domingo, outubro 29, 2006

Pensamento do Dia

é curioso:

acho que voltei ao ponto do início.






J.

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sábado, outubro 28, 2006

Diálogos

- Troco as minhas duas eternidades por essas três eternidades.

- Já tenho essas eternidades repetidas.




J.

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quinta-feira, outubro 26, 2006

O casamento

A verdade é que não sei bem se a avó estava presa ou era na verdade a rainha daquele lugar; não sei se o neto foi salvá-la ou pretendia apenas compreendê-la no meio do caos que se instalou e tudo contaminou à sua volta. As paredes são de água, mas são sólidas. Sombras crescem debaixo da trepadeira, apenas como se tivessem frio e se quisessem abrigar do vento do mar. O sal não corrói a asa ou as plantas. Fustiga-as, quanto muito. Há muitas casas assim, parece-me, no mundo real. Passo pela costa de Sintra e vejo-as, espalhadas em ruínas, por todo o lado. Amanhã tenho um casamento. O meu sentido de humor casa-se com a filha de um costureiro, da aldeia. Sou um convidado relutante, provavelmente irá chover, mas acho que ninguém se vai importar a não ser eu.

Esta semana tem sido grande demais.


J.

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sexta-feira, outubro 20, 2006

E então, perguntaste-me se eu estava cansado.
Respondi que não.

E fomos felizes durante um tempo.



P.

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A casa, versão curta.

- Avó…?
Ontem procurei-a, por uma casa feita de paredes de água.
- Avó
Meu netinho, peço desculpa pelas trepadeiras. Habituaram-se a ser agressivas para com os estranhos e a picar com o veneno quem persista em penetrar na minha realidade.
As paredes eram feitas de água
- Meu netinho, é melhor arrastares a tua calma.
Uma falésia à frente, uma serra baixa de verde e florestas atrás. Talvez a tua casa fosse em Sintra, avó. É de noite, e estou de volta ao meu quarto sem saber bem como.
Nas piscina seca e drenada ergui um santuário
- bebo essa água cheia de cloro e folhas mortas que caíam dos pinheiros mansos
- Transmutam-se os rituais da casa.
Suspirares de aço de harmonia ao olhares para a natureza salgada do Sol negro. E fecha-se uma poalha sobre o ar.
- Meu netinho.



Isto é um poema.







J.

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sexta-feira, outubro 13, 2006

quinta-feira, regresso a casa.

Ele entrou uma estação depois de mim. Sentou-se à minha frente no comboio, era um pouco mais velho do que eu. Barba de poucas semanas, mochila, t-shirt promocional qualquer, bloco de folhas A3; e um caderno pequeno, capa preta, elástico à volta, folhas brancas.

Só voltei a reparar nele um pouco depois. Olhava-me, caneta de feltro em punho, desenhava-me. Tentei fingir que não tinha reparado. Passsado um pouco já desenhava o velhote sentado ao meu lado. O velhote saiu pouco depois. Levantou-se, e sentou-e ao meu lado, uma cadeira de intervalo, exactamente na mesma cadeira onde antes havia estado o velhote. Agora desenhava uma mulher que estava à nossa frente. Loira, ensonada, de cabeça enconstada ao vidro. Pode-se dizer que era bonita. O desenho. Definido, sem ser perfeccionista, ele estava apenas a divertir-se - desenhando. A mulher, loira, o seu reflexo na folha de papel, estava agora demasiado bonita, agora que preenchia toda uma página. Mas ele não parou de observar.
Desenhava agora uma outra rapariga, com ar de miúda, não era de certaeza mais velha do que ela. Ela estudava e não reparou em nada. Ele desenhou-a. E eu, discretamente, feito voyeur, tentava captar cada traço que ele imprimia no papel. Chegámos à estação. Ele saiu do comboio na mesma porta que eu. Foi para o seu lado, prosseguindo caminho. Eu prossegui o meu. Era de noite e, sem malícia, invejava-o.

Nunca poderia desenhar alguém que amo daquela maneira.

E todas as palavras me parecerão demasiado insignificantes.





P.





[Sexta-feira, dia 13, já começou - A Navalha é totalmente a favor de todo o tipo de superstições, mitos, manias, fobias, et cetera. Vou agora ver o que resta do filme Sexta-feira, 13 (parte 1) que nunca tive oportunidade de ver. É mau, manhoso, e vai saber-me tão bem.]

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quinta-feira, outubro 12, 2006

Vuelve-te

Não gostei do Volver. Devo ter sido a única pessoa neste mundo que não gostou do Volver. Mas não gostei, pronto, achei mais ou menos. Gostei da prestação da Penélupe Cruz e dos seios da Penélope Cruz; mas não gostei do Volver, nachei-o, sei lá, médio. Que querem que vos faça? O filme é muito chocho, algumas piadas não têm muita piada, e o filme é assim uma espécie de tragicomédia simpática. Só gajas. já sabemos que o Almodovar ou é gay, ou rebarbado, ou travesti, ou tem panca por travestis; tudo bem, isso não me chateia. O que me chateia é ser considerado um energúmeno desprezível por não ter gostado do raio do filme; é concluirem que significa que tenho a capacidade intelectual de uma foca.
É só um filme, porra.





J.

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quarta-feira, outubro 11, 2006

A caminho da Avenida Gago Coutinho

Estou a andar pela rua de manhã, e a mente voa: Não sei bem porquê, mas pára no Telmo do Big Brother e nas suas frases geniais. "Haaa Célia, sua punheta!", de repente, a invadir-me a mona. Não aguento. Rio bem alto com a boca escancarada, as pessoas incrédulas a passarem por mim, peidos de gozo puro a soltarem-se das partes baixas.

Foi o melhor momento do meu dia.








J.

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terça-feira, outubro 10, 2006

Amputechture: Crítica.

Como eu esperava, o novo álbum do mars volta fica melhor de dia para dia. Já tinha postado uma imagem há uns dias atrás, mas hoje estive a ouvi-lo a tarde toda, a ir para a faculdade e depois para o chiado, e no regresso a casa também, e sinto-o a abrir-me as portas da sua - porque não dizê-lo - genialidade. Como já se esperava, considerando os outros dois trabalhos.
Ora bem: não é um álbum fácil, como nenhum dos três é, aliás. Acho, aliás, que é o álbum mais difícil de todos. Até eu tive dificuldades, a início, em conseguir vibrar como esperava com todas (ou quase todas - já lá iremos) as músicas, mas por outro lado também esperava passar por esse período de adaptação - quase inevitável até mesmo para o maior die-hard fã de Mars Volta. Ouvi-o também poucas vezes nestas últimas duas semanas porque o trabalho me roubou muito tempo.
Mas voltando ao álbum propriamente dito - no que é que ele difere dos outros? Para principiar, é o álbum mais “calmo” de todos. Tem oito músicas, e três delas são “baladas”: Respectivamente a Vicarious Atonement, Asilos Magdalena, e El Ciervo Vulnerado. O De-loused tinha em bom rigor duas, o Frances apenas uma.
Não se pense, no entanto, que é um álbum “calmo”. Nada disso. Acho que é o álbum em que mais instrumentos existem em simultâneo, no sentido de tentarem criar a maior explosão sónica possível (principalente na Tetragrammaton), mas por vezes o resultado é descontrolado, e algo, convém dizê-lo, espalhafatoso.
É o álbum mais calmo. Conceptualmente, é o álbum mais disperso de todos. Se em De-loused In The Comatorium tínhamos um subjacente sentimento de união entre as músicas, funcionando o álbum como uma espécie de viagem, havendo uma progressão perfeita entre canções (mesmo não se sabendo que era um álbum conceptual, com uma história e um tema subjacentes), e se no Frances The Mute essa ideia era ainda mais reforçada, com uma história mais óbvia e comum ainda, espraiando-se por cinco músicas (mais outra, que não coube no álbum), com os mesmos tópicos a serem desenvolvidos por todo o álbum, e músicas espelhadas em início e fim, aqui não temos nada disso. Apesar de não haver um momento para respirar (não há qualquer pausa entre as músicas) cada música vale por si só, e cada uma fala de assuntos variados, sempre esotéricos (desde os gritos do Cedric “Humans as ornaments!” Na Meccamputechture, até aos sussurros “I’ve been drinking black mirror again…” na El Ciervo Vulnerado), sempre muito distintos. Não há um factor de coesão, união, o que quer que seja. Pessoalmente, não gostei tanto dessa falta de união. Todos os álbuns de Mars Volta tinham uma profundidade tremenda, que não se esgotava nas canções, e cada álbum tinham um mundo próprio (mesmo contando com o scabdates, ao vivo), o que não acontece aqui. É pena. As imagens mentais continuam a surgir, com cores e tudo, diferentes de canção para canção, mas há uma ideia de falta de coesão. Talvez seja de estar mal habituado.
Menos Salsa e jazz, mais rock e avant-rock directo e agressivo.
Há também muito mais instrumentos de sopro, e não gostei tanto da sua utilização desenfreada (cortesia do Omar, revelando-se cada vez mais como um autêntico ditador, sendo este trabalho quase uma máscara para um seu trabalho a solo, maestro supremo). Se há músicas muito calmas e em maior quantidade, as músicas “a abrir” tentam ser o mais a abrir possível. E não conseguem. As guitarras parecem mais espalhafatosas (o John Fruciscante dos RedHot é responsável por talvez 90% dos sons de guitarra… digo isto porque tenho o ouvido treinado e sei distinguir perfeitamente entre o estilo dele e o do Omar), tal como a bateria (não tirando primor ao John Teodore, um dos melhores bateristas do mundo), mas, na tentativa de fazerem o som mais explosivo de sempre, penso que falham, com solos a mais, alguns devendo mesmo não existir para darem lugar a riffs inventivos e fantásticos, como me habituei a ouvir nos álbuns anteriores. Riffs aqui, aliás, é coisa que não existe, e, embora adore solos, tudo o que é demais enjoa. E não gosto tanto do estilo do Fruciscante, prefiro mil vezes o do Omar. É pena. Ainda assim, o álbum consegue pôr-nos a mexer, a querer saltar e dançar no meio da rua. Apenas os álbuns anteriores eram mais a abrir. Isso é outro factor negativo neste álbum.
No entanto, tudo o resto está excelente. A música inicial (e primeira balada do álbum), Vicarious Atonement, brinda-nos com as boas vindas de umamaneira ineserada (justamene: começar um álbum dos mars volta com uma balada). Estica-se até aos sete minutos, com uma letra tão bonita quanto misteriosa, cantada na perfeição ( I regret…/ Not killing you while I had the chance…/Baby I will always haunt you…): é uma canção de amor. Embora não pareça.
Deseguida entramos na música mais espalhafatosa do álbum, e, parece-me na minha humilde opinião, a música épica, core centre do álbum, que os mars volta pretendiam realizar - mas que falhá redondamente. É a maior, a mais “tudo”, com saxofones e trompetes, baterias descontroladas e bongos, solos desvairados e um baixo como sempre birlhante. Dura dezasseis minutos. E é isto que me lixa: durante 16 minutos não há uma única parte em que se encontrem todos os membros da banda com o seu som - parece que cada um tocou a sua parte sem ouvir a dos outros e depois juntaram aquilo tudo. E se essa técnica funcionou na perfeição com Miles Davis no seu Kind of Blue, aqui falhou. Não há um único Riff de jeito. Parece mais uma gigantesca jam session, nunca ultrapassando a fase em que os músicos tentam encontram um ponto de ligação entre os seus sons. Ainda assim, é óbvio que representa um passo em frente em relação ao tipo de som que eles estão a tentar conseguir, procurar. Só não sei bem qual é, e nem sei se me agradará tanto. É facto, comparado com esta música, todo o De-loused parece comercial.
Passamos para Vermicide, uma das minhas personal favouries. A mais “quieta” de todas sem ser uma balada, tem um refrão soberbo, cantado na perfeição. E mostra que os Mars Volta conseguem fazer qualquer tipo de música na perfeição, ou qualquer tipo de álbum rock. É curta (quatro minutos) para nos preparar para o próximo trabalho épico que aí vem.
Que começa da melhor maneira. Ainda assim, embora seja sempre a abrir, falta sempre aquela força da Cassandra Gemini ou da Cicatriz pelo álbum todo. Ainda assim: a Meccamputechture, nos seus onze minutos, tem o seu refrão, a sua progressão natural, e seria quase perfeita com umas pequenas, ligeiras, modificações, mas ainda assim fantástica.
Depois, a “grande” balada, sem qualquer tipo de explicação possível: Asilos Magdalena. Com a letra toda cantada em espanhol, e só uma guitarra acústica a acompanhar a voz, espraia-se por uns falsos seis minutos e meio - pois parecem três. É perfeita para ser cantada, em qualquer altura, em qualquer lugar, baixinho, ao pé das pessoas no metro, para provocar alguns sustos.
Passando para o single, tão brutal quanto a minha primeira audição no myspace. A música forte “mais fácil” de todas, é também uma autêntica delícia - com aquele estilo de forte/calmo/fortíssimo que progride muito bem.
São seis músicas. Falta o Day of The Baphomets, que, embora seja, talvez, a minha preferida de todas as músicas, só entra na sua melhor parte a partir dos sete minutos - aqui sim, roçando por momentos a grandeza dos álbuns anteriores. Doze minutos depois, o fim, para a ressaca que é El Ciervo Vulnerado, não havendo muito a dizer sobre a música… uma ambuletz diferente, acho eu, mas sem o génio da sua congénere.

Para finalizar, uma nota: apesar de todas as críticas tecidas, este é um grande álbum. Não o melhor deles, mas simplesmente diferente (com uma clara predisposição para as músicas calmas, a falta de um conceito ou história comum par o álbum, um decidido passo em frente, ou para os lados, em relação aos álbuns anteriores), consegue notar-se que era isto precisamente o que eles queriam, e não tanto igualar o que fizeram antes (O frances The Mute foi considerado um dos álbuns do ano em muitas revistas e próprio álbum do ano em outras, e o De-loused foi recentemente considerado pela guitar world um dos 50 melhores “guitar albuns” de sempre”). Acima de tudo, é um grande trabalho. Mas o mais difícil de ouvir de todos. O mais difícil, também, de criar um entrosamento com o ouvinte. E no entanto, é uma espécie de jogo já conhecido: primeiro estranah-se, depois entranha-se. Sei que o que agora mais gosto no álbum mudará completamente daqui a um mês, preferindo outras partes ou canções, porque, justamente devido à sua profundidade, diferentes pormenores se nos vão revelando a cada nova audição.

Como é óbvio, eu recomendo. Mas como primeiro álbum de descoberta de uma banda, nem este, nem o scbadates, seriam boas primeiras audições. É preciso paciência para a revelação. Mas ela chega, sempre, por mais tarde que pareça. Talvez daqui a dois meses já não tivesse qualquer tipo de crítica a apontar ao álbum - mas também é verdade que este talvez seja o menos bom, em comparação com os outros dois de originais.








J.

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segunda-feira, outubro 09, 2006

Primeiro

Primeiro dia de praxes. Caloiras, poucas demais para o meu gosto, giras, pequeninas. Gajos, demais para o meu gosto, giros, grandes. Vejo a cerimónia das velas, cravo uns cigarrinhos às caloiras, molho uns caloiros no corredor da morte, não me meto nessas merdices dos vernizes nem nada dessas tangas, converso com o pessoal reencontrado, agradeço aos deuses por ninguém me ter convencido a comprar o traje. Volto para casa, vou tomar um café com outra malta, o pensamento: acabou-se a boa vida.

Amanhã, aulinhas. e festas, e celebrações, mais reencontros.


Imaginem aqui em baixo uma imagem a cores do mário soares com 17 anos.




J.

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O último dia de Férias, parte IV

Venho de um café com a malta dos Pontos Negros. Então amanhã, na faculdade? Está certo, aí por volta do meio dia, meio dia e meio... Passa-se a noite sem grandes sobressaltos, sem a nostalgia que temia e que por dantes ansiava, faz-se a viagem de volta a casa a percorrer as ruas de Lisboa quase desertas.
Não é uma despedida de nada do que fui, ou do que quer que tenha vivido ou presenciado (sei, - que por vezes, é inevitável associarem-se certos blocos temporais fixos a situações que tenham marcado a nossa vida), foi só uma lembrança, Este é o meu último dia de férias. O passado já não mora tão perto - como explicar, agora parece que é tudo presente. Foi um bom ano, foi um Bom Agosto, foi um bom Setembro, e estes finais dias de Outubro, a darem o gostinho do Outono. Amanhã de novo o mânfio cá da casa volta: terceiro anista, mais snobe do que nunca, convertido ao judaísmo, finalmente celibatário assumido, membro convicto do Partido Renovador (mas é improvável que em tão pouco tempo mude tanto).






Até amanhã,



J.

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domingo, outubro 08, 2006

O último dia de Férias, parte III

podia fazer aqui uma canção ao último dia de férias


pensei que seria algo como, o refrão:


o último dia, é o nosso
último momento antes(...)
do primeiro momento que virá
depois"

Muito Jorge Palma. De resto, estou mais divertido (bem mais divertido) que nostálgico. As últimas sementes da minha adolescência perdem-se, com o inevitável passar do tempo, e com essa partida também a nostalgia "doutros tempos" ou, dos "bons velhos tempos". Que convenhamos, ou nunca existiram, ou são raros. Decerto, são muito subjectivos.
Ou seja: amanhã caloiros, praxes e reencontros. Hoje: mais alguma auto-bajulação por, apesar da tenra idade, ser um sobrevivente (quem diria), herói dos tempos modernos, quem sabe insuportável yuppie - consideremos todas as hipóteses e não mastiguemos as palavras.
A lamechice segue dentro de momentos.




J.

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O último dia de Férias, parte II

Dou uns últimos retoques num profile de hi5 que nem percebo muito bem. Chego a casa e são cinco e meia - masoquista, tens logo de pôr a tocar Fiona Apple, ainda por cima o Tidal. Mas desta vez, não vou ouvir a summer's almost gone, dos doors, ou a Summer's Gone, dos Placebo, mais logo à noite - acho que existem certas coisas que estão diferentes na minha vida. Passam-me imagens sobrepostas pela cabeça deste Verão, sei que ainda sou dos poucos que está de férias. mas tenho saudades das aulas, dessa vida, mas também vou ter saudades do momento na minha vida que deixei para trás. Enfim. Volto a lembrar-me de outras coisas, mais importante. Exito, entre ligar a uma pessoa e não ligar.





E tu?





J.

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O Último dia de Férias

Olarila! já se foi o Verão embora?






J.

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quarta-feira, outubro 04, 2006

Dias Violentos

É em dias como estes que tudo parece que já foi visto – tenho a certeza.
Tenho a certeza como a calma das frases curtas, enquanto este dia passa, violento mas adormecido, e na rádio só passam notícias sobre o trânsito, as filas nos supermercados estão todas silenciosas, o juiz bate com o martelo anunciando o fim da sessão sem dizer mais uma única palavra, e os pintores, os músicos e os escritores acordam angustiados, só por hoje já não ser ontem. É um dia violento. Tenho a certeza.
- Sempre tiveste muito medo…
“Querida Inês, por aqui está tudo bem. Só vi a tua carta que me mandaste, há cinco anos, agora, porque só agora regressei do estrangeiro. Antes de mais, quero pedir-te desculpas por não te ter podido responder mais cedo, mas, agora que regressei, estou disposto, a arrumar as coisas na minha vida, pouco a pouco. Embora devagar, é certo. Eu ando bem. A casa está quase vazia e despedaçada, foi assaltada uns meses depois de me ter ido embora. Os meus vizinhos puseram uma cartolina a tapar a janela partida para não chover cá dentro, mas mesmo assim há bolor pelas paredes todas. Só levaram uns móveis, os quadros e os electrodomésticos, o resto deixaram, mas partiram muita coisa. Foi muito estranho regressar à casa dos meus pais, sem ter ninguém à minha espera, e vê-la assim. É uma nova ideia, e uma nova vida, a que me vou habituando. Hoje e amanhã vou só sair para comprar umas coisas essenciais, de resto vou ficar por aqui a arrumar tudo. Lamento pelas notícias do bruno, eu – “
- Hoje à noite vou sair. Vens, e tiras essas ideias da cabeça. Tens de te guardar dessa percepção estranha que tens do tempo, como se…como se para ti estivesse a acontecer tudo ao mesmo tempo, é isso – tu crias ideias como se contigo se estivesse a passar tudo ao mesmo tempo
Aqui há uns anos sorriria se me dissessem que me encontraria neste preciso local, à beira de abandonar a pessoa antiga que, com os seus olhos, contemplaria esta paisagem simples, carros a passar os prédios, sempre imóveis, os céus e as árvores a desabarem todos. Alguém está a fazer amor naquele prédio. Ali, naquele prédio de quinze andares, alguém
- Vem, estamos todos com pressa.
“ – Diz também à Júlia que não lamento nada, não faria sentido, sempre que andei de autocarro pelas routes tudo se dissolvia num misto de silêncio, noite, e tempo, que ajuda ao esquecimento. Já não sou a mesma personagem, portanto não faz muito sentido, lamentar-me por aquilo que fiz quando agora já não o sou. Aprendi a matar as saudades que tinha por ela”
(uma voz grita)
- Tu vens por mim, eu estou aqui, tal qual como me deixaste, tão nova quanto me deixaste, tão virginal e onírica como sempre –
Pensando bem, têm sido todos dias violentos, estes, em que as pessoas sorriem só de olharem para o céu (é isso, é que é ser adulto)
, Os miúdos no terceiro ciclo são espancados num bailado bonito com um frio a saber a gripe no ar, é o Outono. Já ninguém escreve cartas. Já ninguém passeia de mãos dadas junto à praia sem pensar em nada de relevante.
“ Gostava de saber se já tiraste o curso de psicologia, por acaso. Ver-te é impossível, mas gostava. Se responderes, e enviares a carta para esta morada, também é provável que só daqui a mais outros cinco anos te responda, porque daqui a duas semanas sou talvez capaz de partir para”
- Ainda não é de noite. Ainda não…
Ela está deitada na cama, observando as sombras dos cortinados a abanarem, lentamente, contra a janela. E os padrões das cortinas a abanarem, impulsionadas pelo vento frio e calmo da janela, aberta de par em par, fazem-lhe criar imagens nos olhos, cansados de
(Lembra-se do futuro; Lembra-te do futuro)
- Olha para mim. Sente-me. Estou a abraçar-te! Olha para mim. Há quanto tempo é que estás com estas ideias, que tudo é negro, ou uma piada ou
O meu coração dói-me no peito. Como se eu fosse um grande íman que atraísse todas as ideias e essências, não consigo perceber o resto. Olho-te nos olhos. Tem piada. O reflexo que me é devolvido não é o meu. Ponho a minha mão entre os teus cabelos
“ Os ventos ensanguentados que costumavam provocar-me febres, passeando-se pelo meu corpo como lobos de sémen pelo meu peito já quase desapareceram. Estou muito melhor por isso, mas ainda temo todas as noites, as noites que sempre vêm, em que terei que entregar-me aos braços imaginários de um medo resinoso, que me influa nas narinas o seu desejo podre de procriar chamas gastas de raiva, traumas e esquecimentos. As imagens líquidas que costumavam intrometer-se entre mim e a tua memória também se tornaram mais esparsas. Como um sono. Enfim, talvez a vida seja um sonho, eu, que não sou filósofo, não sou de certeza o primeiro a cegar a essa conclusão (ouvi dizer que os sofistas”
- Volta, comigo, e quando te peço
Está um dia violento
- Que voltes comigo estou a pedir que o teu corpo volte, que a tua cabeça volte, que o teu amor, mesmo que seja desconhecido
“Como está o Baltasar? Se o cão ainda não tiver morrido, faz-lhe uma festa por mim; e se já fores casada”
- , mesmo que tenhamos, mesmo depois de voltares, de acabar tudo, mas volta, fogo estou a pedir-te que voltes, volta, Volta, Volta D
Vou sentir a falta desta violência toda, destes dias com cores diferentes que só eu vejo, das pessoas com sonhos nas íris e sorrisos no coração. Vou sentir a falta da esperança insuportável do amanhã, e o medo que um dia acordemos e sejamos todos, todos amigos, e profetas, e conhecedores de todos os caminhos que percorremos porque queríamos percorrer o Outro, qualquer que ele seja, que será sempre o chegar ao ponto de partida, e poder sorrir. Vou sentir falta de muita coisa. Vou sentir falta do vento.
“Perdoa-me, por fim, pela pessoa que fui antes daquele dia, em que senti, finalmente, que tudo tinha ruído para mim. Mas eu precisava que tudo ruísse. Precisava que tudo ruísse para poder partir, para poder renascer, voltar, relembrar-te. Ter saudades tuas e escrever-te esta carta.”
- Tudo o que seremos não importa nem tudo o que fomos, volta, perde esse medo, volta para mim, para o Mundo, para tudo, Ouve-me Volta
“Se, ao menos? Penso por vezes. Tivesse acreditado em ti, quando ainda éramos jovens, ou pelo menos nos sentíamos jovens…? Resumindo.
“Gostava de ter tido essa oportunidade.”
É engraçado, enquanto me sinto
Não consigo discernir
(- volta…), sussurra-me
Ao ouvido.
“Dá notícias, procura-me, aqui é tudo. Teu –”
Poderia ter tido tudo. Tudo, tudo, tudo.
(- Para todos nós…)
O meu segredo vai flutuar para sempre sobre este mundo violento, estas memórias violentas. O meu futuro ardente vai consumir-se, como uma estrela em miniatura, afogando-se no mar.

- Está bem.
(-) Vamos Ser Felizes.











J.

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terça-feira, outubro 03, 2006







Demorou mais do que eu estava à espera. Mas já nasceu. Já nasceu.







J.
(os paneleiros andam fora das portas)

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domingo, outubro 01, 2006

Jams Runs Free

Vem sentar-te um pouco mais a meu lado; sim... assim. Só quero que te sentes um pouco ao meu lado, para não nos sentirmos os dois tão sozinhos. esquecer por um pouco o pesadelo suado e metálico das ruas lá fora; Vem sentar-te ao meu lado, põe-me a mão no ombro...em jeito de gesto de carinho atabalhoado, se quiseres, mesmo que não tenhas muito jeito para essas demonstrações espontâneas...
Lembro de alguns dias parecidos assim, como este: eu na altura devia estar a entrar no secundário, e ainda tinha a ideia nostálgica dos romances de juventude. Eu conheço uma rapariga gira com estilo e personalidade a condizer, apaixonava-me por ela, ela depois por mim (porque imaginava na minha mente sempre apaixonar-me primeiro) e percorreríamos os três anos seguintes do liceu de mão dada.; Mas esse tempo nunca veio, essa rapairga nunca apareceu, e agora sei que nunca estive destinado a tê-lo, e então passei metade da minha adolescência a imaginar a vida que poderia ter. Com alguma sorte, amanhã, se um acaso fortuito do destino acontecesse. Queria percorrer esse caminho clássico, não me perguntes porquê (apesar de ser um caminho muito menos comum que clássico),e era assim que imaginava uma adolescência quase perfeita. Não precisas de me dizer muito, não precisas de achar que este é um momento em que, os dois, por estarmos assim sentados lado a lado um do outro, e em quase silêncio, nos devemos beijar. Não precisas de meter conversa, se não quiseres: acho só que temos sentido a falta um do outro, entre dias mais cinzentos entre horas que passam muito, muito rápido. E mesmo assim, não percebemos muito bem o que fazemos os dois ao pé um do outro. Despe a tua vergonha como despes a tua blusa, eu faço o mesmo. E nesta idade em que não sabemos bem onde estamos ou devemos estar, e neste mundo que não se tornou necessariamente no que queríamos, nem que (tão novos já...) imaginávamos, vamos olhar-nos, algo envergonhados..., como se fosse a primeira vez que estamos a descobrir o fascínio que são as outras pessoas. Vem sentar-te a meu lado.
Dá-me a tua mão, ainda que seja a esquerda. E deixa-me, ao olhar para os teus olhos, silenciar de novo.





J.

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