quem goste.



é mesmo uma cena nossa, acho. adoramos Lisboa. and if you don't love it too, you clearly should.
thanks.




J.

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hope the picture turns out focused... lucy, this is a picture I took a few months ago. It's Tejo in the picture, and I just think, despite the weather wasn't sunny as it normally is, it's a marvellous picture of our river and the ponte 25 de Abril. (25th of april bridge, ok...) . the main landscpae is just so beautiful, and I took it from the top of the castle, wich is also spectacular. Posted by Hello

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segunda-feira, maio 23, 2005

Algumas ideias

eu quero escrever, a sério que sim; mas tenho medo, este medo estúpido e irracional, de quando acabar já o tamanho ter chegado a meio capítulo de um livro que não fale de nada - talvez a paixão de escrever seja apenas sentida por aquelas que também escrevem pelo mesmo sentimento.
bem, hoje estive a pensar como é possível o nosso blog melhorar um pouco, artisticamente - ná, mentira. hoje estive a tentar começar a estudar para os exames. mas passei a tarde toda na faculdade a andar de um lado para o outro com a Zee Devil, as horas passaram de forma estranha - rápido demais, claro. mas não postava há já alguns dias - desde já, eu e o P. agradecemos pelos comentários, mesmo os que não são postados aqui, ao nosso trabalho. se é que, obviamente, isto possa ser chamado trabalho. mais um prazer, não? aproveito aqui, antes de mais nada, para deixar alguns pensamentos soltos que eu e o P. cultivámos nos últimos dois dias:


Vimos uma mulher branca a trabalhar no Macdonald's


descobri há pouco tempo que o nome do meu estilo de vestir, que até então dizia eu com gosto era nenhum, a não ser o meu, é o chamado grungy; o irónico é que nunca morri de amores pelo fenómeno grunge, nem deveria existir, sequer, um esilo de roupa grunge. but whatever.


daqui a uns dias vou ao dia 27 do festival super bock super rock. prodigy, system of a down, incubus, tara perdida. isto era só para afzer inveja a todos os que não vão.

porque é que toda a gente me diz "já sabias que eras tu a entrar no messenger, pelos teus nicks"?


mando ainda as melhoras ao coisão, que está doente por ter beijado a boca da namorada vezes demais. sta ideia faz-me sempre rir, se deus existe de facto, ele só cirou a mononucleose para lixar os gajos que tinham qualquer tipo de relações antes do casamento. portanto, coisão, as melhoras para ti, e que continues e tentar convercer-me, todos os fins de semana, que não existes.
quero também dar ao P. parabéns pelo primeiro mês de namoro cumprido com a sua gaija. namorada. queria por gaija em itálico mas atrapalho-me com isto. era suposto ser uma piada, claro. não me irei prender a conversa ha e tal, ficam bem os dois, merecem-se um ao outro; somente sejam felizes enquanto estiverem juntos, e em relação à C., só lhe posso agradecer por ter posto o palhaço do P. a sorrir mais outra vez.


o verão está aí, lembrem-se. se de gumes é feito o próprio Sol que nos corta, também eu vejo navalhas em todo o lado. será que é possível cortar o tempo? fazer sangrar as horas para drenar todo o desespero inerente ao seu próprio passar de tempo?
tornar eternos os momentos em que sentimos apenas um perfume e um toque de lábios, em lábios ou num corpo, com os nossos olhos fechados em preces de sonho


surrealista.


eu adoro o verão. adoro a navaçha, odeio-me por não escrever aqui tanto.
fiquem bem, sempre. e obrigado.







J.

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quinta-feira, maio 19, 2005

fragmento(s) - apontamento.

Ora bem.


Com as mãos nos bolsos começou a chorar
ela não sabia mentir
deu um pequeno pulo até junto da janela
trepou
sentou-se no parapeito a balançar as pernas
ela
estava prestes a cair
mas só queria ir passear.

Era uma vez
não assim há tanto tempo
e havia alguma boa disposição no ar
conheci-a
estava ela com um vestido azul
partilhámos uma garrafa de vinho tinto
sabíamos bem
que não tínhamos horas suficientes nos nossos dias.

Assobiara-me ao ouvido muito suavemente
pouco depois
ouvi um estalido de pastilha elástica
procurava algo
apenas um pouco mais sincero
alguma música ligeira e nenhum ruído
não havia ali crueldade palpável
era isto o que a satisfazia.

Não fizemos barulho
ao dançar como fazem as fadas
ela estava bem
e tinha andado por aqui
disse-lhe sem malícia
estás a perder o teu tempo
disse-me apenas
existe aqui uma certa beleza.


Pois bem.


Vamos lá testar os nossos limites
a ver se conseguimos trazer aqui a polícia
pode ser que nos prendam
por crimes de simplicidade
estávamos descalços
a brincar com o irrequietismo dos dedos dos pés
já falta muito pouco tempo
afinal de contas toda a gente precisa de companhia.




P.

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quarta-feira, maio 18, 2005

Fotografia 19.

Os poetas, ou escritores se a definição for tão falsa como fotografias de paisagens tiradas com chuva a cidades um pouco mais do que invisíveis, voltam, ainda que com dúvidas, à torrente iniciática de jorro de pensamentos líquidos, que não secam nem mesmo ao Sol do Verão, acarinhados aqui para que perdurem; não será melhor, depois do que reste, correr, em vez de escrever?
Sentirmo-nos talvez um pouco vivos quando o café com pessoas desconhecidas queime as próprias raízes das fundações dos prédios, e eles se desfaçam como cenário enquanto rompemos corporalmente os limites da cidade, ou pelo menos
Do mundo como o imaginamos: como eu o imagino.
Há Sol, aqui; há noites a preto e branco com as luzes estroboscópicas das trips de ácido –
E uma juventude perdida cuja falta imemorial de rebeldia, matou para sempre. E se forma houvesse de relativizar o consolo que é colorir os sons, nesta cidade, a dezenas de palmos terra abaixo, pode-se conceber a fuga, um último correr quase, apenas quase, imortal, uma cidade a preto e branco concebida no meu próprio desterro, deviam tentar seguir-nos até lá abaixo, estamos prestes a chegar a tudo aquilo que um dia seremos, estamos prestes a revelar-vos o que um dia descobrimos nas nossas próprias tardes passadas a descoberto de um modo de ressurgir, cada gole de café, cada centésimo de cafeína a fervilhar, estamos cada vez menos sozinhos, falta pouco, em breve saberemos ser
.Poetas
.








J. / P.





18 de Maio de 2005.

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Primeira foto dos dois autores que fizeram do sangue que escorre - em cortes avulsos - uma tentativa de arte. Posted by Hello

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quinta-feira, maio 12, 2005

Pedro Lomba.

Falar de Pedro Lomba é arriscar o mistério. Falar do meu professor assistente de direito constitucional é admiti-lo lenda. Há aqui um conflito de interesses. Pedro Lomba fascina-me, mas falar dele implica admitir o fascínio que tenho pelo gajo; por outro lado, o que me custa a admitir não é o fascínio pelo homem, é o fascínio pelo homem que sinto pelas razões erradas. Mas, comecemos pelo princípio? Navalharemos conjuntamente Pedro Lomba. Quem é ele, afinal? Porque raio lhe dedico um post?
Comecemos pelo princípio, como já referi. Há uns tempos atrás (meses, depois do natal mas julgo que antes da Páscoa...) andava eu a visitar blogs; coisa normal. Paro num blog que costumo visitar quase todos os dias, A Grande Abóbora (quando souber fazer hiperligações, links e cenas que tais eu ponho nos links, eu juro que ponho nos links...) um blog brasileiro mantido por um senhor com gosto musical bastante apurado, e bastante indie, Marcus. O Marcus tem o tipo de blog que eu gostava de ter mas que a preguiça e a falta de jeito não me permite ter, e quando puser links aqui, ajudado decerto pelo M., A Grande Abóbora vai ser um deles. Bem, o Marcus basicamente dizia algo assim, Descobri um blog interessante, português ainda por cima.

E eu naquela, bem vamos lá ver o blog interessante português que existe e não é meu. Bem o blog era interessante, e é porque ainda existe, chama-se Fora do Mundo. Vi uns textos, adicionei como favorite, e preparava-me para o abandonar quando vejo o nome dos autores. Quem posta lá mais é um Pedro Mexia (já conto essa história também), como também um... Pedro Lomba.
Devo admitir que fiquei banzado. Seria que o meu professor assistente Pedro Lomba escrevia ali, naquele blog? Era uma coincidência demasiado grande, e irónico eu só ter descoberto por um blog brasileiro (oh the shame, oh the shame). Mas talvez seja necessário falar-vos do Pedro Lomba, como o homem é; enfim, o gajo é, não diria um cromo mas fascina-me numa indiferença porreira, porque é simplesmente o que parece ser um gajo porreiro; mas, é claro, tal associação a essa sua pessoa está vedada aos alunos caloiros da faculdade de direito – incluindo eu.
O Lomba é um gajo que anda sempre com um livro na mão, porque supostamente lê muito. E quando digo um livro, minto em parte; ele traz sempre um livro diferente, o que me faz pensar que, ou ele lê bastante, ou apenas tem o mesmo hábito corno que eu tenho que é ler vários livros ao mesmo tempo (ok ok, a faculdade reduziu-me esse hábito à força, mas ainda consigo quatro livros em simultâneo). O Lomba tem mais de trinta anos, mas cara de puto; ou de puter (só quem é barra a inglês percebeu o que disse agora); aparenta ter uns vinte e cinco, não mais; o cabelo que usa é um misto de não penteado com uma insipidez incrível, e gosta de, de vez em quando, dar um ar de sua graça e não levar gravata para o trabalho, nesta instituição que preza tanto a merda do trato social que é a faculdade de direito de Lisboa (metam as maiúsculas por mim, sff.); ninguém faz, aliás, uma oral sem ir de fato e gravata, mas as meninas podem ir de vestido e mini-saia se o regente da cadeira for um dos cotas que por lá andam. Quanto ao lomba, ele traja de azul, para transmitir uma tranquilidade de espírito que só aparentemente tem. Ou talvez só porque goste.
Dá para perceber que é daqueles gajos que está sempre com uma piada na ponta de língua sobre tudo (puxando aqui a brasa à minha sardinha, como eu), mas ao mesmo tempo tem um medo brutal de as dizer aos alunos; um misto qualquer de Oh Meu Deus será que estou a entrosar-me demasiado com eles quando o que se pretende é uma relação professoral e não familiar com estes alunos, e também uma pitada de Não, não posso dizer isto porque TALVEZ seja abusivo demais. Não parece que o seja, pelo menos para mim, a causticidade que corre nas veias dos irremediavelmente irónicos impedir-me-ia de pensar que o gajo estaria a dizer algo ofensivo, impróprio da sua opinião como professor. No entanto, o meu professor, que só parece ter vinte e cinco anos e, portanto, transmite a ilusão que é mais “cá dos nossos” arrisca, por vezes! E o gajo tem piada, claro que sim, o sentido do homem é porreiro, mas lá está, tem medo; e então, quando a turma se ri, ele fica bastante contente e parece que se ri mais para si mesmo do que da sua própria piada, como se pensasse algo subconscientemente do genro “eh pah, esta até foi boa, consegui, eles não a acharam porca. Eu nestas coisas até tenho piada!”. E tens, Lomba, se me permites tratar-te por tu; e tens.
Outro dos tiques porreiros do Lomba é quase uma imperceptível gaguez que só os meus melhores amigos (principalmente a Renata, uma freak disfarçada de gótica) naquela faculdade me vêm imitar; juram eles, com uma perfeição extrema. O gajo manda alguns perdigotos de vez em quando, mas é óbvio que eu isso já não faço. Não é bem um carburador a começar a trabalhar, é mais… bem, é como se pega um barco, puxando o fio, aquilo é só um esticão mas vai lá. É uma hesitação na primeira palavra que ele conseguiu disfarçar quase na perfeição, usando uma técnica que é a de, basicamente, dizer a primeira palavra, gaguejar um pouco, e depois dizer outra com mais ímpeto como se se tivesse lembrado de repente de dizer outra coisa, que acaba por ser, apenas e só, uma maneira diferente de começar o seu discurso já previamente pensado na cabeça. Esse pormenor fascina-me, devo admitir. Acho que o Lomba está-se uma bocado a cagar para os alunos, não no sentido de nos querer ver todos pelas costas, mas no sentido de apenas nos ver como alunos, não curtir de paternalismos imbecis, não tentar aproximar-se da malta jovem, em suma. O que ele gosta mesmo, vê-se, é de dar aulas, e preparar bem os seus alunos; depois cada um vai à sua vidinha, ao fim e ao cabo. O que é porreiro. In a way, isso é como todo o professor devia aspirar a ser, um mestre, no verdadeiro sentido da palavra, um mestre sempre pronto a ensinar mais ainda (vê-se que o gajo adora o que ensina, direito constitucional) aos seus alunos quando tal lhe é solicitado, mas que não faz disso a sua vida; ele ensina, ponto, e não tenta ser mais que um bom professor. Isso só pdoe ser digno de louvor, mas era fixe que me desse umas notas mais fixes [suspeito uma bruta nega a caminho neste meu último teste, mas sinceramente, constitucional é uma autêntica trampa, não por causa do Lombra, mas porque, se eu já não gosto de Direito, gosto ainda menos de política, e direito constitucional, mais precisamente, Ciência Política e Direito Constitucional, é isso mesmo, a (in)feliz junção de dois tópicos que nunca curti.]
Bem, o Lomba é assim. Eu li alguns posts dele (no fora do mundo, lamentavelmente, posta muito pouco, não faço eu a mínima ideia porquê), e no dia a seguir tratei de partilhar isso com o pessoal. Nessa altura ainda não fazia eu ideia do monstro enorme que o Lomba era (qual povo com tentáculos), portanto tudo o que eu pretendia era saber se o gajo era mesmo o Pedro Lomba do blog. O estratagema que desenvolvi para o saber tem tanto de genial quanto de estúpido, e eu teria decerto coisas melhores em que pensar, mas era só o raio de uma teima que eu queria tirar. De modos a que, no final de uma aula extra de constitucional, já as pessoas abandonavam o anfiteatro, pensei, é agora ou nunca, e disse ao meu colega, o Vash, para vir comigo para presenciar o que eu presenciava, para ao menos não ser, talvez, vítima de uma alucinação e depois toda a gente acreditar em algo falso que eu dissera sobre o Lomba. A minha ideia era perguntar-lhe algo sobre o presidente francês, e usar a expressão “fora do mundo” NALGUMA frase minha, mas como o fazer, não sabia bem. Bem, ele ajudou-me nisso. Mal lhe vim perguntar o que se passava, ele usou da cortesia clássica e mandou um formalmente desinteressado brilhante “então as férias, foram boas?”
Com o meu cérebro a trabalhar freneticamente, pensei “é agora! É agora pah!”
E repliquei, com a minha tentativa de cara mais séria, um…
- Oh sim, foram boas. Um pouco fora do Mundo, mas sim, foram boas.
Ao meu lado podia sentir, quase fisicamente, a vontade do Vash se desatar a rir.
O Lomba olhou-me de forma estranha e com um sorriso meio porreiro. E disse, a entender que estava um pouco dessorientado, algo como “mas…fora do mundo? Mas…porque é que disse isso?”
Era aquilo! Era aquela prova de que precisava; e, no meu ímpeto, decidi puxar a corda um pouco mais, e arriscar.
- Há… não sei, é só uma expressão. Mas porquê?
Sorriu para si mesmo de novo e balbuciou um “nada, nada…curioso. Mas Bom, o que me queria perguntar?”
Bem, isto pode não parecer lá muito emocionante; eu admito que sim. E a história devia acabar por aqui, mas obviamente, não acaba.
Há uns dias, estava a ler o histórico do gato fedorento, e como uma maldição, vejo o nome Pedro Lomba num post do Ricardo Araújo Pereira (!). fiquei estupidificado. Carreguei no link, e apareceu-me, simplesmente, um dos posts mais famosos de Portugal inteiro, mas que eu nunca tinha ido ver, porque já extinto: O Infame. O Infame! O Lomba era um dos Infames! O Lomba foi gozado por um dos gatos fedorentos! … O homem está em todo o lado, aquele gajo com cara de miúdo de 25 anos! Quem o leva a sério com aquela cara de chaval? Depois, veio tudo abaixo: o homem escreve no DN! O homem esteve no Prós e Contras a não defender o 25 de Abril! (pelo menos, foi o que me contaram), e sabe-se em lá mais quê; o amigo dele, Pedro Mexia, é poeta; dos maus, graças a Deus. Descobri também, por acaso, quando remexia a secção de poesia na fnac do chiado. É, aliás, bem provável que já me tenha cruzado com ele.
…em suma, este é o Pedro Lomba, o Homem, a Lenda, o Mito; o Quase Gago. Um professor de quem eu gosto. E eu até vou ser, um dia, prémio nobel da literatura (é só, é claaaaaro, uma questão de tempo); mas, digam o que disserem, ele será sempre mais famoso do que eu; só por ter sido insultado pelo gato mais famoso de todos. Quanto a mim, eu só serei um dos maiores escritores que já pisou esta terra. Mas ele será sempre o Pedro Lomba.








J.
peço desculpa por ter ficado um pouco grande.

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quarta-feira, maio 11, 2005

mais um dia

Lá estava ela, com o mesmo ar afoito de sempre, pronta para se maquilhar. Ena, que mundo este.
- Ouve-me.
…Já estás a alucinar em demasia tu e sabes bem que sou um tipo ocupado, sempre com cenas para fazer. Agora não me lembro bem do quê mas de certeza que são importantes. Ah sim, mas olha, não precisas do que quer que seja de mim, mas eu preciso de qualquer coisa.
- Onde foste?
…Estava aqui a ver se encontrava uma t-shirt lavada. Sabes, era esta a vida que eu gostava de ter; pois, eu sei que é sempre, sempre assim. Hum, ok. Mas antes que me esqueça queria dizer-te que. Não era isso. Aqui há dias estive na tenda de uma astróloga cheia de rugas e cabelos grisalhos (em tempos foram loiros, parece-me) que me disse para ter cuidado com o décimo terceiro dia deste mês – é uma sexta-feira – apenas porque sim (são as superstições que movem o mundo, tudo o resto é efémero), porque geralmente é assim e nesse dia podem acontecer um sem número de coisas sem sentido a gente como eu. E isso assusta-me, vá lá saber-se porquê, mas assusta-me; que posso eu fazer? Ah, e já agora, tanta maquilhagem fica-te mal, pareces…
- E se fosses…!?
…Sim, eu sei que pode parecer uma coisa parva de se dizer, mas ouvi um músico a cantar, dizendo que podia voltar pelos caminhos-de-ferro, a pé, e que poderia demorar algum tempo, mas acreditava que havia de encontrar o seu caminho de volta, e é pah, achei que era uma cena cheia de lógica, embora não conhecesse o gajo de lado nenhum.. Pois, exacto, mais um dia a despontar cheio de luz. Tu sabes que estas coisas quase me dão um ataque cardíaco – nunca tive jeito para ter jeito. Nenhum.
- Sim, mas agora cala-te. Preciso de silêncio
…Eu devia começar a correr; catapultar-me para o centro do peito e cravar-me feito espinho. Posso começar a gritar, tu sabe-lo tão bem quanto eu pois ainda tenho força nos meus pulmões. Tu existes e eu vou tirar as mãos dos bolsos para te poder desenhar. Despacha-te, vai buscar uma folha de papel amarelada. Estou a sonhar em tons claros. Vou sair
- Leva casaco, lá fora faz frio – (é verdade, o frio constrói-se como uma casa).
…Sim, farei isso.





[Eu podia ficar aqui para sempre.]





P.

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terça-feira, maio 10, 2005

estórias de certos dias

Andavam os heróis sem terem onde cair mortos
Quando eis senão Que Então
Se houve um ranger de porta
Lá se encontrava entreaberta
O olho esverdeado espreitava
(ou seria azul?) – Era castanho! - »;;;…//
Sobressaltado saltei sentado no deitar
Anda sempre alguém por aqui – pensei
De um safanão escancarou-se a madeira
Era quem eu não conhecia
(Àquela hora nunca conheço ninguém)
E resmungou ensonadamente Enquanto acendia a luz
e me cegava



- Tu não tens uma aula agora?



Tenho sim, mãe.
Vou já levantar-me.






P.

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domingo, maio 08, 2005

palavras sonâmbulas.

devem ser por volta das quatro da tarde - eu não sei bem, tenho estado a estudar a manhã toda, e a tarde toda... começo a perceber que, na faculdade, estudar dois dias antes de um teste não trará de certeza os resultados bons a que já estamos à espera. não que tenha tempo para postar, mas nada anda a sngrar aqui, ultimamente; mas se eu ando sem postar, a razão é boa; ultimamente tenho andado cansado, bastante cansado. equivale isto a dizer que terça feira ia estampando o carro três vezes, na aula de condução. "vira à esquerda" "onde, lá à frente depois da rotunda?", travagens bruscas, e uma falta de concentração tremendas. para piorar, não se estar a gostar lá muito do curso não ajuda nada. de modo a que tenho andado um zumbi toda a semana, e sexta, enquanto estava a almoçar com o pedro num restaurante no chiado e depois num café, tenho a ideia que só respondia com monossílabos. para piorar a minha decadência, ontem estava em benfica a andar com um colega meu, e íamos simplesmente a atrofiar os dois, insultando-nos, gritando, o normal suponho (o normal? este gajo deve ser doido) ; mas bem com o bruno sim, o normal de facto.
o que se passa; estávamos a atravessar uma passadeira, e vejo-o a ficar um passo ou dois para trás; e sinto logo a seguir uma mão a apalpar-me o cu, palmada, aperto, saboreou, e seguiu. e eu pensei "filho da puta!! apalpou-me o rabo!" ia-me virar para ele para lhe dizer qualquer coisa que fingisse o meu choque, quando vejo uma miuda a passar por mim na passadeira, e pensei , deixa-a passar, senão se ela ouvir isto parece que são duas bichas doidas a discutirem. bem, ela passa, e viro-me para o bruno e digo-lhe, olha lá ó palhaço, sei que te excito, mas era preciso apalpares-me o rabo?
mas o gajo não se riu. não disse nada. ficou sério e só disse completamente apanhado de surpresa, com uma cara de estupor, "meu...eu não te aplpei o rabo."
olhámos um para o outro por uma fracção de srugnod e percebemos. basicamente dissemos ao mesmo tempo...foi a gaja.
mas o que é isto? ando a ser violado na rua por pitas de dezasseis anos que se aproveitam do meu estado de quase sonambulismo, reflexos lentos e falta de discernimento para me apalparem o raio do rabo?
rezo e conto os dias que faltam para sexta feira, altura em que os testes cabam, e vos poderei brindar com mais posts medíocres, que lêm com um bocejo de indiferença. quanto ao P., desde que arranjou consorte, está demasiado nas nuvens para descer à terra e escrever algo. mas eu não me importo, pois como toda a gente sabe, o P. é, e será sempre, a minha prostituta libanesa privada.



oh sim. preciso de dormir.



J.

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quinta-feira, maio 05, 2005

For Lucy

hi lucy, you just cannot imagine how happy I was when I saw your comment again (not very awake, I have to admit, but still eager to see what you had to say...) gosh, I loved what you did lucy, I just feel SO flattered! I haven't really been in the net a lot these past few days (I got four tests, 2 on this week and twice on the coming week) so I'm basically studying, and studying, and...yeah, studying.
about the poem (poema) : I guess it would be a crime if I didn't translate it for you, not that it's the greatest thing in the world ( it certainly isn't) but the program you used didn't at all captivate the real message.
oh lucy, it would have been so much easier if you had come to portugal! my poem talks about the river Tejo, in Lisbon. I live ten minutes away from Lisbon, it's our capital city. it may be a poet's hearth thing, but I jost love the air, the sun and the atmosphere that surrounds Lisbon; the city is absolutely magical, I din't think that there are, tough, many people who understand why it's so magical. maybe you'll be able to, some day.
Lisboa is a city of old, I guess you can use that expression. it's located near tejo, of course, and near the atlantic ocean. the legend says it was founded by Homero's ulysses, but of course that must not be true. still, it existed even before the roman empire. it was then taken by the muslins, and then conquered by our first king, with the help of crusaders who were travelling to the holy land. so it has been here for some long time :)
why am I telling all of this? well, I guess I can understand it's probably a bit boring. but I'm telling you all of this so that you can, at least, try to feel and understand that, when you walk trough lisbon, you can sense it all: there's history in every street, smells in the air that have probably been around since forever. it is unique , for its history, geography, and what the hell more, really. and Tejo just makes it more romantic, in every aspect of the word. if I can«t really explain in portuguese, imagine my frustation now... :)


now, for the poem: it talks about the river tejo, of course, but I didn't want to make it a normal poem that talks about that type of stuff. how can I explain this...? you know those poets that write those very predictable hymns about cities, places and such, where they have been? well, I really didn't want my poem to be like those poems, I don't think there's any real beauty in them, really. and because I was paying a homage to the river,
I tought of doing somethig different, just to make it unique. that's why the atmosphere is almost noir (that's french, for dark ;) )
so... here it goes. it's nothing special, really, but I tought I'd post it here because I think no homage is enough when talking about the city I love.




Tejo



there are almost infinite stories being told
about this river who's greater than fear in
the glance filled of opaque blood
of those who always eternally doubt
; bigger than the imensity of my
glance over it,
because in barkings of yawns it can't
perspectivate them in all
the angles of vision when they say His
Name.
It burns in an imensity of
beliefs and tourists or even in the same
children who know what reality is better than me,
and who have the same name as
Alfama, or; Cais do Sodré or some Belém at more dead
hours in the day when
The World around it shreds itself in hot air in triumphant shouts
of coyotes. Its on your sight
that the loving ones with a infinity of
youth wich I cannot feel in me
rest. we're already too much old
,to recriate our existences, to regurgitate
the moral values that have made us a lot
more and a lot less than humans
In places that do not exist, and
in places that do not exist except
in tales and dreams, even if we are all there and
feel the smell of old rock and the
rugosity and harshness of the smells of the
Summer
And Water
.You're the blood of this city, one verse only of
water and boats wich are still ancient
Trawlers of pure adventures and
electricts of first loves
;perfect
stolen acid kisses, unworthy
convulsions of unworthy poets.
and the sun flashing
on the boats.


Tejo.


you're the fury for excessively smiling
and the misterious grin of this
unachiveable city.





well...and that's it. it becomes pretty eird in english really, beacuse I invent a bit words in portuguese and expressions wich are almost impossible to translate, really. alfama, cais do sodré an belém are parts o lisbon, and the elctric is a way of transportation wich i guess... exists in san francisco, I don't know. it's a poema bit different of my others, but what the hell. I promised you a post in engilsh, and...well, here it is, I guess.
thanks! keep coming, keep in touch, and I'll do the same lucy. and most important, I hope you like the poem :)




J.

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terça-feira, maio 03, 2005

Tejo.

Existem quase infinitas histórias a serem contadas
Sobre este rio que é maior que o medo no
olhar cheio de sangue opaco
Dos que sempre eternamente duvidam
; maior que a imensidão do meu
olhar sobre ele,
porque em latidos de bocejos não consegue
perspectivá-los sobre todos
os ângulos de visão ao dizerem o seu
Nome.
Queima numa imensidão de
crenças e turistas ou ainda nas mesmas
crianças que sabem o que é a realidade melhor que eu,
e que têm o mesmo nome que
Alfama, ou; Cais do Sodré ou uma Belém a horas
mais mortas de dia, quando
O Mundo ali à volta rasga-se num ar quente em gritos triunfantes
de chacais. è sobre em ti que a tua vista
que repousam os amantes com uma infinitude de
juventude qye eu não consigo sentir
em mim. Somos já demasiado velhos
, para recriarem as nossas existências, regurgitar
Os valores morais que nos fizeram muito
mais e muito menos que humanos
Em lugares que não existem, e
Em lugares que não existem senão
em ocntos e sonhos, mesmo que lá estejamos e
sintamos o cheiro a pedra e a
rugosidade e aspereza dos cheiros a
Verão
E Água
. És o sangue desta cidade, uma estrofe só
de água e barcos ainda antigos
Traineiras de aventuras puras e
elétricos de amores primeiros
Perfeitos
Beijos roubados àcidos, convulsões
indignas de poetas indignos.
E o Sol a faiscar
Nos barcos




Tejo




És a fúria por demais sorridente
E o sorriso misterioso desta
cidade inatingível.















21/07/03/05


J.

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segunda-feira, maio 02, 2005

crónicas de um encalhado parte II

Passou quase uma semana (equivale a dizer uns tempos) desde que postei algo aqui. o pedro brindou isto com um poema meio hímnico, e outro post. mas vejo A Navalha como uma filha minha, uma criação minha (e quem diz minha, diz obviamente nossa, sendo eu apenas um dos dois pais), e vejo-a vazia, por falta de tempo, talvez inspiração - bem, eu só queria escrever obras-primas qui ainda que falassem só do dia, uns pensamentos a fugir num banco de comboio ao início da tarde, mas também queria, aqui está o dilema, escrever todos os dias. bem... nada mais como recuperar o tempo perdido, os testes pelo meu lado têm-se vindo a acumular (não diria os do pedro, ele só tem exames, mas ele poderá falar por si, tem a sua quota parte de trabalho com trabalhos de grupo), e faz tanto sol que faz impressão.
Nos últimos dias não me tenho sentido estranho. talvez seja uma má notícia, pois eu sou apologista da minha vida ser o mais tipicamente atípica - ainda que teoricamente, ainda que no papel e nas teorias partilhadas num café qualquer na zona baixa de Lisboa - o que só pode ser o prenúncio para algo de mau. Não me sinto estranho. Os dias passam e os poemas começam a sair todos diferentes, mas cada vez mais todos assustadoramente reais.
Também já não sinto saudades dos tempos em que estava bem sozinho, lambendo como um lobo ferido as feridas que um amor arrancado a frio provocara em mim. Metáforas interessantes. Pois. Quem tenha lido o meu peculiar (e infelizmente único daquele estilo - sim, infelizmente) post Crónicas De Um Encalhado, parte 1, talvez já tenha percebido isso mesmo. Sei lá, tenho simplesmente falta do amor questionado, do jogo do engate e do fascínio inicial de tudo, talvez. Um pouco saudade de sentir outra vez. não sentir que vivo os dias só para mim.
Alguma morena com estilo e algo na cabeça que consiga manter uma conversa interessante por mais de uma hora está disponível? eu digo morenas - mas acabo sempre por andar com loiras, ironicamente, portanto também se pode abranger este pedido a todas lol



amanhã postarei um poema e livrarei este gume curto da sombra pretensa da futilidade.


J.

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