quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Alguém que o agarre!!












P.

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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Cabra, parte 2

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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Cabra, parte 1

A cabra está sentada a sorrir como uma cabra, pele flácida e nojenta e branca como uma morte anunciada, a garrafas de gin e licor a pedirem que as chupem mais e mais vezes, o gato preto magro da cabra debate-se do aperto da sua mãe, e cabra sufoca o gato e enfia-o na cona para sentir prazer, para se masturbar no seu próprio ideal de cabra, a boca da cabra contorce-se e distorce-se em vários sorrisos, vampíricos uns calculista e de cabra outros, outros maquiavélicos ou incontinentes de fealdade, as mamas mortas e descaídas a espreitarem atrás de uma túnica suja, deslavada, a cabra matou meninos e destroçou a vida de muitos outros apenas sendo, existindo como cabra, abre a sua cona, da cona sai outra cabra, cabra, cabra mil vezes cabra, expelida num vómito vaginal de fumo negro, minotáurica, chifruda como por dentro cabra é e cabra foi e a cabra cabra-te, cabra, sua puta, vais foder com a tua própria cabra e seres ainda mais cabra se possível, cabra, cabra, o teu nome

Conhecem-no os demónios



J.
(parte2: Mina Angelova)

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Você quis dizer: Navalha Blog search?

Desde que a Navalha tem um site meter, que eu e o meu primo por parte do meu bisavô P. nos divertimos a ver o que a malta pesquisa no Google (ou "Guga", como ultimamente tem proliferado) para ir dar aqui a este antro de perdição, más línguas, gajas feias e homens possuidores secretamente de três testículos...e meio. Não somos os único. há outros blogs de gente parva (mas sexy) que também se dedica ao mesmo, como este, e passamos tempos interessantes, entre duas linhas de coca snifadas e dois ou três choros sentimentais de muita cerveja - ou caipirinhas, quando estamos mais in touch com o nosso lado feminino - a rirmo-nos dos incautos que nos vão visitar com pesquisas como "conas abertas", "tomates peludos" ou o já clássico - mas ainda relativamente incomum - "sexo com a minha avó". Bueno. Portanto nos últimos meses andámos a guardar as frases mais parvas que as pessoas usam pra virem cá parar. E, sim, não é um mito: quem pesquisar por putas libanesas vem mesmo cá parar. direitinho. Os imbecis que se seguem não foram adulterados de maneira nenhuma.


Para a Navalha, foram:

frases de romântica em português

fotos de cobras gigantesca engolem homem

kizomba merda

sonhos caninos

imagens giras de góticos

"pedro lomba é"
(é Deus, seu gay)

diminutivos eruditos

suo muito quando bebo água a noite
(bebe vinho. haha.)

os loiros gays mais sexys de Portugal

ouvir melhor discografia de kizomba

falta de plaquetas no sangue

poucochito

palavras começadas por rock
(Gosto desta. Porque durante meio segundo até parece inteligente)

aplicação invertida da teoria da desconsideração
(pags 265 e segs. do livro Teoria Geral do Direito Civil do Pedro Pais de Vasconcelos - aquele com cara de quem anda na pinga e gosta de meninas brasileiras)

sambade

Hi5 tenho saudades do nosso intervalo

Blog “tenho sida”
(esta é forte)

Confundiu um travesti com a mulher
(deixa lá, já deve ter acontecido a todos nós. ou então não.)

site de sexo gartes
(vocês quis dizer: sites de sexo grátis?)

"cortar o clitóris" significa
(signifca geralmente uma dor do caralho)

poema 3ªidade
(sou eu, baby)

freiras ardentes
(Esta é contigo, P.)

velocidade do submarino atómico
(4)

fotos caloiras psicologia

balão fúria balão arte

fotos de anjos negros com espada
Dragan com a sua espada Steel Blade nas montanhas de Rorix)

qual a cor do comprimido êxtase

roubaram-me o carro e agora?
(Olha, agora fode-te)

meninas mostram os seios no big brother

quais os possíveis perigos para quem sai a noite?

homem fêmea

um dia o destino irá juntar-nos meu amor
(gay)

quando a vi senti uma forte atracção

a gengiva sobe quando nasce o dente do siso

kurt cobain pintava o cabelo?
(Sim, Sem dúvida.)

"penis pump" +sempre
(Esta quase que ganhava o prémio para pesquisa mais bem delinada. Não sei bem porquê, mas háqualquer coisa que mexe dentro de mim quando leio "penis pump" mais sempre.

Dói-me o peito e o braço esquerdo

slides com imagens giras


E, por fim, o meu preferido:

quero jogar agora jogos de incríveis felinos





daqui, é tudo. E agora, como diria um morenaço qualquer (tu sabes quem és), vou ali matar-me batendo com a cabeça contra uma parede e já cá venho. E para quem vem cá a pesquisar coisas destas, continuem por favor. São vocês, seus tarados e doentes, que mantêm o espírito d'A Navalha vivo.






yeah baby,
J.

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007


(sim, este tipo estava mascarado)



Voltei do Carnaval! Foi porreiro, para dizer o máximo. E o mínimo. Enfim, foi porreiro. Doidos ofereceram-me o rabo (“anda ali, vamos ali eu e tu”), pastores sem dentes mascararam-se de anjos com funis na cabeça, gaitas na boca, pedaços de inhame na mão, samarras e ramos de azevinho nas costas a fazer de asas, queimou-se o Entrudo cuja pila improvisada foi feita com uma mangueira. Fiquei atolado com o jipe de um amigo meu no meio do campo e confundiram-me várias pessoas, ao longe, com o meu avô que já morreu há treze anos, enquanto andava de cabeça baixa. O meu avô morreu há treze anos. Que grandes bestas. E mais? Mais nada. Tou com sono, andei a dormir pouco, a amar muito, a filosofar assim-assim. E como todos nós sabemos, amor, filosofia e sono nas proporções certas dão uma bela – e deliciosa – tarte de atum.

O meu Carnaval foi giro. O meu Carnaval foi assim.



J.

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terça-feira, fevereiro 20, 2007

bocejos.

Somos fruto da mesma antiguidade sem sentido. Salvei-te, certo dia, de me teres. Salvei-te de horas incontáveis de tanto cansaço, de tentativas falhadas, de projectos que nunca poderão ver a luz do dia. Foi assim. Sempre fiz pouco. Sempre soube que era pouco. Hoje não vês tudo aquilo que eu sempre fui. Hoje já não estás aqui para me ver.

Sim, eu sei.

Dito assim parece simples.


P.

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Eu
Tento ordenar o rumor que vai de mim
ao insucesso -
faço-o
mesmo sabendo
que todos os dias me levas
por essa espiral mental
a que chamaram de amor.
Hoje
Encontro-te, face leve da minha violência
dividida como nos contos tristes.

já vais longe.
eu não.
ainda tento ordenar o que me pertence.
ainda acredito que vais olhar por cima do ombro.



P.

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At The Drive-In - Invalid Litter Department




estudo jornalismo. adoro música. esta música combina terrivelmente bem as duas coisas.
enjoy.


P.

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sábado, fevereiro 17, 2007

Tonight



Oh tonight
Oh tonight,
Oh tonight
I got it really bad

Maybe I'll go out walking
Don’t feel like staying home
Might take the car up to the hills
And watch the city lights below

Yes tonight
Ah tonight
Oh tonight
I got it really bad

Maybe I should call her
Ah but then she'll know
Just want to drive out into the night
And see where that road goes

Ah tonight
Oh tonight
Yes tonight
I'm feeling low


Ah the restlessness that's in me
Don’t do me any good
I know I really should stay home tonight
But I don't think that I could

not tonight
Not tonight
No, not tonight
I got it really bad

Not tonight
Not tonight
You won't find me tonight
I got it really bad



Sempre imaginei que seria "hit", em vez de "it".

Volto quarta.




J.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Oslo 1

Apanho o avião para Oslo com duas gramas de coca nas cuecas e um cartão inteiro de ácidos entre a camisa e a t-shirt, pouco suspeito, às oito e meia da manhã ainda os raios de sol não cegam por trás dos vidros cobertos de metal do aeroporto de Lisboa, enfio-me no avião e sento-me ao lado de uma loira de quarenta anos que vai em negócios para a Noruega e diz-me que faz isto quase todas as semanas, casada, dois filhos, um cão chamado Ruca, a aliança comprova-o, as mamas ainda estão firmes e sorri-me muito com os dentes brancos, aterro em Oslo e está um frio do caralho, antes de sair do aeroporto mando o meu primeiro ácido volto-me brinco um bocado com os trolleys sigo imediatamente para o hotel faço o check-in já imerso na viagem brinco com o funcionário a falar-lhe em inglês aportuguesado a vista da janela é porreira encontro duas miúdas na rua a quem proponho fazermos um menáge mas elas recusam de modos a que deambulo pelas ruas roubo uns cigarros de uma banca e meto-me à aventura pelas ruas de Oslo até encontrar um centro comercial, os centros comerciais em Oslo


Olhos escurecidos
Pela repentina ausência de
Inspiração
Num canto, preso com alfinetes
Uma sombra avinagrada de esperança
Em
1989.

E danças como se
Como se
Eu quisesse um pouco mais de
azul,
Ou


Há texturas, e sombras, dos mais variados tons, das mais variadas cores ou emoções.
Gosto especialmente de certos ventos. O meu preferido é o vento que acontece no fim das tardes de Verão; não sei se conhecem. Morno, leva com ele e bate-nos na cara folhas e pétalas secas, e pólenes mortos, ou enche-nos de sal quando vimos da praia, cansados, os cabelos espessos, as caras a arder


E tu
Eu? Eu o quê?
Olha para aqui. Olha para este espelho.
Estou a ver.
Que idade tens?
Espera…física ou mental?
Sentimental.
Sentimental…é difícil. Posso dizer um nome?
Podes dizer uma memória.
Certo. Como é que te chamas?



Fecho a porta e a luz que imaginei cega-me. Volto a olhar e só tenho de novo a cidade a olhar para mim.
O crescente da lua no céu do dia cega-me a inteligência de olhar em volta.
À procura, sabem, de um ponto, de um sinal cardeal.
Uma estrela polar; metaforicamente, talvez.




J.

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Devendra Banhart - I heard somebody say

Um dia Devendra saiu de casa com a guitarra às costas. Podia ter sido só mais um falhado.
Mas tornou-se músico.

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Piano Bar

- A vida não vale a pena ser vivida - disse, gesticulando com as mãos e o vento a desalinhar-lhe o cabelo - já não há prazer por nada, já tudo foi descoberto e feito, é tudo um anti-clímax brutal! Meu Deus, mais valia morrer agora mesmo, não se perdia nada. Olha para mim. Tenho vinte anos!
Olhei bem para ela. Dei-lhe um tiro na cabeça, espreguicei-me longa e lentamente, e fui-me embora apanhar o metro.





J.

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domingo, fevereiro 11, 2007

Cartas ao meu sossego, parte II.

Hoje é o dia.
Está mais velho. Cabelo grisalho, parece tão cansado.
Ela pode vê-lo.
|| Dá-me a mão, por favor. Vá, anda lá, já pareces o teu pai, sempre sério, como se estivesse sempre à espera que algo de mau aconteça. Ainda temos três horas até o teu táxi chegar, não vamos ficar aqui sentados a olhar para o ontem! ||
Se tivermos alguma sorte, pode acontecer que por duas ou três vezes, numa vida inteira,
o Tempo descansa um pouco da sua eternidade só para nos ver. No tempo de uma simples e pausada respiração, a terra pára de girar por um instante, e nesse instante dá-se um pequeno passo, alguns anos no futuro, e quase que o podemos tocar ao de leve.
Ao de leve.
É assim que ela mexe no cabelo, numa timidez falsa. Conhece-o há demasiado tempo para se sentir nervosa, mas tem, ao dedilhar no seu cabelo, o toque de toda a força de uma feminilidade que sempre o deixou enternecido.
Ele, ainda ofegante, vai esperando.
Ela deixa a pausa prolongar-se.
Sabe que a cada segundo que passa vai crescendo, aos olhos dele, até se tornar num gigantesco ser que já ultrapassou os céus da cidade que os juntou.
Do outro lado da rua passa um miúdo. Percebe-se pelo andar pois a cara está encoberta pela sombra do capuz. Olha de relance, para o homem e a mulher que estão parados. Hesita, por momentos, se deve parar, mas continua; caminha agora mais decidido.
Ela dá um pequeno passo, silencioso como os passos dela eram sempre, e aproxima-se um pouco. Vamos agindo, assim, pois são tantas as vezes em que não nos apercebemos do que faz o nosso corpo quando nele pensamos que estamos a mandar. Parece que nunca pousa os pés no chão, pensa ele, enquanto ela se vai aproximando.
Estão agora a alguns centímetros de distância. Ele já não tem a cigarrilha na mão. Ela estica devagarinho o braço até o tocar na face, passa com os dedos pela barba que ele decidiu não fazer por uns dias.. Os dedos. Sempre pensou poder sentir todas as memórias com a ponta dos dedos. Baixa a mão, sempre em contacto, descendo pelo peito abaixo, até lhe segurar na mão. Aperta-a com força. A chuva, o frio, tudo à volta deles faz um pequeno esforço para se mostrar um pouco mais meigo. Começam a caminhar, lado a lado, no mesmo andar sincronizado, como se dançassem ao ritmo da música que inventaram nas suas mentes. A mesma música, a mesma ansiedade, agora a mesma calma, agora que estão juntos, já em sossego.
|| Eu disse-te que ia ser divertido… Um dia destes vais ter de começar a acreditar nas coisas que te digo. ||
Sem nunca se falar, podemos vê-los agora a afastarem-se.




P.

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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Este post não é sobre amor

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J.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Magrévia.

Sou um gajo simples.

Acho que posso ser um bom pai.

Acho que consigo não ser demasiado romântico.

Atrai-me o belo nas situações que não são belas por natureza.

Gostava de percorrer os desertos todos da Terra.

Gostava de, quando regressasse, fazer um jantar com todos os meus amigos.

Gostava de lançar um livro no mesmo dia em que lançasse um disco.

Gostava de conseguir falar fluentemente sete, oito línguas no mínimo: inglês, francês, alemão, espanhol, russo, indonésio, crioulo, outra qualquer.

Gostava de tocar saxofone.

Sei que um dia vou ter medo da felicidade toda que tenha conseguido ter. Esse dia vai ser tremendamente angustiante.

Gosto de ti. Gostava de poder lembrar-me: de como era esta expressão, antes de perder toda a sua força. Ou, o adoro-te. O adoro-te já não tem força nenhuma. O amo-te ainda menos. É necessário criarmos novas palavras. A primeira palavra que inventei foi para uma flor inventada. Isso não faz qualquer sentido.

Era uma Magrévia.

Gostava de aprender a tocar guitarra nos pântanos do Mississipi com um daqueles velhos pretos, desdentados, que venderam a alma ao diabo, quando eram novos.

Gostava que o meu filho se chamasse Rafael. Mas nunca lhe vou chamar Rafael. Porque toda a gente lhe chamaria Rafa, e eu acho esse diminutivo feio.

Se eu fosse um soldado…

Quero chamar-te pelo nome e tu perceberes tudo só com a força com que eu profiro as palavras.

O silêncio intromete-se entre nós. Eu devia saber.

Nós nunca aprendemos a falar através do silêncio.

Do Nosso silêncio.




J.

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Nota

Return Of The Vein

Continuo a ser perseguido por imagens. Não visões: imagens. Imagens que irrompem de músicas como se fossem corpos a tentar romper membranas, de filmes que não as possuem, de frases que, de algum modo, reverberam e mostram-me outras coisas que elas não são. Continuo a ser perseguido por imagens. A música Dyna Sark Arches, sem qualquer letra – uma velha a coser mantas numa casa poeirenta no México, miúdos que comem alcatrão de olhos vermelhos, e ladrões silenciosos como ninjas que são também observadores e conhecem todos os segredos desse mundo contido nessa imagem. É só um exemplo. A rua á minha frente é um ruído – um som, uma mescla difusa de sensações e as pessoas vultos – por vezes é como me sinto de verdade, não há nenhum medo nem nenhuma ideia romântica por detrás dessas veias. Babel, apenas isto: o ângulo perto do chão e um homem encostado ao vão de uma porta aberta, luz a provir de fora, o seu corpo é uma mancha negra – esta imagem não aparece nunca no filme. Continuo a imaginar-me a cuspir sangue, num beco, num prazer quase indecente, agarrado ao estômago. Continuo a ver-me de cócoras num muro a falar com um sem abrigo cujo nome conhecerei. As minhas dores de cabeça são amarelas, o meu deslizar, violeta: é assim que penso, acho que sou cromático. As memórias, bastante azuis. Se forem de dia, com demasiada luz que elas não tinham inicialmente, e se for de noite, demasiada escuridão, como se uma câmara filmasse sem qualquer tipo de luz.
E ando a estranhar bastante: a vida está a correr-me bem. Por vezes pergunto-me qual será a cor dessa mesma ideia.



J.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Call to Dive

Vais mergulhar
Vais chamar todos para mergulhares
Estas ruas outrora eram mais limpas, e
Estas ruas outrora não tinham o nome de ninguém escrito nas paredes enquanto toda a podridão aparecia como se de uma piada,
Se tratasse e tu comesses o alcatrão das vias públicas, imersa submersa em paralelos vendo os homens com as suas pastas e fatos de classe média a apertarem-se criando gotas de suor ácido nos transportes públicos, as saunas da felicidade ardente
Passam-te ondas de dor pelo lado esquerdo da face,
Parabéns, saiu-te um enfarte, ajoelhas-te no meio da metrópole, os fumos asfixiam-te e , ou nada há mais para além da tua dor,
Expoente máximo da desorientação ao seres agarrada por dois malucos, babando-se e implorando que te levantes, O sol está preso num pau a Lua há muito que ardeu
Os lamentos guardam os gatos escanzelados ou os mendigos feitos de pó juntam-se
Ao pé de fogueiras de carros e riem, riem
Ante mim que fotografo a nossa própria destruição, a cidade
É uma doença castanha, uma bolha gigantes de pus e ainda assim
Mergulhas,
Ainda assim lamentas quem não mergulha contigo, uma agulha presa à febre das nuvens
, os miúdos aprendem contigo as lições erradas e safam-se doentes com a sua própria existência de chacais,
Abandonam-se nas suas camas os pais, de comprimidos
Repletas como uma pedra de vidro,
Límpida em risco de estilhaçar todas as suas próprias incertezas,
Antes
Da próxima manhã as artérias da cidade se entupirem outra vez com os nervos e as raivas e as mortes iminentes de todos aqueles que
Se aprisionaram
E ainda assim mergulhas
E ainda assim enfrentas o próprio inferno consciente que voltarás
Mas são os doidos que te carregam para um passeio engordurado com fezes dos animais vadios e pequenos oceanos de saliva escura que
Te fazem contorceres-te em espasmos de agonia metafísica, ou
Outra
Suicida-te com uma pistola de Botox,
Antes de mais outro chamamento
Não sejas um herói de
novo
Não sejas mais um

Mergulhador







J.

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sábado, fevereiro 03, 2007

From Madchester, with love





Porque um gajo está condenado a sentir-se bem. - - J.

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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Elisa

Elisa, pega na carteira e acompanha-me. Vê-me junto ao mar. Fico bem nesta pose, nesta fotografia? Esta fotografia vou queimá-la quando me magoares porque foi tirada por ti, Elisa. A minha mãe não sabe de i, e tem medo de ti, Elisa. Elisa, vou abandonar-te junto à praia. Quero que penses na tua vida toda, inteira, enquanto não regressas a casa. Com sorte, as nuvens ali em cima que já ali estão desde ontem dão uma ajuda, e pode ser que penses na tua vida, molhada. Há já muito tempo estão para desabar. As nuvens, Elisa. Não as tuas convicções.
Elisa, não vale desapareceres durante umas eternidades e depois voltares, mesmo que depois me digas sempre que estiveste fora por pouco tempo, e que para mim é que pareceu muito. Eu quero tudo de ti, Elisa, não te quero só aos bocados. Quero odiar e ter sono de cada cabelo e dedo teu, pega em mim quando estiver com uma overdose no sofá a rires-te, a minha boca a espumar amarelo, aqui no mar, ele a desabar e a ribombar contra a casa. Achas que dou um quadro bonito de neo-arte? Eu sou muito bonito, não sou Elisa? Eu sei que tu sabes que eu sou muito bonito, porque me queres devorar de cada vez que admites até que eu até sou um pouco mais do que nada para ti. Como vieste aqui ter, Elisa? Não há um carro nos arredores, o penhasco tem as escadas partidas e a estrada cortada desde o último vendaval, o mar não perdoa quem tente trepar a falésia, e não vejo aqui nenhum dos teus amigos ainda mais altos que eu e com um rosto mais cinzelado. Sou eu como os outros, Elisa, mas numa mudança espalhada de situações? Pára com esse sorriso ou arranco-to á dentada e segue-me, criança marota, tu que já violaste mais homens do que aqueles que os teus olhos têm a coragem de me dizer. Vou mostrar-te a minha música que tenho composto com gaita de foles e uma harmónica que encontrei caída no armário do meu quarto há umas semanas, é terrível, não é, cheia de agudos e desafinada, pensei em ti enquanto compunha estas peças, queremos destruí-las, como tu, mas não conseguimos evitar o fascínio que essa demência quase bonita de tão grotesca que é nos causa. Ao fim e ao cabo, são só músicas. Como tu, Elisa, que és só uma mulher de cabelo demasiado curto (e eu nunca gostei de mulheres com cabelo curto, não percebo), só uma mulher, só uma falésia, uma praia, um penhasco. Uma estrada cortada, um quadro por acabar a tentar demonstrar o diálogo perfeito que nos definiria, mas que está a meio numa tela quase branca, só o mar,, a explodir contra a janela, fotografias em que faltam lá corpos, existências, algo que te explique para além do teu corpo. Segue-me, Elisa, porque já sei que desaparecerás sempre e voltarás também sempre, podes pousar o casaco na cadeira. Olha como eu tenho uma cara maligna, maléfica. Não é bela? Mandei-a umas quantas vezes contra a parede, quando era mais novo, quando ainda te tinha na minha vida e a própria parede me dizia o teu nome no eco do estrondo. Diz o meu nome, Elisa, diz o meu nome se tens coragem, com o que o meu nome mesmo significa para mim; e faz sexo comigo por causa disso, usa e abusa de mim, parte de manhã com a chuva e as cortinas a entrarem pelo quarto adentro, a maré a subir, lá muito ao longe,, e um homem abandonado na cama, nu, com frio, a sonhar com o desejo de nunca acordar. Ou acordar, Elisa, e não ter tido nunca nenhuma Elisa na vida.








João.

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Cartas ao meu sossego, parte I.

Vestiu a gabardina cinzenta e levantou os colarinhos, para poder esconder as orelhas e o queixo do frio que fazia lá fora. colocou as luvas, o cachecol por cima de tudo. inspirou fundo antes de abrir a porta. sentia-se a geada, na primeira manhã de fevereiro, e a rua acordava de mansinho para mais um dia normal. caminhou ao longo do passeio, uma ou outra luz de néon piscava timidamente – um homem mais à frente rodava a chave para as grades metálicas se erguerem, rangendo. tirou do bolso uma cigarrilha, solta. todos os dias tirava do bolso uma cigarrilha perdida, como se fosse o seu único truque de magia. isqueiro a gasolina, a chama a tremer, resistindo, uma baforada pequena, seguida de outra, e uma mais longa. caminhava. um pouco mais próximo do silêncio. ele procura, ainda que não se encontre, por tudo o que o traga de volta. meses antes passava por esta mesma rua, na cidade que nunca conhecera, na tentativa de se defender. já nessa altura tudo era mecanizado, cada gesto possuía a força de uma lógica imperceptível, como se não pudesse fugir das contas que o destino decidira por ele. sentava-se na mesma mesa, junto à parede, mão esquerda apoiada, mão direita segurando a chávena de café, pousava a chávena sempre com o símbolo virado para o peito, rodava ligeiramente o copo de água e só então olhava em volta, só para se certificar da sua própria discrição. nada mudava. por essa altura, ainda antes de tudo acontecer, questionava-se sobre quem tomaria o seu lugar. responderia, caso o chamassem pelo nome? atravessou ao sinal verde para os peões, e uns metros mais à frente virou à esquerda.
abrandou o passo enquanto olhava para o relógio. depois deu uma passada mais forte, seguida de outra - sentia a pressa a impulsionar a passada seguinte até perceber que corria. ainda tinha alguns minutos. a ansiedade faz esquecer a vontade de tossir, pensava – e já só conseguia correr. tudo se conjugava agora à sua frente, afinal fazia sentido ser desta maneira. o cachecol serpenteava ao vento, tocando-o ao de leve nas costas só para se voltar a erguer, e ele não parava, passa por um miúdo a atar os ténis, o puto espantado. e ele corre. falta só mais um pouco, vira novamente à esquerda, quase atropelando uma mulher. pensava ele que com o tempo já tinha aprendido a ser mais calmo, mas está quase. está mesmo quase. sim. em breve saberá. já a vê. só pode ser, e está a cada passada um pouco mais perto. mas ela vira-se, de costas, afastando-se, e o instinto diz-lhe que levante o braço, em desespero, como se a pudesse agarrar se ao menos conseguisse esticar um pouco mais os dedos e no preciso momento em que vai gritar Espera ela pára, a palavra presa na garganta, o braço a baixar obedientemente, enquanto ela se vira, preparada para o olhar – e já as primeiras gotas de chuva do dia começam a cair na diagonal, como se fossem pequenas navalhas lançadas dos prédios.





P.

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