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Vem comigo, disse a tartaruga, deixa esses conas para trás que não valem nada!
engrenagens a passarem por imagens semi-sólidas em vidros transparentes quando os candeeiros se entrecruzam, velozes, dança um chibo no meio de um arco inscrito na estrada voltaica. Vai-te foder tartaruga, tu gostas de putos novos que eu vi. Por trás dessa tua carapaça esconde-se sei lá eu o quê, eu contigo em cenas não me meto.
Anda lá meu vem comigo e conehcer as verdadeiras tardes diferentes: estou-te a dizer pá, há tantas coisas que te podem dar.
Botas de salto alto, promessas partidas como vidro.
Metas?
Metas, é certo, e os olhos azuis mais lindos que já viste em qualquer rapariga com lábios de lolita. apanha elétricos em andamento e percorre o rio até chegares ao mar da palha e sentires-te como a primeira pessoa a cheirares esse lodo, salgado, das salinas e dos flamingos. Mas tu és um pedófilo não és, tartaruga? Ou já foste? Já fui. Certo, tartaruga, isso é o que todos os pedófilos dizem; mas comigo é diferente, eu sou uma tartaruga.
uma vergtigem no chão mata uma amizade e meia (porque ele estava de mãos dadas com a namorada) e o café e a bifana comprada na roulotte dão a votla ao estômago para o corpo cair na calçada preta e branca, as pedras, pretas e brancas, os padrões pretos e brancos como um vórtex. pausas, matizes e colorações de cheiros do mar.
Então? A tartaruga olhava-me de perfil, nas duas patas, enquanto um cigarro se consumia pregado à boca dela; nunca percebi como é que conseguiam mantê-lo na boca assim. O círculo voltaico ainda lá estava (e atora com pigmeus à mistura que se tinham metido no meio) mas não pude evitar pensar no que a tartarua me teria mais para dar para além do que me disse, para além de todas as sensações e de uns olhos azuis pertencentes a uma boca com lábios de lolita. Pergunta, fiz para mim mesmo nesse momento, poderá um tipo abandonar tudo sem olhar para trás? poderá um tipo abandonar tudo sem olhar para trás porque só assim se abandonam as coisas verdadeiramente, e mesmo que conseiderássemos esta hipotética situação de abandono total quem se encontra logo no início no limiar da porta da outra fase da minha existência é na verdade uma tartaruga mágica com tantas coisas novas para me ensinar nas suas frases crípticas e conhecimento de séculos com um português muito vernáculo e cigarro ao canto da boca, passada pedófila e uma pala num olho, qual camões ressuscitado?
Resposta: Sei lá, talvez.
J.
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Rudyzio de carnes, Rudy, Pah, Deus, Tempo.
18 anos a redefinir o círculo.
J.
(P.S., desculpa o livro cheio de gajas com pilas. Não sei mesmo o que me passou pela cabeça)
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- O que é que eu achei do teu livro? Estava mais ao menos, assim-assim. A história não é má, se calhar forçaste um bocado a parte do submarino? Mas do resto até gostei, às vezes os teus ponto e vírgulas parecia que ganhavam vida própria! Mas tirando isso tudo gostei. És muito orgânico, e muito ausente, acho que és sobretudo muito ausente; acho que parece que nunca estás, lá mesmo mesmo, a contar a história (talvez tenhas exagerado um bocado nos detalhes das personagens femininas, principalmente na Sheila e na Renata), mas isso também se calhar é por seres homem, mas tudo bem, o leitor assim também acaba por saber um bocado como são as mulheres. Mas não parecia que estavas um bocado apaixonado pelas duas? Assim, a forma como as caracterizaste?
- Inspirei-me em algumas pessoas reais, raparigas e assim
- Foi, não foi? Eu por acaso calculei logo… e já agora, tenho-me esquecido de te perguntar isto antes, ando morta por saber!, como é que, as cenas do submarino, o, como é que sabias com tanto pormenor como é que era o funcionamento das máquinas do submarino atómico?
- Inventei completamente, por acaso.
- Haaaaaaaaa. Isso é muito interessante! Dás-me um cigarro? Obrigado. E tens lume? Há, óptimo… Sabes o que eu achei? Acho que há uma quebra fundamental na própria estrutura da narrativa no livro, mesmo apesar de não se notar muito… imperceptível quase, tudo bem, mas a partir do capítulo sete: parece, acho que pela forma como usas as metáforas, mais duras e frias, assim que houve uma…
- Era para tentar veicular a mensagem de que as coisas iam ficar mais complicadas e que se estava a entrar na recta final, foi mais ao menos essa a ideia
- Claro, logo no início quando ela desce a calçada do Mónaco!
- Isso. Mas e da história, que é que achaste da história em si, achas que estava bem contada ou assim.?
- Há, a história? Completamente, embora por vezes não conseguisses imprimir velocidade à narrativa mesmo quando ela pedia que tudo se passasse muito rápido, percebes? Principalmente nas partes em que há aquele jogo com eles todos em que eles entram e saem ao mesmo tempo dos táxis e estás a falar deles todos ao mesmo tempo sabes? Porque se calhar é assim mesmo o teu estilo de escrita, se calhar és muito paisagístico e espraias-te nas descrições!?
- Por acaso tentei evitar isso a todo o custo, és capaz de ter razão.
- Mas tudo o resto está excelente, excelente, a sério! O final é previsível como se estava à espera; passas-me esse copo para servir de cinzeiro?, mas pela própria narrativa era mesmo assim que devia ser, não é, não sei.. eu gostei muito, achei que estava um livro muito engraçado, até.
- É. Também não é dos meus melhores, ou dos que me tivesse divertido menos, também. Foi assim uma espécie de…………………………..
J.
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Dentro da fibra de vidro das paredes encontra-se o ar apertado numa redoma de plástico duro e polímeros concentrados em pasta de gesso, filtra-se o ar; está um pano de vidro na janela. A luz refracta-se entre os poros de um oceano refractário.
Devagar, devagar agora. Afasta-se um ângulo e desfocam-se as texturas, lisas e dispostas geometricamente como espigões circulares. Sai uma mão da vista armada, prende-se o branco dos cabelos com o branco da luz coalhado, parece, por uma espécie de janela picotada.
Devagar, ainda, mesmo sem parar quieto. Encontra-se imóvel a luz, mas o ar move-se de forma agressiva, apesar de periclitante. Agressivamente periclitante. Suga-se o suor de corpos que não se vêm mas que devem estar mesmo ali ao lado, porque o ar tem o sabor do sal. A visão repousa numa mesa polida como água de vidro. Pedras de verniz forram a paisagem, ao fundo, numa parede, est, es
Estática. A luz está estática, o ar treme e as paredes estão molhadas enquanto os materiais se misturam uns nos outros, ou contra os outros. A câmara hesita. Está a filmar mesmo de frente para o Sol, que não vê. E isso impede de ver o que quer que seja mais, a não ser silhuetas brancas. Não vê cortinas na janela, a mesa suspira e viu tudo o que se passou nas costas da câmara, na divisão da casa, ainda
Imperceptível, o fim do fim de um conto, a casa está mais viva com a luz que cega, as silhuetas recortadas a branco, os materiais que suam, o tampo de mesa que fala zumbindo quieto, sem se mexer.
Sopra um vento lá fora que a câmara não capta, nos canaviais.
J.
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Cilonen
Os meus exames correram bem. Acabaram hoje. Foram eles a causa De um maior silêncio.
Amanhã A Navalha regressa, num novo formato, pronta para uma revolução, tremendo, tremendo, nasbatidas de um compressor analógico
[banho de espuma analógico]
E quem souber o nome associado a esta imagem leva um pontapé nos tomates.
J.
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Ozymandias
- O meu nome é Ozymandias, rei dos reis, mestre e prisioneiro das ideias sólidas para todo o sempre.
O deserto prolonga-se até a vista não mais o poder perscrutar.
Uma construção monstruosa é o único elemento na paisagem. Um velho caminha sozinho no deserto. A custo, na sua passada lenta, chega junto do palácio que se ergue, só, sobre as areias. Levanta os braços e desfaz-se numa nuvem. Metamorfoseado, penetra nas paredes da estrutura. Lá dentro, esconde-se por detrás de uma das cortinas de veludo que encobrem as duas paredes maiores, assumindo a sua forma original. Ozymandias, forma cadavérica, está sentado no seu trono. Todo o espaço à sua volta é formado por plantas que se contorcem e digladiam, sem deixar que os alicerces do edifício sejam abalados. Um tapete negro estende-se desde a entrada do salão do palácio até ao trono. Ao longo do tapete encontram-se seis figuras cobertas com longos mantos vermelhos. As faces invisíveis. As espadas embainhadas. O percurso até à figura tenebrosa sentada no trono parece ensombrado - tão longo e sinistro.
- Ao que vens, servo?
- Trago a meu senhor oferendas da cidade esquecida.
- Sou Ozymandias, rei dos reis, governo sobre tudo o que vês e mais além. Que me poderão dar que não seja já pertença minha?
- Senhor, mais a norte, na cidade em ruínas de onde venho, Ozymandias é um rei amado. Os seus gentis servos juntaram suas posses para lhe trazer estas ofertas.
Ele pousa no chão a manta que transportava às costas. Abre-a, e uma luz forte enche o espaço. O pequeno cofre doirado causa apreensão. As seis figuras negras que observavam em silêncio aproximam-se. Não parecem caminhar, apenas esvoaçam lentamente, cercando o servo.
- Abre o cofre – ordena o rei, na sua voz grave.
O servo obedece.
Com um leve toque a pequena caixa abre-se violentamente e parece ganhar vida. Gritos de horror são cuspidos. Todos os tormentos da existência estão ali contidos. Encerrados até eles próprios poderem ser o tormento do rei que não ouve ninguém. Uma mão enevoada agarra o servo pelo pescoço. Ergue-o, enquanto este tenta desesperadamente soltar-se, mas a mão que o sufoca não abandona a sua forma espírita.
- Levem-no.
Os mantos negros perfilam-se, prontos para obedecer à ordem reinante. O servo é levado. Passado alguns segundos Ozymandias encontra-se só. Começa a murmurar qualquer coisa imperceptível. Talvez em tempos não muito distantes ainda fosse capaz de se levantar do seu trono. Fora do seu palácio de plantas, teria visto a extensão de deserto a que chama reino. É, agora, não mais do que um corpo corrompido pelo peso da imortalidade. Sobreviveu, enlouquecendo, ao passar dos séculos. As suas carnes foram apodrecendo enquanto a sua mente definhava. O rei está sozinho. É o momento. Por detrás da enorme cortina de veludo, surge o velho. Aproxima-se de Ozymandias. O rei, prostrado, olha-o.
- O meu nome é Ozymandias, rei dos reis, mestre e prisioneiro das ideias sólidas para todo o sempre.
O velho dá um passo em direcção ao rei.
- Ao que vens, servo?
Mais um passo.
- Sou Ozymandias, rei dos reis, governo sobre tudo o que vês e mais além.
Dá um último passo. Leva na mão direita uma navalha. Num movimento forte, Ozymandias, rei dos reis, é degolado. O palácio estremece violentamente, as plantas que antes se contorciam, estão agora a mirrar, já fracas demais para lutar. Num último momento, todo o palácio acaba por se tornar meras ruínas disformes, até nada mais existir à volta do velho. O rei é deposto ao sabor d’A Navalha para a eternidade. Um novo rei ergue-se.
O seu reino é um deserto imenso.
[
um agradecimento ao buddy lee, leia-se J., pela ideia do conto. precisa de uma para um trabalho para um conto que tinha para fazer para uma cadeira, e como ando cheio de trabalhos e com poucas ideias, a ajuda de oh captain, my captain, J., para o tema da coisa foi preciosa.a frase que introduz o texto é do homem e, nas palavras do próprio, tem "direitos de autor".
Não me processes. I'll pay you back, someday.
P.S.: Aos sick and tired da tirnani joanina, desculpem os tão longos períodos de ausência a que tenho sujeito este blog.
]
P.
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OP8
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And the wind
Turns the skin
To Leather
Leather
J.
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A minha vida está uma confusão
há uns dias atrás estava a dar uma volta na blogosfera e deparo-me com o blog do Tomás Oliveira. O tomás está no quinto ano dos maristas, ironicamente na mesma escola onde andei, e devia estar tudo bem com ele, mas não: O Tomás tem um problema. Bem, não vos vou dizer qual é, mas deixem-me dizer-vos que é daqueles problemas do caneco. podem ler o seu blog aqui . provavelmente (muito provavelmente) este seu... digamos, projecto, tem a duração dos muitos outros que miúdos do quinto ano façam questão em encetar - o que equivale a dizer que, provavelmente, nunca mais se lembrou dele, nunca mais lá escreveu; ninguém, afinal de contas, tem no quinto ano assim tanto amor à escrita. O que é pena: sinceramente, gostava de saber como é que as coisas acabaram para o rapaz (esperando que a vida dele deixe de ficar a confusão que estava, é claro)
Como diria o P. , crutinis para todos,
J.
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Do presente imediato, só restam as memórias dos futuros que nunca iremos ter.
J.
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Je suis come je suis
Estava na zona das fotocópias, a escolher folhas e folhas de Relações Económicas internacionais, e todas as senhoras estão atarefadas. A que me estava a atender recebe uma qualquer tarefa prioritária e diz para a colega Essas folhas que estãi aí são para o menino giro que está ali!
e eu remato com esta que me sai sei lá de onde: Giro, eu? mas isso não faz nenhum sentido; estas calças não combinam com esta t-shirt.
Olhámos de repente os três uns para os outros. Elas tão horrorizadas quanto eu.
J.
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yes
mudo para a mtv entre dois bocejos e está a tocar o videoclip mais electrizante que eu já vi, wolfmother, com as próprias imagens da tv a rasgarem-se e um tipo com uma afro igual à do Cedric Bixler-Zavala a gritar You're a Woman You know What I mean. uáu. fico a ver até ao fim e mudo por acaso para a sic comédia porque está a dar o conan. Aparece o palco e a cara inconfundível do Mike Patton aparece no ecrã para tocar o novo single do seu também novo projecto, peeping Tom. Fico a ver mais três minutos e meio o senhor a gritar e sussurar, de boca a berta. Mas que se passa hoje com os canais de televisão?, pergunto, rather maravilhado. Para tirar de vez as teimas, mudo para a MCM. Está a dar justin Timberlake. Suspiro de alívio.
J.
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Das viagens.
Recentemente, tenho descoberto cds que tinha há uns anos em minha posse mas a que nunca tinha prestado a mínima atenção antes. Nick Drake, Paris, Texas, por exemplo, só para citar alguns. E redescobri outros, como o Nashville, de Josh Rouse (sempre tinha sido mais um ouvinte do 1972). A descoberta (ou redescoberta) deste tipo de sons que me fazem dar graças por estar vivo, já que, cada um à sua maneira, me transportam para diferentes estados de espírito a que nunca tinha chegado – porque, justamente, nunca tinha ouvido nada que se parecesse – é devido ao facto de andar de carro.
Sou um apologista da teoria que cada música tem o seu momento. É impossível ouvir pop em certas alturas ou situações do dia, assim como me custa bastante ouvir Country em locais ou alturas que não sejam tremendamente específicos – não que não goste de country, gosto, simplesmente é um género mais específico de música para mim – o que me leva a chegar à conclusão que, provavelmente, gostarei de praticamente todos os estilos musicais, se encontrar momentos ou lugares propícios que me levem a vê-los com outros olhos. Foi isso que me levou a descobrir ou redescobrir estes 3 cds, só para dar o exemplo. As circunstâncias que levaram a isso? Comecei a andar de carro.
Adoro conduzir. Pensei que iria ter medo quando começasse a andar sozinho, sem ter um instrutor ou um progenitor ao meu lado, mas enganei-me redondamente – isto porque o meu pai fez um bom trabalho em encher-me de pânico e nervos cada vez que andava com ele, o que levou a que a primeira viagem de carro que fiz sozinho fosse um alívio, levando a que todas as outras fossem uma coisa natural. Gosto de andar de carro; gosto de acelerar enquanto mudo três mudanças, gosto de sentir o vento a bater-me no lado esquerdo da cara (pois, não tenho ar condicionado…) quando percorro a cidade, mas, acima de tudo, gosto do carro por ele ser, percebi-o há semanas, o único sítio neste mundo em que uma pessoa pode estar completamente sozinha – quando precise. Quando estamos a conduzir, nada nem ninguém nos pode afectar. É melhor do que estar fechado num quarto à chave já que existe sempre alguém que pode arrombar a porta, ou escondido num beco qualquer que leve alguém a encontrar-nos. É melhor do que se estar sozinho em casa pois o telefone sempre toca, ou um vizinho sempre pode eventualmente bater à porta. No carro, nada disso acontece. O carro é o instrumento de fuga por excelência. Quando arrancamos para o desconhecido de caminhos que nunca percorremos, se nunca pararmos (se nunca batermos, é claro) ninguém nos pode apanhar, dizer o que quer que seja, abrir a porta e entrar. O carro é uma barca, um vessel, se quiserem, que nos torna completamente impermeáveis ao resto do mundo – nada do que se passa lá fora nos pode, de maneira alguma, afectar, enquanto não pararmos. Isso leva a que o carro seja o instrumento de fuga por excelência, não apenas da fuga física, mas da fuga das pessoas que fogem de si mesmas, ou dos seus problemas, ou da sua consciência. Como tal, o carro, como lugar introspectivo que é, cria um ambiente muito próprio, que leva, também, a que se ouçam (quando tal se suporta, muitas vezes só quero ouvir o silêncio do motor e da estrada à minha volta) a que se ouça música que, normalmente, não ouviríamos em mais nenhum lugar. Isso leva-me aos cds de que falei. Conduzo muito ao fim da tarde, já no crepúsculo, e à noite, por volta das dez horas – raramente conduzo a qualquer outra hora do dia, embora isso, mais cedo ou mais tarde, esteja fadado a mudar. Como tal, o estado de espírito em que uma pessoa entra muda. É o crepúsculo, dusk, sendo a palavra em inglês muito mais bela e específica, penso, e é nessas alturas em que uma pessoa, normalmente, ou pena no dia, ou na vida, ou não quer justamente pensar em nada. E foi assim um dia em que eu descobri o Pink Moon e o Paris, Texas. Do nada, levei, em dias diferentes, esses cds para o carro, porque sentia que iria ser ali que finalmente os iria descobrir. Tinha ouvido o Pink Moon umas duas ou três vezes, do Nick Drake, e não tinha percebido o culto, o hype. Do Made to Love Magic também só tinha gostado de duas ou três músicas, as outras não me ficaram na cabeça. Copiaram-me o Pink Moon para ver se gostava, mas passou-me ao lado. Guardei-o, e ouvi-o raramente, nunca me dizendo nada.
O caso do Paris, Texas, do Ry Cooder, ainda foi mais radical. Tenho esse cd desde que nasci, os meus pais compraram-no depois de terem visto o filme com o mesmo nome (o que me surpreende, já que os meus pais nunca ouvem música, nunca mesmo). Ouvi-o pela primeira vez aos oito, pu-lo de lado. E isso acontece1u de novo aos treze, aos catorze, aos dezasseis, aos dezassete, e aos dezoito. Nunca o tinha conseguido perceber, nem mesmo depois de um certo artista me ter dito que era genial. Ambos os cds, só os percebi quando os pus no leitor de cds do meu carro, quando voltava de Benfica, às dez da noite. A música despida de Nick Drake é fantástica, e é o álbum mais bleak que já ouvi até hoje (mais uma vez, peço desculpa por não ter encontrado uma expressão em português que traduza a ideia específica que quero passar do álbum). A voz é levemente rouca, a guitarra dedilhada por um homem à beira do suicídio – que, de facto, aconteceu meses depois. Parecia que ele sabia que não voltaria a compor mais nenhuma música, a tocar mais nenhuma música. Essa sensação transparece horrivelmente. São as últimas músicas da vida dele, e ele sabe-o. Dura vinte e oito minutos, o álbum, mas é uma autêntica viagem. Quando acaba, desejamos apenas o silêncio – porque depois dessas músicas, só o silêncio se pode ouvir sem magoar o nosso espírito, vítima de outras melodias impróprias.
E paris, Texas, é o álbum por excelência do condutor solitário. É só uma guitarra tocada a partir do deserto americano – sente-se isso à distância. Ninguém canta, no álbum, só há um curto diálogo na penúltima música entre um homem e uma mulher (que me inspirou a fazer o mui mau texto she’s leaving the bank. É mau. Eu sei do que estou a falar). Tenho a certeza que o filme se passa no deserto, não preciso de o ver para o saber. A música diz-me isso. O deserto é só, há uma fita de estrada que se estende a perder de vista, e, estou certo, quem a percorre enceta uma viagem shamânica ao interior de si próprio. É só uma guitarra, que dá passo à viagem, ainda curta, que qualquer um faça, de tarde ou de noite.
Em conclusão, não só há músicas específicas para cada momento único das nossas vidas, como ambos são irrepetíveis. Ninguém me pode tirar o que sinto quando retorno a casa, sabendo que vou acabar uma travessia, sabendo que estou fora do mundo durante mais cinco, dez minutos, e que nada nem ninguém me pode afectar. E ninguém me pode também tirar a alegria que é ouvir josh rouse, o Nashville ou o Subtítulo, de manhã solarenga, no verão que já está aqui à porta, com amigos para a praia ou qualquer coisa assim parecida. Os momentos nem sempre somos nós que o fazemos – e eles, tal como as músicas, nem sempre são descobertos por nós – ao invés disso, muitas vezes são eles que nos descobrem.
J.
(P.S. – Sim, já tenho carro. Sem rádio, mas já tenho carro).
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Mais outra !
A música da Olivia com o 50 cent... a best friend? deliciosa,é só o que vos digo, deliciosa - e não me consumam demasiado, ouçam-na e depois gozem.
Sim; talvez sejamos apenas peregrinos
J.
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